O psicólogo Simon Baron-Cohen escreveu em um de seus livros que o comportamento humano nunca é mais do que 50% determinado pela genética. Assim, os geneticamente predispostos a um comportamento antissocial, por exemplo, não estão necessariamente destinados à maldade desde o nascer. Neste caso, observa Baron-Cohen, o ambiente tóxico na infância é um fator-chave nos casos de pessoas que se engajam em atos perversos.
Tal ideia, porém, não se aplica à Scarlett Jenkinson.
Caçula de quatro irmãos, Scarlett teve uma infância privilegiada, com pais amorosos e boa escola. Em suas redes sociais, ela postava selfies sorridentes e fotos de bichinhos fofos. Mas, internamente, a garota vivia em um mundo muito diferente.
Aos 12 anos, Scarlett começou a usar maquiagem gótica pesada, a abusar da maconha e assistir filmes sangrentos. Aos 13, fez uma lista de crianças da escola que gostaria de matar. Ela se autointitulou “a bruxa”, contou a amigos fazer parte do oculto e tentou atraí-los para realizar rituais satânicos. Aos 14, descobriu a dark web e passou a frequentar as chamadas salas vermelhas — locais onde vídeos de tortura e homicídios reais são transmitidos. Ela tinha fascinação pela morte e escreveu em um caderno os perfis detalhados dos mais famosos serial killers do mundo.
O jeito medonho de Scarlett espantou a garotada, mas não Eddie Ratcliffe, um rapaz com sérios problemas psicológicos que a conhecia desde os 11 anos. Sob influência dela, Eddie sucumbiria à selvageria.
No fim de 2022, Scarlett ficou obcecada com sua nova amiga, Brianna Ghey, uma garota transgênero de 16 anos. “Vamos matá-la apenas por diversão. Quero ver o horror puro em seu rosto e escutar seus gritos”, ela escreveu para Eddie.
O que se seguiu chocou os ingleses — atraída até um parque, Ghey foi brutalmente morta e mutilada pelos dois adolescentes de 15 anos.
Ao sentar-se com um psiquiatra, Scarlett imitou os trejeitos e o tom de voz de Jeffrey Dahmer, famoso serial killer americano. Como Dahmer, Scarlett disse ao médico ter matado para a vítima pertencer a ela eternamente.
E para sempre ficará Scarlett, mas atrás das grades. Ela e Eddie foram condenados à prisão perpétua.
Eddie Ratcliffe foi diagnosticado com autismo, mutismo seletivo e alto nível de ansiedade social. Pessoalmente, Ratcliffe mal abre a boca, mas virtualmente fala bastante. As trocas de mensagens entre ele e Scarlett revelaram um garoto transfóbico e Scarlett usou isso para convencê-lo a matar Brianna.
Scarlett foi o cérebro e escreveu em um papel um roteiro detalhado do assassinato, planejando até em ficar com os olhos da vítima, como “troféu”. Anteriormente, Scarlett já havia tentado matar Brianna envenenada. Devido ao bullying e preconceito, a vítima não tinha amigos, sendo citada como um “alvo fácil” por Scarlett.
Eddie foi um cúmplice voluntário, mas na hora H percebeu a monstruosidade de seu ato e entrou em pânico após desferir três ou quatro facadas na vítima. Scarlett, então, tomou a faca de caça do amigo e desferiu mais de 20 facadas em Brianna, chafurdando-se no sangue.
Um psiquiatra diagnosticou Scarlett com “uma forma severa de transtorno de conduta dissocial”. No julgamento, ocorrido no último mês, o juiz disse à Scarlett que ela matou Brianna porque simplesmente tinha o “profundo desejo de matar” alguém. Já Ratcliffe escutou do juiz que “o seu autismo não pode fornecer nenhuma desculpa real para a ofensa”.
Ambos, atualmente com 16 anos, foram condenados à prisão perpétua, com possibilidade de condicional após 20 anos.
Referências: [1] Biron-Cohen, Simon. Zero Degrees of Empathy. Penguin Books. 2012; [2] Eddie Ratcliffe insists he is still an ‘extra’ in Brianna Ghey’s murder: Teen killer refuses to budge on claims he was urinating behind a tree while Scarlett Jenkinson stabbed the schoolgirl 28 times. Daily Mail. 2 fev. 2024; [3] Teenagers jailed for ‘exceptionally brutal’ murder of Brianna Ghey. The Guardian. 2 fev. 2024; [4] Scarlett Jenkinson’s family say they’re ‘truly sorry’ after daughter killed Brianna Ghey. The Mirror. 2 fev. 2024; [5] Scarlett Jenkinson has ‘desire to kill again’ after drawing up ‘new kill list’. Liverpool Echo. 3 fev. 2024; [6] Brianna Ghey’s killer talked like serial killer Jeffrey Dahmer, reveals her psychiatrist. The Mirror. 4 fev. 2024; [7] Brianna Ghey, Scarlett Jenkinson and Eddie Ratcliffe’s minute-by-minute movements the day teen was murdered. Manchester Evening News. 4 fev. 2024; [8] Brianna Ghey killer Scarlett Jenkinson made ‘chilling’ jail brag and vile ‘threat’ for after release. The Mirror. 12 fev. 2024.