
No Halloween de 1975, uma bela garota de 15 anos chamada Martha Moxley foi violentamente assassinada numa das áreas mais exclusivas de todo continente americano. Greenwich, no estado do Connecticut, é um lugar onde ricaços vivem em gigantescas mansões de jardins exuberantes e frequentam clubes náuticos com suas mega lanchas. Violência ali só chegava pela TV. Até aquele dia.
O corpo da Martha foi encontrado debaixo de um pinheiro perto da casa onde morava com a família. Uma parte do seu escalpo foi arrancado e sua calça jeans estava puxada para baixo.
A arma do crime, um taco de golfe número 6 da marca Toney Penna, era o lembrete definitivo e assustador de que o assassino pertencia àquele lugar. Ele não era um cuspidor de fogo tipo Lázaro fugido de alguma prisão, mas sim um “sangue puro” como eles. A garota foi atingida com tanta força que o taco se partiu em quatro pedaços, apenas três dos quais foram encontrados. A parte do punho, que poderia conter as impressões digitais do perpetrador, jamais foi encontrada. Já o quarto pedaço, também sumido, foi usado como uma faca para apunhalar o pescoço da vítima.
Nesse mundo de aparências, ninguém dizia nada, mas à portas fechadas, damas e cavalheiros acreditavam firmemente que o assassino era provavelmente algum dos filhos de Rushton Skakel, um viúvo podre de rico com seis filhos indisciplinados e que vivia numa bela mansão cuidada por mordomos. Para piorar o falatório, a investigação policial provou que o taco de golfe usado para matar Martha vinha da coleção de Skakel.
Entretanto, e de forma estranha, a polícia nunca solucionou o caso. Tudo ficou por isso mesmo e ninguém sequer ousava comentar a respeito. Era como se nada tivesse acontecido.
Para muitos, não apenas o dinheiro, mas as ligações dos Skakel foram a chave para o silêncio. Em 1950, a irmã de Rushton, Ethel, se casou com ninguém menos que Robert Kennedy, ex-Senador e irmão do ex-presidente dos Estados Unidos John Kennedy. Os garotos Skakel faziam parte de uma das mais poderosas e influentes famílias americanas.
Nascer em berço de ouro confere muitos privilégios. Até mesmo o de assassinar sem pagar por isso.
Em 1991, Rushton Skakel, mais uma vez querendo limpar a barra dos filhões, contratou uma empresa privada de investigadores chamada Sutton Associates para investigar o assassinato da Martha. No acordo, a empresa assinou confidencialidade e concordou em nunca revelar nada do que eles descobrissem (a não ser se eles descobrissem que os garotos eram inocentes). A Sutton recebeu quase US$ 1 milhão pelo serviço e três anos depois forneceu o relatório de suas descobertas ao patriarca da família.
De acordo com os investigadores, era extremamente provável que Martha foi assassinada pelo quarto filho de Rushton, Michael, 15 anos na época. E também era muito provável que o garoto teve a ajuda do irmão Tommy, de 17, para arrastar o corpo da Martha até o pinheiro. Anos depois, no final de 1996, um jovem escritor contratado na época pela Sutton para redigir o relatório, indignado com a história e a injustiça, vazou o relatório para o escritor Dominick Dunne, que havia escrito um livro sobre o caso anos antes. Dominick repassou o relatório para um investigador de Greenwich, que nada fez. As autoridades só saíram da letargia quando a história veio à tona num livro-bomba do Mark Fuhrman em 1998. Ex-investigador de polícia, Fuhrman recebeu o relatório de Dominick e escreveu Murder in Greenwich (Assassinato em Greenwich), onde apontava Michael como autor do crime.
Vinte e cinco anos depois do crime, em 2000, Michael foi preso. Dois anos depois ele foi condenado a pelo menos 20 anos de prisão. “Vou escapar impune de um assassinato. Eu sou um Kennedy”, teria dito ele a um conhecido. Em 2013, porém, um juiz anulou o seu julgamento e com a ajuda da dinheirama da família Michael nunca mais voltou pra cadeia.
Em 2016, o primo de Michael, Robert Kennedy Jr., lançou um livro relatando como seu primo é inocente. Ele até identifica os assassinos da Martha — seriam dois adolescentes do Bronx, um negro e outro de raça mista (garotos negros e pobres, os bodes expiatórios perfeitos de brancos racistas ricos e alienados).
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