Quando uma mulher chamada Shannan Gilbert desapareceu na região de Long Island, Nova York, em 2010, nem mesmo o mais criativo dos roteiristas de cinema poderia imaginar o que viria a seguir.
Em sua busca, a polícia encontrou os restos mortais de 11 pessoas em uma faixa de terra ao longo da Ocean Parkway, uma rodovia que corta o estado. Os esqueletos estavam envoltos em sacos de aniagem e havia até um feto, indicando que uma das vítimas estava grávida. Elas foram identificadas como garotas de programa, muitas vistas pela última vez em Manhattan.
Ficou claro que havia um serial killer em Nova York e Long Island era o seu cemitério. As autoridades o chamaram de LISK — abreviação de Long Island Serial Killer.
O caso deixou as autoridades no limbo e capturou a atenção de todo o país. Documentários, livros e até um filme da Netflix foram produzidos. Nós do OAV Crime cobrimos o caso desde 2011, publicamos um dossiê, notícias e até um podcast sobre o misterioso assassino que para muitos nunca seria identificado. E fazia sentido. Os crimes só foram descobertos muitos anos depois de cometidos. Evidências? Apenas os ossos das vítimas envoltos em sacos de aniagem apodrecidos.
Mas como todo bom suspense, uma reviravolta aconteceu.
O ARQUITETO
Existe um roteiro clichê nos filmes sobre serial killers: o do homem erudito e bem sucedido que se descobre ser um predador de pessoas. Tal modelo foi inaugurado com Hannibal Lecter. Este personagem é o estereótipo do serial killer gênio do cinema que as pessoas aprenderam tanto a amar, e isto ajudou a criar o mito de que serial killers são inteligentes e bem sucedidos. O problema é que vez ou outra a realidade vem para corroborar essa ideia.
Rex Heuermann, 59, frequentou as melhores escolas (ele foi colega de classe do ator Billy Baldwin), formou-se em arquitetura e tem uma firma em Manhattan. Seus clientes incluem grandes empresas. É casado, tem filhos e mora em Massapequa Park, uma vila para ricaços em Long Island.
Hoje, 14 de julho de 2023, os americanos acordaram com uma notícia-bomba. LISK, o desconhecido serial que acredita-se ter matado mais de uma dezena de pessoas foi finalmente preso. Quem ele é?
Rex Heuermann.
ATUALIZAÇÃO: RESUMO DA COLETIVA
Como as autoridades chegaram até Rex Heuermann?
Evidências digitais incluem buscas do suspeito no Google por conteúdo sádico, pornografia infantil, imagens das vítimas e parentes. Ele era obcecado em pesquisar sobre o caso LISK: documentários, podcasts, notícias, histórias das vítimas e suas famílias. Ele usava nomes e emails falsos e múltiplas contas em aparelhos celular. Dados do celular de uma das vítimas mostraram que o aparelho permaneceu por um tempo em Massapequa Park, local onde mora o acusado. Em 10 de agosto de 2009, o aparelho parou de funcionar, e isso coincide com uma viagem de negócios para o exterior do acusado. Um dia após ele voltar, o aparelho voltou a funcionar.
Os celulares descartáveis que ele usava para ligar para os familiares das vítimas foram ligados a ele através do seu cartão de crédito e registros de uma torre que fica a poucos metros do escritório dele em Manhattan. Os mesmos aparelhos eram usados para contactar prostitutas do Craiglist e outros sites. Para registrar no sistema operacional, ele usava emails falsos. Como a polícia ligou esses emails a ele? O suspeito cometeu um erro grosseiro: do seu aparelho pessoal acessou um dos emails falsos, provavelmente para verificar a caixa de emails.
Investigando sua vida, a polícia descobriu que os desaparecimentos das vítimas coincidiam com viagens da esposa e filhos (isso foi previsto por mim no podcast que publicamos sobre o caso).
Ele conhecia uma das vítimas e foi visto com ela por uma amiga da vítima. A amiga descreveu o suspeito como sendo um “ogro”, “esquisito”, “1.9m a 2m”, “na casa dos 40”, dirigia um Chevrolet Avalanche. Investigando, a polícia descobriu que o suspeito tinha um Avalanche na época.
Finalmente, evidência de DNA. Um fio de cabelo encontrado no saco de aniagem de uma das vítimas é compatível 99,96% com o DNA do acusado. Em outros dois sacos de aniagem foram encontrados fios de cabelo de uma mulher, que descobriu-se pertencer à esposa do acusado.
Pelo divulgado na coletiva, ele usava celulares descartáveis com emails falsos para [1] contactar garotas de programa e outras mulheres para fins sexuais (e para matar); [2] para conduzir pesquisas relacionadas a sexo e prostituição, material violento, sádico e pornografia infantil; [3] fazer buscas online sobre a investigação das autoridades sobre seus crimes.
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