Se o universo estivesse acabando, a música de Tupac Shakur e Notorious BIG poderia ser a trilha sonora do fim do mundo. O duplo homicídio marcou o fim da era de ouro do rap e transformou as vítimas em lendas da música. Eles não ganharam nada com suas mortes, mas o mundo sim. Suas histórias e carreiras ajudaram na disseminação da cultura hip-hop no mundo. Quando olhamos para os rappers suecos, por exemplo, eles são uma cópia escancarada dos ianques — os trejeitos, a vestimenta, a apologia às armas, cigarros, mulheres, a pose de mau etc.
Um país e uma cultura completamente diferente, a Suécia viu seus jovens incorporarem o hip-hop americano ainda nos anos 1980, mas o que ninguém imaginou é que na terceira década do século XXI a coisa descambaria para um tipo de gangsta rap que faria o mundo lembrar da famigerada dupla Tupac-BIG.
EINÁR
Um dos principais astros do país, Einár foi o cantor mais ouvido do Spotify sueco em 2019, e no ano seguinte venceu em duas categorias do Grammis, a mais importante premiação musical da Suécia. O garoto de 19 anos estava no topo, uma ascensão meteórica na carreira, mas atrás dos likes do Instagram e milhões de visualizações no YouTube, as coisas estavam pesadas.
Como Tupac-BIG, o garoto andava com gangues e criminosos. O sucesso do branquelo metido a valentão chamou a atenção de rappers do gueto, e um deles planejou e executou um plano para ensinar boas maneiras ao garoto modinha. Como Tupac em 1994, Einár foi atraído até um estúdio e lá seus inimigos o sequestraram. O rapper foi torturado, espancado e sodomizado. Tudo foi gravado para compartilhamento nas redes sociais. Foi uma humilhação pública e um recado.
Libertado, as coisas poderiam ter terminado ali. Mas não é assim que funciona no gangsta rap.
Em 21 de outubro de 2021, Einár foi assassinado com 12 tiros na porta do seu prédio. Antes mesmo da chegada da ambulância, vídeos de seu corpo ensanguentado estirado ao chão já circulavam nas redes sociais. Uma foto mostra pessoas feito abutres em volta da vítima, com seus celulares apontados para o corpo imóvel.
“A arte existe para que a realidade não nos destrua”, escreveu Nietzsche.
Não foi o caso de Einár.
O homicídio do rapper Einár foi a grande história da Suécia em 2021. Desacostumados com esse tipo de crime, a nação ficou chocada com tamanha violência no lado rico da capital Estocolmo. Einár era muito popular e o maior artista de rap sueco, tendo superado gigantes da música internacional, como Ed Sheeran, nas paradas do país. O garoto, entretanto, não tinha nada de santo. Na noite de sua morte, Einár estava acompanhado do aspirante a rapper Dumlee, afiliado da gangue Death Patrol e estuprador condenado pela justiça. Dias antes, Einár estava em um restaurante chique de Estocolmo com um grupo que esfaqueou outro jovem.
Sobre o seu sequestro e posterior soltura, a ocorrência foi grande sensação no país escandinavo. Por envolver um rapper branco, o circo midiático logo foi montado, o que aumentou ainda mais o interesse pelo hip-hop. A investigação policial apontou os famosos rappers Hava Khalil (artista revelação do ano em 2021) e Yasin como mandantes e executores, com os dois participando diretamente da tortura e abuso sexual de Einár. Khalil e Yasin são ligados à gangue Vårbynätverket, cujo fundador e líder, o marroquino Chihab Lamouri, é um Senhor do crime na Suécia. Os dois cantores foram presos e condenados pelo sequestro. O homicídio de Einár, entretanto, continua sem solução.
Atualmente, o hip-hop é o estilo musical mais popular da Suécia.
Referência: Cruz, Daniel; Santana, Marcus. 101 Crimes Notórios e Horripilantes de 2021 (Páginas 489-495). OAV Crime. Edição do Kindle.