Bill Grundy, o Faustão britânico da década de 1970, estava desesperado em 1º de dezembro de 1976. O Queen apareceria em seu programa, mas uma dor de dente fez Freddie Mercury cancelar a ida. Na correria, a gravadora ofereceu ao apresentador uma de suas novas bandas, chamada Sex Pistols, que tocava um estilo novo, um tal de punk rock.
No estúdio ao vivo, Grundy fez piadinhas e desdenhou da visão antissistema do grupo. O que se seguiu foi uma enxurrada de palavrões e profanidades jamais ouvidas na TV inglesa. “A imundice e a fúria”, estampou na capa o The Mirror no dia seguinte. Grundy foi suspenso de seu programa e os Pistols viraram a banda mais asquerosa do mundo para os britânicos puritanos.
O resto é história.
SID VICIOUS
Dois meses após o incidente na TV, os Pistols demitiram o baixista Glen Matlock; ele era “bonzinho” demais. No lugar, colocaram um jovem delinquente, mas carismático, a pólvora perfeita para ultrajar ainda mais a sociedade britânica. Seu nome de guerra já dizia tudo: Sid Vicious.
Amigo do vocalista Johnny Rotten, Sid era ideal para a imagem da banda, um tipo kamikaze que transformaria o grupo em um show de horrores. Sid acreditava ser o punk sombrio, decadente e niilista. Ele nem sabia tocar baixo, e nem precisava. O staff dos Pistols esperava dele apenas um papel: chocar. Em uma turnê no Texas, Sid acertou o contrabaixo na cabeça de um fã, levou um soco na boca de outro e retalhou o corpo com uma navalha. Não satisfeito, insultou a plateia chamando-os de “bichas caipiras”.
Nesse meio tempo, Sid conheceu Nancy Spungen, uma jovem ainda mais perturbada e viciada. O apetite dela por autodestruição combinava e os dois se apaixonaram. Foi um relacionamento movido a sujeira, vômito, sangue, veias machucadas, gritos, apagões e violência.
Com o fim precoce da banda, Sid iniciou carreira solo. Nancy virou sua empresária. O casal se mudou para Nova Iorque, mas a vida errante cobrou o seu preço. Em 11 de outubro de 1978, após uma festa regrada a drogas, Nancy foi morta por um noiado Sid.
Ele ficou três meses preso e foi solto sob fiança. Na manhã seguinte à soltura, foi encontrado morto, se tornando uma vítima de seu próprio nome.
Em 1986, foi lançado Sid e Nancy, filme que conta a história dessa dupla explosiva. No papel de Sid, o sensacional Gary Oldman, cuja atuação rendeu elogios por parte da crítica, que o queria indicado ao Oscar. O filme foi citado pela revista Rolling Stone como o terceiro melhor filme da história a abordar o rock. Para quem gosta do Foo Fighters, o videoclipe da música Everlong é uma homenagem a Sid & Nancy. No vídeo, Sid, interpretado pelo vocalista Dave Grohl, defende Nancy (o baterista Taylor Hawkins) de demônios.
Referências: [1] Punk Rock Star Charged in Salying. Philadelphia Daily News. 13 de Out. 1978. Pág 3; [2] Punk rock musician charged with murder. Poughkeepsie Journal. 13 de Out. 1978. Pág. 26; [3] Indict Sid Vicious in killing. Daily News. 18 de Nov. 1978. Pág. JL3; [4] Sid Vicious Dies of Overdose. Newsday. 3 de Fev. 1979. Pág. 4; [5] Punk rock had brief vogue, then fizzled. The Journal News. 4 de Fev. 1979. Pág. 6B; [6] Sid and Nancy: an intriguing glimpse into a dysfunctional relationship. The Guardian; [7] It’s been 40 years since the death of Sex Pistol Sid Vicious – here’s his link to Swadlincote. Derby Telegraph; [8] Sid Vicious absolved in erratic documentary. Reuters.