Atiradores de Escola e a Masculinidade Perdida

Um é o ídolo dos incels. O outro ídolo dos atiradores de escola. Elliot Rodger e Eric Harris compartilham mais do que a influência perversa vista em outros assassinos...

Um é o ídolo dos incels. O outro ídolo dos atiradores de escola. Elliot Rodger e Eric Harris compartilham mais do que a influência perversa vista em outros assassinos em massa jovens como eles. Dentre inúmeras semelhanças, eles têm o que podemos chamar de “falta de masculinidade”.

Logo após Columbine, pesquisadores se debruçaram sobre as raízes do ódio homicida encontrada em jovens como Harris. Em 2004, a socióloga Katherine Newman escreveu que atiradores de escola eram frustrados com a própria virilidade. Eles se apossariam da violência como uma forma de melhorarem seus status como homens. Empunhar uma arma e cometer violência seriam suas formas de criarem uma identidade de super macho.

Já o psicólogo Peter Langman citou que muitos atiradores de escola têm problemas com o próprio corpo. Quem já leu o manifesto de Eliot Rodger sabe que ele era extremamente complexado com a sua estatura. Ele se considerava baixo e isso o “arruinou” por toda vida. Todos os garotos eram maiores do que ele e ele até começou a jogar basquete numa tentativa de ficar maior. Além disso, ele era fisicamente fraco. Todos ao seu redor, incluindo crianças mais novas, pareciam ser maiores e mais fortes. Essa conexão, então, entre uma falta de masculinidade e o empoderamento por armas de fogo e violência é bastante nítida nele. Quando Rodger comprou uma arma, ele escreveu: “Agora estou armado, quem é o macho alfa agora, vadias?” A arma de fogo deu a ele a identidade que tanto procurava – a do macho alfa.

Já Eric Harris nasceu com o peito escavado. Como Rodger, ele se achava fisicamente fraco, tinha baixa autoestima e odiava sua aparência. “Eu sou fraco pra caralho”, ele escreveu em seu diário. Ele também tinha obsessão por coisas militares e o nazismo. A imagem militarista e super masculinizada dos nazistas era atraente a ele, que era baixo, tinha o peito afundado e se sentia fisicamente fraco. Se identificar com os nazistas foi uma maneira de ver a si mesmo como durão, alguém com quem ninguém devia se mexer, um super macho.

Sem pegar em armas de fogo, Harris era o garoto magrelo de peito afundado. Mas quando ele pegava em armas, se sentia o todo poderoso chefão.

Quando o Harris comprou a primeira arma de fogo, ele escreveu no diário dele que se sentia mais confiante, mais forte, uma espécie de Deus. Eliot Rodger e Eric Harris ilustram bem essa conexão entre masculinidade “perdida” e o empoderamento por armas de fogo (eles tinham outros complexos físicos também que os faziam acreditar ser “menos” homens – não dá pra citar tudo aqui…). Um terceiro exemplo de atirador de escola que eu poderia citar é o Adam Lanza. O Lanza não tinha o problema de altura do Rodger e do Harris, ele era um garoto bastante alto, mas ele era extremamente magro, com um aspecto até mesmo de doente. E a conexão entre uma inadequação física e aspirações em relação à ultramasculinidade pode ser vista no desejo do Lanza em se tornar militar. Ele era fisicamente fraco, socialmente inapto e emocionalmente vulnerável. Então, esse desejo do Lanza em se tornar militar nada mais seria do que uma necessidade psicológica em se ver como um homem forte, confiante e poderoso. Não à toa, o avatar que o Lanza usava na Internet era a de um soldado grande e musculoso vestido com roupas de camuflagem.

Obs.: Apesar do Rodger não ser um atirador de escola, eu citei ele aqui porque ele foi um jovem perturbado que cometeu assassinato em massa. Não é porque o indivíduo não atacou em uma escola que ele não sofra dos mesmos problemas que os atiradores de escola. Inclusive, sobre essa conexão masculinidade perdida/empoderamento por armas, podemos até citar assassinos em série. Um exemplo é o Robert Hansen, que era pequeno, tinha o rosto marcado pela acne e descobriu que podia ser um macho alfa quando pegava em armas para matar mulheres.

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Daniel Cruz
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