
Sem estudo, emprego, sobrevivendo de ajuda assistencial do governo e ele próprio um racista violento, o americano Jeff Hall encontrou nos grupos de ódio um alento para o seu fracasso pessoal. Em pouco tempo se tornou uma das principais lideranças da NSM, o maior grupo neonazista dos EUA, elegendo como inimigos negros e imigrantes — ou qualquer pessoa não branca.
Era necessário “garantir a existência do nosso povo e um futuro para as crianças brancas”, e Hall tomou esse papel para si. Seu filho Joseph tinha apenas 9 anos, mas já participava com o pai de vigílias na fronteira. Armado com uma pistola, a criança estava sendo preparada para matar imigrantes, caso um conflito entre brancos e não brancos eclodisse.
E o menino matou. Não imigrantes, mas o pai.
Em um dia de maio de 2011, Jeff Hall foi encontrado morto no sofá da própria casa, com um tiro na cabeça. O autor do crime? Joseph. Na época, muita gente imaginou a mesma coisa: o menino foi criado em torno do ódio. Colhemos o que plantamos. O caso parecia simples. Mas não era.
JOSEPH, 10 ANOS
Impulsivo e explosivo desde o nascimento, Joseph foi expulso de seis escolas por violência contra outras crianças: morder, arranhar, bater, chutar, dar cabeçadas e usar objetos afiados em tentativas de esfaqueamento. Em audiências de custódia, o pai contou sobre como o filho, com apenas dois anos, “estava sempre em modo de ataque. Atacava outras crianças e abusava de todos. Era indisciplinado e absolutamente impossível de controlar”.
Negligenciado desde o útero, Joseph nasceu em um lar desfigurado, cheio de brigas, sujeira e fome. Eventualmente, Jeff e a esposa, mãe de Joseph, se separaram e passaram a se acusar dos piores crimes possíveis. Jeff ficou com a guarda e a criança cresceu sob os cuidados da madrasta, Krista.
Então, aos 10 anos, o menino violento matou o pai. Ainda hoje, os motivos que o fizeram puxar o gatilho permanecem turvos. Ele assistiu a um episódio de Law & Order, onde uma criança mata o pai e não é presa; a vítima praticava violência doméstica; Joseph cresceu no ódio; e era mentiroso e perigoso.
Seja o que for, o preço de ter sido germinado na hostilidade foi alto — para pai e filho.
No julgamento, psiquiatras atestaram que Joseph sofria de TDAH, transtorno de estresse pós-traumático e transtorno de conduta. Para os especialistas, seu comportamento era consistente com o de uma criança que havia sofrido abuso sexual — supostamente cometido pelo padrasto, namorado da mãe.
Uma das teorias é que o menino foi instado pela madrasta, Krista, a matar o pai, já que Jeff a maltratava, psicologicamente e fisicamente, e mantinha casos com outras mulheres. Joseph adorava a madrasta e sabia, pelo comportamento agressivo do pai, que o casal se separaria. Entretanto, o que se sabe realmente é sobre o comportamento impulsivo e agressivo da criança desde cedo, além de ter um pai violento em casa, que batia em Krista e nos filhos.
Julgado como adulto, Joseph Hall foi condenado a um mínimo de 40 anos, com possibilidade de perpétua. A sentença, entretanto, foi apenas uma decisão técnica. Na prática, e pela idade, ele não pode passar mais do que 10 anos encarcerado.
Joseph Hall, atualmente com 23 anos, poderá ser solto ainda este ano ou no início de 2024.
Referências: [1] Neo-Nazi Father Is Killed; Son, 10, Steeped in Beliefs, Is Accused. New York Times. 10 mai. 2011; [2] Domesticity and Radicalism Clash in a Neo-Nazi Home. New York Times. 12 mai. 2011; [3] California Boy Comes to Trial in Killing of Neo-Nazi Father. New York Times. 28 out. 2012; [4] Judge Finds California Boy Responsible in the Killing of His Neo-Nazi Father. New York Times. 14 jan. 2013; [5] California boy who killed neo-Nazi dad at age 10 to hear fate. Reuters. 1 mar. 2013.