
Em algum ponto, o sexo feminino encontrou uma maneira particular para se livrar da inconveniência e a usou sistematicamente ao longo das eras: o envenenamento — um método de homicídio usado para acabar com um casamento infeliz, com um filho ilegítimo ou com rivais diversos.
No século 5 a.C, o veneno foi amigo íntimo da rainha persa Parisátide. Ao mesmo tempo, na Índia, “mulheres libidinosas” e envenenadoras de maridos teriam instigado a criação do Sati. Mais recentemente, na história, casos de muita repercussão chocaram e inspiraram o imaginário popular.
No século 17, mortes misteriosas de vários membros da nobreza francesa se sucederam uma após a outra, levando a um escândalo que ficou conhecido como “L’Affaire des poisons”, que envolveu indivíduos proeminentes da corte de Luís XIV, sendo as marquesas de Brinvilliers e de Montespan os exemplos mais notórios. Já a italiana Giulia Tofana criou e comercializou o próprio veneno a mulheres que desejavam se livrar dos maridos. Tal prática feminina — envenenamento em massa de cônjuges, parentes ou terceiros — perdurou pelos duzentos anos seguintes, e culminou com o arrepiante caso das criadoras de anjos de Nagyrév — horda de serial killers mulheres que durante décadas envenenaram centenas de pessoas.
No Brasil, o caso Deise dos Anjos tem repercutido no noticiário. A gaúcha usou arsênio — um dos venenos preferidos das assassinas a partir do século 17 — para matar quem cruzasse o seu caminho. Até o momento, quatro mortes foram confirmadas, e este número pode subir.
O perfil de Deise lembra as envenenadoras de Nagyrév, que matavam por qualquer motivo, incluindo desentendimentos familiares. Deise também se encaixa no perfil geral da assassina em série: histórico de vida mundano, veneno é a principal arma, e quase todas assassinaram pessoas conhecidas. “Ela não foi descoberta durante muito tempo”, disse a delegada do caso. Em média, serial killers mulheres conseguem evitar a prisão pelo dobro de tempo dos homens.
O tempo pode passar, mas no caso das assassinas em série, elas fielmente tem mantido em riste sua invisível arma da morte: o veneno.
Referências: [1] BANERJEE, P. (2000). Hard to swallow: women, poison, and Hindu widowburning, 1500–1700. Continuity and Change, 15(2), 187–207; [2] Benedetta F. Duramy. Women and Poisons in 17th Century France, 87 Chi.-Kent L. Rev. 347 (2012); [3] Harrison et al. (2015). Female serial killers in the United States: means, motives, and makings. The Journal of Forensic Psychiatry & Psychology, 26(3), 383–406; [4] Bolo envenenado foi feito para família após amigas de sogra desmarcarem encontro, diz polícia. CNN. 11 jan. 2025; [5] Bolo com arsênio: serial killer do RS pode ter envenenado pai, marido e filho, diz polícia. NSC Total. 12 jan. 2025; [6] ‘Manipuladora’, ‘fria’, ‘dissimulada’: polícia traça perfil de suspeita de envenenar bolo com arsênio no RS. G1 Globo. 11 jan. 2025.