Enfermeiros da Morte: quando profissionais da saúde matam

É difícil imaginar um lugar mais improvável para encontrar um assassino em série do que em uma enfermaria ou UTI infantil. E pensar na existência de profissionais da saúde...

É difícil imaginar um lugar mais improvável para encontrar um assassino em série do que em uma enfermaria ou UTI infantil. E pensar na existência de profissionais da saúde predadores gela a espinha, pois qualquer um de nós, em algum momento de nossas vidas, já esteve em um leito de hospital. Pior ainda é imaginar o seu bebê sendo cuidado por um deles.

“Confie em mim, sou uma enfermeira”, disse a britânica Lucy Letby quando a mãe de um bebê prematuro notou sangue saindo de sua boca. A prestativa enfermeira explicou que era apenas irritação devido ao tubo em sua garganta. Ela dispensou a mãe e a criança morreu horas depois.

O caso Letby foi notícia recentemente devido ao término de seu julgamento na Inglaterra. Esta mulher de 32 anos, funcionária na unidade neonatal de um hospital da cidade de Chester, assassinou sete bebês e tentou matar outros 10. Em um caso, ela tentou matar de uma só vez irmãos trigêmeos — dois morreram e o terceiro sobreviveu por milagre.

Pessoas que anseiam por atenção ou poder podem escolher a área da saúde como profissão. Para aqueles que são deformados e com propensão ao homicídio, o ambiente hospitalar é quase perfeito. A atmosfera de cuidado gera a percepção de que todos que estão ali são pessoas boas; há vítimas em potencial 24h que não podem falar, sequer imaginam das nefastas intenções do profissional. Bebês, idosos e até adultos podem sorrir para a assassina enquanto ela injeta uma dose letal de insulina em suas veias.

Nos casos de enfermeiros (de ambos os sexos) que matam pacientes um atrás do outro, poder e controle é o motivo mais frequente. Características comuns incluem eles estarem nos quartos onde ocorrem as mortes (mesmo fora do horário ou turno); “prever” aos colegas quando um paciente irá morrer; estar associado a incidentes suspeitos em diferentes instituições; permanecer por perto para observar as reações a um óbito; falsificar registros ou relatórios médicos. Eles tem necessidade de atenção e por estarem sempre nos turnos dos óbitos, acabam notados por colegas de trabalho — foi o que aconteceu com Lucy Letby.

Foi a sua incontrolável conduta homicida que indiretamente colocou um fim em seus crimes.

É possível que os crimes de Lucy Letby tenham sido motivados por um patológico desejo de atenção e simpatia. Em muitos casos de homicídios em série envolvendo profissionais da saúde, eles parecem motivados por atenção e solidariedade, em consequência do envolvimento direto nos óbitos de pacientes. Grosso modo, eles matam e choram para seus colegas para ganhar um abraço, pois supostamente estariam despedaçados pelo paciente que morreu sob seus cuidados. Mensagens a colegas de trabalho encontradas no celular de Letby indicam para esse ponto. De qualquer forma, existe uma complexa interação entre esses sentimentos depressivos e de baixa autoestima e transtornos de personalidade.

Em vários casos, tais indivíduos foram considerados altamente sádicos e narcisistas. Houve comentários sobre a Síndrome de Munchausen por Procuração estar envolvida. Nesse caso, e baseado em casos anteriores, os indivíduos buscam incessantemente o elogio de seus pares, seja conscientemente colocando um paciente à beira da morte, apenas para “salvá-lo” na frente de todos ao “descobrir” o problema, ou sendo elogiados pela perseverança e fortaleza diante da “má sorte” de estar sempre no plantão da ocorrência dos óbitos.

Referências: [1] Wolf et al. Nurses who murder or who are accused of murder. International Journal for Human Caring, 2019. DOI: 10.20467/1091-5710.23.1.51; [2] Yorker et al. Serial murder by healthcare professionals. Journal of Forensic Sciences. 2006. 51(6), 1362–1371; [3] ‘Trust me, I’m a nurse’: Why wasn’t Lucy Letby stopped as months of murder went by? The Guardian; [4] ‘Eu os matei porque não sou suficientemente boa’: as revelações do julgamento da enfermeira que assassinou 7 bebês. BBC Brasil.

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Daniel Cruz
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"Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz." (Platão)
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