9 anos do feminicídio de Özgecan Aslan

Pegar o ônibus sozinha para ir embora após um dia cansativo na universidade não era problema para a estudante de psicologia Özgecan Aslan, de 19 anos. O que de...

Pegar o ônibus sozinha para ir embora após um dia cansativo na universidade não era problema para a estudante de psicologia Özgecan Aslan, de 19 anos. O que de ruim poderia acontecer? Milhares de adolescentes e mulheres fazem isso todos os dias. Sabemos, entretanto, que o mundo é tudo, menos um lugar seguro. Na verdade, é um espaço perigoso, onde o ódio e a crueldade se camuflam sob sorrisos e apertos de mãos. Como não canso de escrever, a maldade se esconde sob a normalidade do cotidiano — neste caso, debaixo de um uniforme de transporte.

Özgecan Aslan normalmente ia embora para casa após a aula, mas no dia 11 de fevereiro de 2015 decidiu ir até um shopping para se divertir com uma amiga. Elas caminharam pelos corredores, compraram sorvetes, bisbilhotaram as inúmeras vitrines e até experimentaram algumas peças de roupas. As amigas nem viram o tempo passar e, quando saíram, perceberam que já era noite. Aslan se despediu da amiga e pegou o último micro-ônibus até Mersin, sul da Turquia, onde morava. Ela estudava em Tarso e a viagem entre as duas cidades durava algumas horas.

Esta foi a última viagem de Özgecan Aslan.

Sendo a única passageira do micro-ônibus, em dado momento, Aslan percebeu que o motorista desviou-se por uma estrada deserta. Aslan não sabia, mas ele estava de olho nela e aproveitou que não havia mais ninguém no ônibus para fazer o seu movimento. Viver em um país feminicida fez Aslan estar preparada. Ela estava impotente, mas quando o momento chegou, Aslan usou um spray de pimenta para parar o agressor. O motorista tentou estuprá-la, mas ela o enfrentou. Enfurecido com a resistência de Aslan, o facínora a matou com vários golpes na cabeça com uma barra de ferro.

Após o ato monstruoso, ele pediu ajuda ao papai e a um amigo. Os três homens foram filmados comprando gasolina. O corpo de Aslan foi queimado além do reconhecimento e jogado em um rio. Nenhuma evidência de agressão sexual foi encontrada, mas o DNA do assassino estava sob as unhas da vítima.

O caso ultrajou os turcos e protestos espalharam-se por todo o país, chegando até o vizinho Azerbaijão.

Na noite de hoje, completam-se nove anos do feminicídio de Özgecan Aslan.

Referências: [1] Brutal slaying leads to protests over violence against women in Turkey. Los Angeles Times. 14 fev. 2015; [2] Gülben Ergen’den ülkücüleri kızdıran mesaj. Cumhuriyet. 16 fev. 2015; [3] Rape and murder of young woman sparks mass Twitter protest in Turkey. The Guardian. 17 fev. 2015; [4] Özgecan’ın otopsi raporu açıklandı!. Dunya Gazete. 22 fev. 2015; [5] Özgecan’ın katili Altındöken’in cenazesi için mezar bulundu. Hurriyet. 16 abr. 2016.

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Daniel Cruz
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"Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz." (Platão)
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