A crise na Ucrânia se arrasta há quase um ano e parece estar longe do fim. E na guerra de informações e opiniões que explodem todos os dias com objetivo de saber quem tem a razão, um fato insólito aconteceu: o filho sumido de um dos mais notórios e bestiais serial killers do século 20 (e que é ucraniano) tornou-se o foco da atenção dos meios de comunicação daquele país.
Yuri Miroshnichenko Chikatilo é filho de Andrei Romanovich Chikatilo, serial killer que confessou 56 assassinatos de crianças, adolescentes e mulheres entre 1978 e 1990. Em uma entrevista para um site nacionalista ucraniano, Yuri diz que:
“Meu pai era um nacionalista ucraniano, bom e gentil. Ele fazia parte da vida pública, muitas vezes publicando artigos em jornais de Rostov. Entre amigos, eu me lembro, ele discursava sobre a independência das repúblicas. Meu pai, de fato, pedia uma mudança no sistema.”
Realmente, Andrei Chikatilo levava uma vida dupla. Quando não estava mutilando suas vítimas, mastigando seus testículos ou úteros, era um membro bastante ativo do Partido Comunista. E tinha uma posição tão respeitada que ele chegou a pensar que poderia ser o Secretário Geral do partido. “Chernenko tornou-se o Secretário Geral. Ele não podia dizer duas palavras”, disse, resignado, o serial killer no documentário Meu Mundo Maravilhoso… sobre Konstantin Chernenko, chefe máximo da União Soviética entre 1984 e 1985. As palavras de Chikatilo provavelmente foram em alusão ao debilitado estado de saúde de Chernenko, que faleceu pouco mais de um ano depois de assumir o cargo. Sua debilitada saúde o impedia de fazer discursos longos, que não raramente eram encurtados devido às tosses e engasgos do chefe de estado.
Mas o fato é que o serial killer tinha uma posição de destaque dentro do partido e era um ferrenho defensor do comunismo. A fala de Yuri é corroborada pela vida pública de seu pai. Andrei era um homem muito culto, com várias graduações e seu conhecimento o levou a escrever para inúmeros jornais russos. Só que ele era um comunista fundamentalista, por isso, é pouco provável que Chikatilo discursasse sobre a independência das repúblicas soviéticas ou sobre uma mudança no sistema. Por outro lado, acontece que Andrei foi expulso do partido comunista no final de 1984, em um episódio relacionado à sua prisão por suspeita de ligação com assassinatos em Rostov. Ele se safou das suspeitas, mas a expulsão foi um duro golpe no homem que passou a vida defendendo os ideais comunistas. Assim, é bem possível que esse discurso de Chikatilo citado por Yuri tenha ocorrido após sua expulsão e após ele rever seus conceitos sobre o comunismo.
“De fato, ele pedia uma mudança no regime. Ele disse que se a Ucrânia fosse separada, que pelo menos vivesse como a Polônia, que o dinheiro tirado por Moscou também era errado. Sim, como um ucraniano, ele era um nacionalista, é verdade, embora tivesse sido do Partido Comunista por 30 anos.”.
[Yuri Chikatilo]
Yuri diz que se seu pai estivesse vivo, provavelmente eles estariam na praça de Maidan, em Kiev – palco de manifestações que mataram dezenas de pessoas desde Novembro passado -, em pé, juntos, ombro a ombro, defendendo a “opção européia e os valores da civilização.”
Yuri Chikatilo
Quem leu nosso post sobre Andrei Chikatilo viu que Yuri havia sido preso na Ucrânia em 2009 por tentativa de assassinato. Ele já havia estado na prisão em duas outras ocasiões e desde esta tentativa de assassinato, o filho de Andrei Chikatilo sumira. Até agora. Aparentemente ele foi solto e vive hoje no oeste da Ucrânia. No começo deste ano, a rede russa HTB produziu um documentário sobre Yuri.
No vídeo, Yuri é mostrado caminhando pela praça Maidan durante as manifestações. A cidade na qual ele vive atualmente, no oeste ucraniano, não é citada, mas Yuri diz que vive não muito longe de Lviv. O programa cita as duas vezes em que Yuri foi preso na Rússia, inclusive mostra imagens de época dele algemado, e da tentativa de assassinato na Ucrânia. O que ele faz atualmente não é relatado.
Na entrevista, Yuri diz que se separou da mulher e que não vê o seu filho porque a ex-esposa decidiu que seria melhor para a criança não saber quem é o pai, consequentemente não saber sobre o avô serial killer. Ele diz também que não fala com sua irmã Lyudmila, que aparentemente não quer saber de ter contato com o irmão problemático.
Yuri diz ainda que seu pai não foi um serial killer. Sua prisão e posterior execução teria ocorrido, segundo ele, devido às suas “ideias nacionalistas”.
Para um estudo mais aprofundado sobre um dos mais bestiais serial killers da história, Andrei Romanovich Chikatilo, leia os posts:
- Serial Killers: O Estripador da Floresta
- Documentário: Meu Mundo Maravilhoso ou Contra Chikatilo…
- Biografia: Andrei Chikatilo, o Açougueiro de Rostov
- Rostov: A capital mundial dos serial killers
- Alexander Bukhanovsksy, a lenda russa da psiquiatria
Documentário da rede russa HTB com Yuri Chikatilo
Agradecimentos a Elena Kopyonkina.
Universo DarkSide – os melhores livros sobre serial killers e psicopatas
Com informações: KP Russia
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