A noite finalmente chegou, e com ela caminha a sombra de um notório assassino serial. Pelos becos mal-iluminados de Miami, ele espreita aqueles que, em seu sistema moral, devem morrer. Ele é metódico, ele é organizado. E como muitos assassinos seriais, ele possui o seu ritual. Ninguém consegue escapar. Ele é um psicopata.
A palavra psicopata naturalmente tem um impacto em nossa mente. Muitos a associam a um louco varrido de olhos vermelhos e uma moto serra na mão. O psicólogo Kevin Dutton, da faculdade de Magdalen, Inglaterra, escreveu que: “… quando falamos de psicopatas, na verdade, estamos falando de pessoas que têm um conjunto distinto de características de personalidade, crueldade, coragem, tenacidade mental, charme, persuasão e, principalmente, eles têm uma falta de consciência e empatia.”
Sim, psicopatas não são aqueles que vemos nos filmes de terror. Eles acordam cedo, passam o dia no trabalho e, à noite, voltam para o aconchego do lar para dormir de conchinha com suas esposas. Eles possuem qualidades que, certamente, podem fazê-los ser os melhores em suas áreas de atuação. Um notório administrador de empresas, um médico brilhante, um empacotador de supermercado que nunca chegou atrasado ou, até mesmo, o melhor perito em manchas e respingos de sangue de um país. Mas é claro, se existem pessoas mais “propensas” a realizar uma matança no mercado, estes são nossos amigos psicopatas. Sim, provavelmente você deve ter um amigo psicopata. Segundo cálculos de Ronald Schouten, professor da universidade de Harvard e autor do livro “Almost a Psychopath“, 1% de toda população mundial é clinicamente psicopata. E cerca de 10 a 15% estão “quase” lá.
A maioria dos psicopatas não são assassinos, ao contrário, podem ser homens muito bem sucedidos em nossa sociedade. Eles são conhecidos como “psicopatas de sucesso” ou “psicopatas bem sucedidos“. Na outra mão, os poucos que cruzam a invisível linha para o assassinato, quando o fazem, deixam-nos de cabelos em pé, são os chamados “psicopatas prototípicos“. Ted Bundy, Jeffrey Dahmer e Andrei Chikatilo são exemplos sobre os quais, acreditem em mim, vocês não gostariam de saber. Entretanto, eles são muito raros. Devido à grande exposição que os prototípicos têm na mídia, criou-se uma falsa percepção de que psicopata é sempre um assassino ou serial killer que corta as cabeças de pessoas para enfeitar a estante de sua sala de estar. Eu nunca vi uma reportagem ou entrevista na TV com um psicopata de sucesso, vocês já?
O que dizer, então, de um psicopata que se enquadra nessas duas definições? Um psicopata de sucesso e prototípico? Acho que vocês têm um exemplo na ponta da língua para me dar. Ele pode ser fictício, mas e daí?
O mundo está extasiado com a oitava e última temporada da popular série Dexter. Sobre o que é Dexter? É sobre um psicopata, um homem admirado em seu trabalho, que de dia leva uma vida normal, mas à noite sai para caçar e matar pessoas, ou seja, é um psicopata e serial killer, o tal raro que citei. Serial killers sempre exerceram um grande fascínio nas pessoas, por isso não é à toa que esta última temporada de Dexter tem despertado um grande interesse em todos que acompanham o seriado (milhares em todo o mundo).
A Série
O problema com compulsões “mainstream”, tabagismo, alcoolismo, jogatina, promiscuidade, é que eles são autodestrutivos. Câncer, cirrose, falência financeira, aids. Talvez isso explique o por que da cultura pop ter um ponto fraco por serial killers. Homens inteligentes que não sentem remorso e não são pegos. Suas obsessões podem nos repelir, mas, por outro lado, apenas suas vítimas se machucam (e morrem).
Nós invejamos suas habilidades de escapar após perpetuarem seus mais sádicos impulsos. Mas existe também um traço de vaidade para esse fascínio. Temos a fantasia de sermos as únicas pessoas que podem entender e domar essa fera perigosa. É como se fôssemos Clarice Starling, em O Silêncio dos Inocentes, ou mesmo as dezenas de mulheres que propuseram casamento para homens como Ted Bundy e Richard Ramirez. Nós achamos que os entendemos.
Dexter Morgan, o “herói” da série Dexter do canal Showtime, é um desses inteligentes maníacos homicidas vindos do rastro de Richard III e Hannibal Lecter. Mas Dexter é um serial killer feito para a televisão e não para o cinema. Ele mata apenas pessoas que, em sua visão, merecem morrer. Durante o dia, ele trabalha como perito de respingos de sangue no laboratório forense do departamento de polícia de Miami, mas à noite…
A série é baseada no romance de Jeff Lindsay, Darkly Dreaming Dexter e, durante 7 temporadas, tatuou seu nome na escalada implacável da violência erotizada na TV. A série é uma espécie de “CSI avançado”. O mocinho é tão pervertido quanto os vilões, é um serial killer, um assassino sádico, um homem que não merece andar nas ruas, mas tudo bem, para os amantes da série, todos os seus atos são justificados, afinal, ele pratica a lei de um justiceiro, mata pedófilos, assassinos, pessoas que escaparam da justiça e estão soltas nas ruas. Dexter é uma espécie de “Desejo de Matar” para a geração Quentin Tarantino.
O que eu acho interessante é que a nossa cultura (não só a americana) rigorosamente censura nudez e sexo, mas não o sangue jorrado na tela. Pedaços de corpos estão em todos os lugares. Na internet, games, filmes de terror, no horário nobre da TV, com séries como CSI ou Bones. Na televisão, a ciência forense serve como uma capa protetora para mostrar pessoas esquartejadas em sacos plásticos. Dexter, na sua elegante cinematografia, junta música cubana com fetiche por desmembramento. É um pai e um assassino.
O ator Michael C. Hall interpreta habilmente Dexter. O personagem é reservado, agradável e encantador com aqueles que estão a sua volta. Mas isso tudo é uma máscara que ele veste para esconder suas reais intenções. Um psicopata em todos os sentidos. “As pessoas fingem um monte de interações humanas, mas eu sinto que finjo todas elas, e eu finjo muito bem”, diz ele na série.
Dexter é um serial killer metódico, planeja cada etapa do assassinato, e cada um é um espetáculo à parte. Como tantos outros serial killers da vida real, ele mantém seus troféus: uma gota de sangue da vítima em uma lâmina que é arquivada em uma caixa de madeira.
A violência é um vício da nossa sociedade e Dexter é só mais uma tentação. E admito, uma tentação impossível de se resistir. A série é um dos mais convincentes dramas da televisão nos últimos tempos. Está certo que perdeu um pouco do calor em algumas de suas temporadas, calor que foi recuperado com a sétima temporada. Nesta última, Dexter tem a chance de terminar com o padrão estabelecido pela série quando esta atingiu o seu auge. Estou certo de que o último capítulo de Dexter nos entregará uma conclusão gratificante e emocionante e, também, perturbadora e sanguinária, até porque foi isso que nos fez amar essa série.
A Psicologia de Dexter
Em 2010, um ótimo livro chamado The Psychology of Dexter (indispensável para os amantes da série) foi lançado. O livro foi escrito por vários especialistas em psicologia e criminologia e possui muitos tópicos interessantes, mas um tema em comum que vários autores discutiram é o porquê de pessoas “normais” terem tanto fascínio em assistir a um seriado de televisão sobre um psicopata serial killer. Existem várias possibilidades, mas uma das principais razões do sucesso do seriado é que o seu personagem principal nos dá uma amostra da raramente explorada e mal entendida mente de um psicopata.
Outro tema interessante discutido é: Seria Dexter um psicopata bem sucedido? Antes de responder a essa pergunta, veja o que alguns dos “mestres da mente” disseram sobre ele.
Nome: Joshua Gowin (@joshuagowin)
Formação: psicologia, pós-doutorado em neurociência
Área de estudo: neurociência
Obs.: Joshua escreve o blog You, Illuminated (Você, Iluminado)
Capítulo: no livro, escreve o capítulo “Malvado por Natureza, Dexter por Fabricação”
Trecho do capítulo: Quanto mais eu aprendo sobre psicopatia, agressividade e violência, mais isso se torna um mistério para mim. Por que as pessoas matam, e especialmente, como alguém pode fazê-lo sem remorso? Uma das coisas que eu acho fascinante sobre Dexter é o fato de que podemos ver tanto a natureza quanto o estímulo criado por um psicopata. Nós aprendemos sobre o seu passado familiar e o seu crescimento no programa, e isso nos dá um caso bem documentado do desenvolvimento de um assassino de sangue frio. Apesar da grossa quantidade de informações sobre Dexter, assim como na vida real, quanto mais o julgo, mais dúvidas são deixadas comigo.
Nome: Bella DePaulo (fb.com/bella.depaulo)
Formação: psicologia, doutorado em psicologia social pela Universidade de Harvard
Área de Estudo: psicologia social
Obs.: DePaullo escreve o blog Living Single (Vivendo Sozinho)
Capítulo: no livro, escreve o capítulo “Decepção: É a melhor coisa que Dexter faz (bem, a segunda melhor coisa)”
Trecho do capítulo: Por décadas, enquanto estudei a ilusão, pensei que já tinha analisado praticamente todos os tipos de variações do tema de viver uma mentira. Então, eu conheci Dexter. Como todos que estão vivendo uma mentira, Dexter está escondendo algo em quase todos os momentos de sua vida. Mas diferente da maioria, Dexter está fazendo isso com as duas mãos atadas às costas. (Não pude resistir a essa analogia). Como um psicopata (ou uma pessoa com tendências psicopatas), Dexter não consegue ler as pessoas sem muito esforço. Ele não tem um senso intuitivo da coisa certa a fazer ou a dizer. Então, ele está sempre estudando os outros para conseguir pistas de como ser, bem, humano. Para mim, isso não é apenas entretenimento barato, é totalmente envolvente, uma provocação deliciosa para os psicólogos de espírito.
Nome: Wind Goodfriend (fb.com/wind.goodfriend)
Formação: psicologia, pós-doutorado em psicologia social
Áreas de estudo: estereótipos e violência em relacionamentos
Obs.: Goodfriend é professora associada na Universidade de Buena Vista. Ela divide um capítulo com Chase Barrick, graduado no ano de 2010 em psicologia.
Capítulo: no livro, eles escrevem o capítulo “Além da Negação: Mecanismo de defesa freudiana nas mentes de Miami metro”
Trecho do capítulo: Sigmund Freud sugeriu que, quando temos ansiedade ou traumas em nossas vidas, nós lidamos com isso usando uma variedade de técnicas chamadas “mecanismos de defesa”. Todos os personagens em Dexter usam uma variedade de mecanismos de defesa, como negação, identificação e repressão. Talvez o mecanismo mais forte no próprio Dexter seja a justificação, quando ele diz a si mesmo que suas ações são, na verdade, para um bem maior. O que Freud diria sobre suas vidas, e como a vida de Dexter deve inevitavelmente acabar?
Nome: Nigel Barber
Formação: psicologia, pós-doutorado em biopsicologia
Área de Estudo: comportamento sexual e reprodutivo
Obs.: Barber escreve o blog The Human Beast (A Besta Humana). Ele divide um capítulo com o escritor David Barber-Callaghan.
Capítulo: no livro, eles escrevem o capítulo “Os tempestuosos relacionamentos de Rita”
Trecho do capítulo: Dexter Morgan é superficialmente charmoso, mas lhe falta profundidade emocional. Por exemplo, falta-lhe a violência, a raiva e o veneno de Paul, o ex-marido abusivo de Rita. Ainda assim, Dexter possui todos os critérios clínicos para um namorado abusivo. Os seus planos, friamente calculados, são psicologicamente abusivos. Quando mergulhamos no complexo desse problema, nós concluímos, para o horror dos seus admiradores, que Dexter é na verdade tão abusivo quanto Paul.
Nome: Tamara McClintock Greenberg (fb.com/tamara.m.greenberg)
Formação: psicologia, doutorado em psicologia clínica e pós-doutorado em psicofarmacologia clínica
Área de Estudo: psicologia da saúde, psicoterapia psicanalítica
Obs.: Tamara escreve o blog 21st Century Aging (O Envelhecimento no Século 21)
Capítulo: no livro, ela escreve o capítulo “Negação e Rita: Mulheres, poder, e ser pega”
Trecho do capítulo: Nós, mulheres, não somos feitas para sermos agressivas. À primeira vista, Rita, o amor de Dexter, durante a maior parte das primeiras quatro temporadas, parece um modelo de mulher bem comportada. Mas ao lançar a ela um olhar mais aprofundado, percebemos alguém lutando para conter seus próprios impulsos agressivos. Talvez Rita e Dexter não sejam tão diferentes quanto nós pensamos.
Nome: Paul Richard Wilson
Formação: psicologia, criminologia
Obs.: O australiano Paul Wilson tem especial interesse nas características dos serial killers, e naqueles que cometem genocídio. Autor de 24 livros, passou mais de 30 anos de sua vida estudando a natureza do mal, e hoje é dono da cadeira de criminologia na Universidade de Bond, Austrália.
Capítulo: no livro, ele escreve o capítulo “Por que Psicopatas Como Dexter Não São Assim Tão Ruins”
Trecho do capítulo: O que mais me fascina sobre Dexter e outros serial killers é que eles são muito menos assustadores do que as pessoas que cometeram os mais deploráveis crimes, como aqueles cometidos em Ruanda, Kosovo ou Camboja. Mesmo assim, a maioria das pessoas que mutilaram, estupraram e mataram pessoas nos genocídios que ocorreram nesses países, eram seres humanos completamente normais. Então, quem é mais perigoso? Pessoas comuns ou psicopatas como Dexter? Eu sei o que eu acho.
Nome: Richard Gerrig
Formação: psicologia, doutorado em psicologia cognitiva
Área de Estudo: psicolinguística
Obs.: Professor universitário, Richard Gerrig escreve o capítulo junto com seus alunos de psicologia, Matthew Jacovina, Matthew Bezdek, Jeffrey Foy e William Wenzel, estudantes da Universidade de Stony Brook, em Nova York.
Capítulo: no livro, eles escrevem o capítulo “Rápido, Dexter! Mate! Mate!”
Trecho do capítulo: Como consumidores de narrativas, nós regularmente nos encontramos torcendo por protagonistas, até mesmo quando o protagonista está agindo fora de nossos limites morais. Como espectadores de Dexter, nós caminhamos bem além dos nossos limites morais, e nos encontramos (literalmente) aplaudindo um serial killer. Os escritores da série criaram um mundo no qual Dexter se torna um personagem que os espectadores, no momento, querem que seja bem sucedido. Através de uma reflexão maior, os atos de Dexter não são fáceis de justificar. Mesmo assim, esse conflito sobre o que nós queremos no momento e o que nós pensamos depois que os créditos aparecem, talvez seja parte do que faz de Dexter uma experiência tão prazerosa para os fãs.
Nome: Christopher Ryan
Formação: língua inglesa, literatura e psicologia
Área de Estudo: sexualidade humana
Obs.: Christopher Ryan passou anos viajando pelo mundo e trabalhando nos mais estranhos trabalhos. Cortou salmão no Alaska, ensinou inglês a prostitutas na Tailândia e ajudou ativistas que lutavam pela reforma agrária no México. Em algum ponto de sua vida, formou-se em psicologia e passou a realizar pesquisas buscando as pré-históricas raízes da sexualidade humana. Ele escreve o blog Sex at Dawn.
Capítulo: no livro, ele escreve o capítulo “Sendo Dexter Morgan”
Trecho do capítulo: Para mim, a sedução de Dexter está em volta do fato de que ele representa aquele pequeno ponto em que os dois extremos do comportamento humano se conectam, completando o ciclo que descreve a consciência humana. Dexter é tanto um assassino a sangue frio quanto um carinhoso homem de família. Assassino insensível e amigo apoiador. Como todos nós, ele é confuso, mas seguro. Simultaneamente, ele é o melhor e o pior que nós podemos ser. Apenas considere a sua biografia: órfão, criado por adultos carinhosos que tentaram entender a criança estranha que ele era, despertar gradual de suas habilidades e necessidades únicas; um profundo desejo de defender os inocentes contra os maiores predadores do mundo. Dexter? Sim, mas isso também descreve a infância da sagrada trindade de super-heróis da América: Super Homem, Batman e Homem Aranha. Dexter nos toca porque todos somos perigosamente dexterianos.
Quando pensamos na palavra psicopata, imagens de filmes como O Iluminado, O Silêncio dos Inocentes ou O Massacre da Serra Elétrica provavelmente nos vêm a mente. Mas na realidade, psicopatas são bem difíceis de se identificar (dica: ele não é o cara com um olhar esquisito vestido com uma capa preta).
“Psicopata é um predador social que encanta, manipula e brutalmente trilha o seu caminho pela vida… totalmente sem sentimentos pelos outros. Eles, egoistamente, pegam o que querem e fazem o que querem, violando regras sociais e expectativas, sem o mínimo senso de culpa ou arrependimento.”
Essa é a definição de um psicopata dada pelo psicólogo canadense Robert Hare, um dos maiores especialistas do mundo nessas mentes. Como já citado, as chances de você conhecer ou ser familiarizado com alguém que se encaixa na descrição acima e, ainda assim, essa pessoa não está furiosamente cometendo uma série de matanças ou servindo tempo na cadeia, são bastante altas. Se esse é o caso, essa pessoa provavelmente se qualifica como um “psicopata bem sucedido” ou “psicopata de sucesso”. Um psicopata bem sucedido é alguém que se encaixa na descrição de um psicopata, mas é muito bem sucedido em suas atividades, o que evita sua identificação. Tais pessoas podem ser advogados, professores, políticos e, segundo informações recentes, provavelmente possuem um endereço permanente em Wall Street ou no congresso em Brasília.
Infelizmente, muito pouco se sabe sobre psicopatas bem sucedidos. Isso porque a maioria das pesquisas psicológicas conduzidas sobre tendências psicopatas foram feitas com psicopatas presos, ou seja, psicopatas assassinos. Por exemplo, o psicólogo Kent Kiehl, professor na Universidade do Novo México, fez algumas pesquisas interessantes usando fMRIs (imagens tiradas de ressonâncias magnéticas) para examinar o cérebro de psicopatas presos. Sua pesquisa mostrou que tais indivíduos sofrem de significantes deficiências que afetam suas habilidades de detectar emoções em outras pessoas e sentir as mesmas.
Mas o que faz o psicopata bem sucedido diferente do mal sucedido, também chamado de psicopata prototípico? A psicóloga Stephanie Mullins-Sweatt, pesquisadora da Universidade de Kentucky, examinou essa ideia em um artigo publicado no jornal Journal of Research in Personality (Jornal da Pesquisa da Personalidade). A Dra. Mullins-Sweatt, com seus coautores, pediu a especialistas das áreas de psicologia e leis para descreverem um indivíduo que eles conhecessem pessoalmente e que combinasse com as descrições de um psicopata bem sucedido (a que você acabou de ler acima). Esses mesmos especialistas foram então solicitados a classificar esse indivíduo em uma variedade de características de personalidade. A partir dessas respostas, uma descrição clara e consistente emergiu, e essa mesma descrição combinava com as características típicas de um psicopata prototípico, menos uma: consciência.
Na literatura da personalidade, consciência refere-se à tendência de mostrar autodisciplina, o ato obediente, a busca pela realização. Pessoas com nível elevado de consciência preferem comportamentos planejados em vez de espontâneos, e são capazes de, efetivamente, controlar e regular seus impulsos. Psicopatas prototípicos são bastante desleixados nessa característica, incapazes de colocar freios em seus perigosos impulsos e incapazes de aprender com seus erros. Diante disso, não é nenhuma surpresa que tais indivíduos muitas vezes sejam presos e condenados por seus crimes hediondos. Ao mesmo tempo, as avaliações de personalidade dos psicopatas bem sucedidos mostravam um homem desonesto, arrogante e explorador, mas que foi capaz de manter esse comportamento escondido por conseguir controlar seus impulsos destrutivos e, assim, evitar a detecção.
Baseando-se nessa visão, Dexter parece se encaixar no perfil de um psicopata bem sucedido, e isso é algo que faz com que seu personagem seja diferente de outros psicopatas que temos visto na cultura pop. Apesar dos pensamentos sombrios de Dexter e atividades ainda mais macabras, o seu “trabalho” é sempre limpo, bem planejado e meticuloso. Ele raramente age por impulso, ao invés disso, filtra seus impulsos destrutivos por meio de um código de conduta cuidadosamente organizado (o código de Harry). Assim, Dexter é uma contradição fascinante: ele é um assassino frio e um pai bondoso, é um justiceiro que não tem remorso e um amigo e irmão carinhoso, é um assassino violento e um defensor da inocência e da justiça.
Em última análise, Dexter é apenas um personagem de faz de conta, está lá apenas para o nosso próprio entretenimento, mas sua existência cria um pensamento. Dado o sucesso de Dexter em controlar seus impulsos e manter seus crimes em segredo, isso faz você se perguntar quantas pessoas são como ele, à solta em nosso mundo, sem ser detectadas. Ele pode ser seu vizinho, seu amigo, seu namorado, seu marido, seu colega de trabalho, seu terapeuta ou, talvez, até mesmo, o seu blogueiro favorito da atualidade… opa… pera…
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