Nem todo indivíduo possuidor do rótulo assassino em série exibe as características clássicas da definição: sadismo, parafilia, propensão para a fantasia, narcisismo e compulsividade. Muito menos tem o desejo de matar. Encontraremos um bom exemplo na UTI do Hospital Good Samaritan, em Long Island, cuja exposição de um de seus funcionários em 1987 revelou ao mundo um tipo inseguro e frágil — mas assassino.
Em outubro daquele ano, um paciente de 73 anos recebeu a visita de um enfermeiro que lhe aplicou uma injeção. “Vou fazer você se sentir melhor”, disse o homem. Mas não foi isso o que aconteceu. Imediatamente o enfermo entrou em parada respiratória e, enquanto agonizava, viu o enfermeiro ir embora. Enquanto estava desacordado e à beira da morte, o paciente foi salvo pelo mesmo enfermeiro.
À equipe médica, o paciente disse ter começado a passar mal após receber a injeção de um “barbudo corpulento”. Uma amostra de urina revelou drogas não prescritas e uma investigação interna, apoiada pela descrição física do enfermeiro dada pela vítima, apontou para uma única pessoa: o supervisor da UTI, Richard Angelo, de 26 anos.
A polícia entrou no caso e Angelo rapidamente confessou algo chocante: ele injetava as drogas Pavulon e Anectina em pacientes idosos, colocando-os à beira da morte, apenas para ser o primeiro a chegar no leito e reanimá-los, ganhando assim o respeito de seus colegas, que poderiam enxergá-lo como herói. O problema é que em várias ocasiões ele errou ao calcular a dose.
Mais de 30 corpos de pessoas que morreram em seus plantões foram exumados e em sete deles o legista encontrou vestígios de Pavulon.
Em seu julgamento, especialistas da saúde mental disseram que Angelo era um indivíduo psicologicamente frágil que administrou as injeções para superar seu sentimento de inadequação. Ao ressuscitar suas vítimas, ele provaria sua competência como enfermeiro. Daniel Schwartz, psiquiatra que testemunhou para a defesa, revelou que o réu sofria de um transtorno dissociativo que lhe conferia “estranhas formas de separação da realidade”.
Após deliberar por uma semana, o júri decidiu que Angelo era culpado e o juiz o sentenciou a 61 anos de prisão.
O testemunho do psiquiatra e o trabalho dos advogados abalou a tese do MP e causou um curto-circuito na cabeça dos jurados, que durante uma semana digladiaram-se à portas fechadas. Houve um racha entre eles e, no fim, suas decisões não agradaram a nenhum dos lados — defesa ou acusação. Angelo foi considerado culpado de homicídio doloso em apenas dois casos. Nos restantes ele também foi considerado culpado, mas de acusações menos graves — homicídio culposo e homicídio por negligência criminosa. É importante observar que não foi possível performar uma autópsia completa na maioria dos corpos exumados devido ao estado de degradação.
Referências: [1] DA Criticizes Hospital. Newsday. 19 nov. 1987. Págs. 3, 30; [2] Lawyer: My ‘monster’ is not a murderer. Record-Journal. 7 dez. 1989. Pág. 25; [3] Angelo’s life under a microscope. Newsday. 9 dez. 1989. Págs. 3, 10; [4] The verdict on Angelo. Newsday. 15 dez. 1989. Págs. 3, 25.