Celebridades Assassinadas: Sam Cooke — Álcool & Luxúria

Quando policiais foram chamados na madrugada de 11 de dezembro de 1964 até um motel decadente no centro-sul de Los Angeles, a visão que os esperava não os surpreendeu...

Quando policiais foram chamados na madrugada de 11 de dezembro de 1964 até um motel decadente no centro-sul de Los Angeles, a visão que os esperava não os surpreendeu nem um pouco. Havia um corpo ensanguentado encostado na porta da gerente do motel. Eles deram de ombros. Numa época de puro racismo, era apenas outro negro assassinado em uma espelunca frequentada por prostitutas, traficantes e viciados.

A ficha só caiu horas depois quando o corpo foi identificado. Do desdém veio o choque.

A vítima era Sam Cooke, 33 anos, a primeira megaestrela da soul music, o homem que ajudou Aretha Franklin, inspirou Marvin Gaye e abriu as portas para Stevie Wonder, Al Green e James Brown, para citar alguns. Resumindo: um dos maiores cantores de todos os tempos e de importância colossal para a música negra.

Ninguém entendeu nada. Como uma das vozes mais celestiais da música encontrou um fim tão infernal?

REI DO SOUL


Resumir Cooke, o músico, em algumas linhas é um ultraje. Depois de passar anos cantando gospel, Sam aderiu à música pop e em 1957 atingiu o topo com “You Send Me”, estrondoso sucesso que o deixou milionário. Nos sete anos seguintes, ele colocou incríveis 37 músicas nas paradas de sucesso, incluindo “Cupid” e “Chain Gang”. Mesmo as músicas mais simples, Sam tingia-as com a sensualidade do rhythm & blues e as valorizava com sua excepcional técnica vocal. Bonito e charmoso, tinha uma marcante presença de palco e sabia como envolver o público feminino que lotava seus shows. Em uma época de tensão racial, ele flertava com cada dama e senhorita sem que isso parecesse ofensivo.

E por falar em mulheres, o apetite do astro por elas se provaria fatal.

CONFUSÃO NO MOTEL


Na noite de sua morte, Sam levou uma jovem que conheceu na noite até um motel contra a vontade dela. A moça conseguiu fugir do quarto. Sam, nervoso e bêbado, foi atrás e invadiu a sala da gerente, Bertha Franklin. Os dois começaram a brigar e Bertha o matou com um tiro no peito.

Sam Cooke, o humano, teve um fim patético. Já Sam Cooke, a celebridade, foi considerada pela revista Rolling Stone como a 4º maior voz de todos os tempos, atrás apenas de Aretha Franklin, Ray Charles e Elvis Presley.

Letrado em vários assuntos, pensador analítico, com uma personalidade magnética e, principalmente, famoso, o cantor Sam Cooke não tinha dificuldades em conseguir companhia, mesmo sendo casado. Sam nunca escondeu de ninguém o seu apetite por mulheres e Aretha Franklin foi uma das milhares apaixonadas por ele. No caso de Aretha, acompanhando-o em turnês, ela descobriu rapidamente que devia procurar o amor em outro lugar.

Muitos se recusaram a acreditar na história do seu homicídio: o astro Cooke assassinado em um motel de três dólares? Surgiram teorias e histórias de que Cooke, devido à sua atuação na luta dos direitos civis, foi atraído até a morte por uma grande conspiração envolvendo o governo. Tal ideia é sustentada em um documentário da Netflix. Mas, como é comum em homicídios envolvendo celebridades, a maioria não enxerga o óbvio: a estrela Cooke era, afinal de contas, humana — um homem jovem, famoso e mulherengo que traía a esposa, deixando ela e os filhos em casa para se divertir em noitadas regradas a álcool e sexo, escolhendo um motel decadente na parte suja da cidade, porque, talvez ali, ninguém o reconhecesse.

Sua escolha não poderia ter sido pior. Frequentado pelos tipos mais horríveis e violentos, o lugar deu à gerente Bertha Franklin a resiliência e violência necessárias para lidar com homens agressivos. A mulher mantinha uma arma ao alcance das mãos para se defender de qualquer machão atrevido ou bêbado. Calhou dela atirar e matar Sam Cooke, para alguns, o “homem que inventou o soul”.

Referências: [1] ReMastered: As Duas Mortes de Sam Cooke. Netflix. 2019; [2] Wolff, Daniel. You Send Me: The Life and Times of Sam Cooke. Quill. 1996; [3] Singer Sam Cooke slain by woman motel owner. The Boston Globe. 12 dez. 1964. Página 3; [4] Singer Sam Cooke shot to death. The Tribune. 12 dez. 1964. Página 5; [5] ‘Story’ demands a listen. Honolulu Star-Bulletin. 3 fev. 1995. Página B-5; [6] Author describes captivating life of Sam Cooke. The Times. 29 mar. 1995. Página 5D; [7] A clearer vision. The Guardian; [8] Why Mystery Still Shrouds Singer Sam Cooke’s Shooting Death Nearly 60 Years Later. People.

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Daniel Cruz
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"Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz." (Platão)
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