Ed Kemper: gênio juvenil & homicida distorcido

Em outubro de 1964, um adolescente de 15 anos deu entrada no Atascadero — hospital da Califórnia para criminosos mentalmente instáveis. O garoto havia cometido um crime horrendo: assassinou...

Em outubro de 1964, um adolescente de 15 anos deu entrada no Atascadero — hospital da Califórnia para criminosos mentalmente instáveis. O garoto havia cometido um crime horrendo: assassinou os avós a sangue frio. Jovem e perturbado, as autoridades decidiram que ele devia ser internado para tratamento compulsório.

Diante da equipe médica, o rapaz apresentou-se muito agitado, ansioso e preocupado. Tinha necessidade extrema de falar sobre si. Antes de matar os avós, ele mostrou inúmeras indicações de que era desarranjado e portador de impulsos autodestrutivos. A característica mais notável de perturbação era seu comportamento homicida contra gatos na infância. Ao chegar no Atascadero, ele estava dominado por sentimentos de fracasso, culpa, rejeição parental e morria de medo de sofrer um surto psicótico.

Nos anos seguintes, porém, sua condição mudaria da água para o vinho.

UM MODELO


O psicólogo Jack Vanasek tinha particular interesse no garoto porque ele o intrigava. O menino tinha QI de gênio e se adaptou tão bem à rotina do hospital, que foi colocado para trabalhar no laboratório de psicologia. Lá, ele chegou ao ponto de avaliar outros pacientes, aplicando diversos testes psicológicos, pontuando-os e interpretando-os. O rapaz até propôs mudanças, o que impressionou Vanasek, pois o tipo de insight que ele tinha parecia o de um acadêmico e não o de um adolescente homicida amalucado.

Vanasek o considerava um trabalhador brilhante e isso não era o tipo de coisa a se esperar de um psicopata — diagnóstico pelo qual ele era tratado no Atascadero. Estaria ele deixando para trás seu passado sombrio?

Nada disso. Dentro da concha havia pensamentos sexuais macabros envolvendo homicídio, decapitação e canibalismo. Tamanha era sua luxúria com tais fantasias que ele adentrava em um estado de transe ao imaginá-las. Isso, claro, ele escondia dos médicos.

E essa sua habilidade de ser duas caras o ajudou a sair do hospital aos 21 anos. O resto é história, literalmente.

Lidando diretamente com maníacos sexuais, pedófilos e assassinos, aplicando testes psicológicos neles, pontuando-os e interpretando-os, Edmund Kemper, um sujeito de inteligência rara, aprendeu como ninguém sobre o comportamento humano violento e usou isso a seu favor. Vanasek ficou intrigado porque um psicopata tende a trabalhar duro apenas para atingir seus próprios objetivos. Já Kemper era entusiasmado no que fazia e passava o dia inteiro imerso em seu trabalho no laboratório de psicologia, e chegou a propor mudanças em uma das escalas do Inventário Multifásico Minnesota de Personalidade. Talvez isso tenha sido uma coincidência, pois se há algo correto sobre Kemper é que ele adorava observar o comportamento das pessoas. Era assim que ele conseguia manipulá-las, aprendendo sobre elas e usando técnicas pessoais para enganá-las. Era detalhista ao extremo e isso pode ser visto nas entrevistas dadas por ele.

O sistema judicial da Califórnia, claro, falhou feio ao libertar alguém como ele, mas seu caso não foi o único na época (e ainda hoje). Após sair do Atascadero, Kemper cometeu crimes hediondos, ceifando a vida de oito pessoas, incluindo a própria mãe.

Ao escrever que o “resto é história, literalmente”, Kemper, de fato, é a própria história do crime e um dos responsáveis pela mania true crime deste século. Se o leitor é um entusiasta do tema ou até mesmo um profissional da área que estudou após se interessar por histórias criminais, Kemper tem tudo a ver com isso, pois grande parte do conhecimento sobre a psicologia dos assassinos em série e perfil criminal veio exatamente de Edmund Kemper.

Nos anos 1970, Kemper foi a principal fonte de estudo dos agentes (J. Douglas, R. Ressler e cia.) da Unidade de Ciências do Comportamento do FBI. Tagarela, ele adorava conversar com os agentes e forneceu insights preciosos sobre o funcionamento da mente de um assassino em série. Posteriormente, os mesmos agentes publicaram livros sobre suas experiências e pesquisas, que por sua vez serviram de inspiração para séries de TV e filmes, como O Silêncio dos Inocentes, gerando mais e mais conteúdo digital, publicações literárias e obras audiovisuais a respeito. O true crime hoje e o interesse pelo estudo do comportamento humano violento é uma verdadeira mania, comprovada pelo sem número de séries e documentários sobre o tema.

Referências: [1] Cheney, M. The Co-Ed Killer: A Study of the Murders, Mutilations, and Matricide of Edmund Kemper. Goodreads Press. 1976; [2] Angry youth, 15, kills grandparents in Madera. The Sacramento Bee. 28 ago. 1964. Pág. 2; [3] Grandson ‘upset’ kills two. The San Francisco Examiner. 29 ago. 1964. Pág. 6; [4] Records show state’s penal system tragically mishandled Kemper case. The Sacramento Bee. 28 abr. 1973. Pág. 16; [5] Never meant to blow up bodies, Kemper testifies. Greeley Daily Tribune. 3 nov. 1973. Pág. 13.

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Daniel Cruz
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"Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz." (Platão)
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