Imagine uma criança entrando numa prisão de segurança máxima. Viver tal experiência, para qualquer pessoa, poderia gerar traumas com efeitos psicológicos devastadores. Para uma criança então, que não tem sua formação psicológica completa, tal evento poderia ser a semente dos seus futuros pesadelos. Imagine agora que esta criança está lá para visitar o seu tio, mas o seu tio não é qualquer criminoso. Ele é um terrível serial killer. É a primeira vez que ela o vê e como toda criança está super animada para vê-lo. E quando ela finalmente o conhece, ele diz: “Se você não fosse minha sobrinha, eu iria te foder qualquer dia.”
Foi isso o que escutou Shelly Ramirez, então aos 7 anos de idade, na cadeia de San Quentin, São Francisco, Califórnia, quando visitou o seu tio, Richard Ramirez, o mais famoso serial killer da década de 80. Como sabido por vocês, Richard Ramirez faleceu no último dia 7 de junho de 2013, aos 53 anos, (leia aqui), na mesma cadeia onde quase três décadas antes tirou a inocência da sua sobrinha.
Em uma entrevista para o britânico The Daily Beast, Shelly Ramirez diz que começou a escrever para o seu tio quando ainda era uma criança, e que ambos costumavam se corresponder por meio de cartas.
“Ele era muito interessado nas pessoas. Gostava de ver o que as assustava. Eu comecei a ler suas cartas em uma idade muito precoce. Suas cartas eram como uma pesquisa. Ele não me perguntava como eu estava. Eu acho que ele queria ver quais eram as fraquezas das pessoas. Ele era muito particular na maneira como respondia as perguntas. Eu não sabia que ele era tão ruim. Eu não sabia que ele havia matado pessoas. A televisão o fez parecer como se ele fosse uma celebridade”, diz ela.
Mas não foi só a pequena sobrinha de Ramirez que foi manipulada pela mídia. Durante o julgamento do seu tio, mulheres se acotovelavam para ver o serial killer. Centenas de cartas foram escritas para o assassino. Em uma delas, uma mulher diz que tinha o desejo de manter relações sexuais com ele dentro de um caixão. Já outra ameaçou dar queixa na polícia depois que Ramirez compartilhou uma foto sua nua com outros presos, foto com a qual ela havia presenteado o assassino durante uma visita. “Modelos da playboy escreviam para ele,” diz Shelly.
Após várias trocas de cartas, Shelly finalmente conheceu seu tio em 1989. Seu pai foi visitar o irmão e a levou junto para que ela o conhecesse. Foi então que Shelly percebeu que o tio não era aquele superstar que a televisão mostrava. Ela nunca mais seria a mesma. O encontro a afetou de tal forma que posteriormente ela teve que pedir ajuda psicológica. Além de lhe dizer obscenidades, Ramirez masturbou-se em sua frente e a repreendeu por usar um colar de ouro com uma cruz como pingente.
“Ele disse que se eu não fosse sua sobrinha, ele iria me foder qualquer dia. Eu me senti muito, muito suja e vulgar. Ele também disse que satanistas não usavam ouro e queria que eu tirasse o meu colar. Foi ai que percebi o quão doente ele era. Nunca mais tive contato com ele.”
Uma experiência como essa certamente afetaria de forma negativa qualquer criança que em sua inocência nunca imagina existir tais pessoas, mas isso seria só o começo para a pequena Shelly. Crescer como um parente de Richard Ramirez, com certeza, não seria tarefa das mais fáceis.
“As pessoas me olhavam e percebiam que eu parecia com Richie nas maçãs do rosto e na magreza. Eu queria mudar meu sobrenome e esquecer tudo isso. Isso afetou toda a minha vida. Uma vez uma colega de faculdade escreveu um artigo sobre ele e me confrontou em sala de aula. Na frente da classe, ela disse: ‘Você é parente do Perseguidor da Noite?’ Eu realmente tentei despistar. Quem é esse? O que ele é? Foi tão horrível.”
Quando Shelly Ramirez ouviu na semana passada que seu tio Richard havia morrido, ela sentiu uma enorme sensação de alívio. “Me senti livre. O que ele fez era doente. Sinto muito pelas vítimas e pelas famílias. Eu tenho uma menininha. O que ele fez para mim quando eu era pequena me incomoda até hoje.”
Adorador do diabo, fumante de crack, Richard Ramirez entrava em casas durante a noite para estrangular, esfaquear e atirar em estranhos enquanto dormiam. Em muitos casos ele estuprou, torturou e mutilou suas vítimas. Antes de ir embora, desenhava símbolos satânicos nas paredes ou em partes dos corpos.
De acordo com Scott Robinson, porta-voz da prisão de San Quentin, Ramirez tinha o hábito de se masturbar na frente de advogados, visitas e funcionários da prisão.
“Ramirez era um indivíduo perturbado. Houve vários incidentes de exposição indecente e masturbação na frente do pessoal. Ele se expunha para as crianças. Todas suas visitas aconteciam atrás de uma divisória. Ele não tinha permissão para tocar ou abraçar ninguém. A primeira vez que ele se expôs foi durante uma visita legal. Ele também se expôs para os guardas dentro da unidade habitacional. Nós colocamos sinais na frente da cela dizendo que ele tinha propensão a isso”, disse Scott para o Daily Beast.
Ramirez não recebia visitas desde 2004, época em que se masturbou na frente de um jovem que foi visitar um parente. Em 2007 ele perdeu seus privilégios novamente quando foi pego fazendo a mesma coisa na frente de uma outra visitante.
Robinson disse que foram implementadas medidas de segurança na prisão para que ele não se expusesse para os outros. “Ele realmente não teve quaisquer visitas desde 2007. Durante todo o ano de 2010 ele não teve autorização para receber visitas pessoais, e nos últimos anos ele se recusou a conversar com qualquer pessoa.”
E independente dos crimes hediondos, o porta-voz da prisão dsse que Ramirez sempre foi o preso mais popular em San Quentin. “Ele sempre atraiu um grande interesse Mesmo hoje ele é conhecido por ser o preso que mais recebe cartas. Ele costumava ter sacos cheios de cartas.”
Richard Ramirez certamente foi uma personalidade perturbadora. Diferentemente de outros serial killers, sua forma de matar mudava frequentemente, e isso foi um dos fatores que deixou Los Angeles em pânico na época. Como disse Gill Carrillo, investigador do caso: “o único padrão que ele tinha era não ter padrão”. Qualquer pessoa era uma possível vítima, ele era um assassino que não escolhia ninguém por características específicas e isso deixou a população amedrontada.
Ramirez desde pequeno demonstrou interesse e excitação por violência e morte, ao contrario da maioria das pessoas, ele se sentia atraído e fascinado por esse universo obscuro. Durante o relato de uma das poucas sobreviventes dos seus ataques, a vítima disse que ele só a deixou viver depois de ela jurar seu amor por Lúcifer.
Sem sombra de dúvidas uma personalidade doente e sombria. Que o diga sua sobrinha.
Causa da morte revelada
Até o atual momento, ninguém da família reclamou o corpo do serial killer Richard Ramirez. Ele permanece no necrotério do hospital San Marin. Se ninguém da família reclamar o corpo, Ramirez será cremado pelo estado e suas cinzas jogadas em algum local desconhecido. Segundo sua sobrinha Shelly, ser cremado era o desejo do seu tio.
Se existe um impasse com relação ao repouso final de Ramirez, o mesmo não podemos dizer sobre as causas de sua morte. Na última segunda-feira, 17 de junho, médicos legistas que autopsiaram seu corpo disseram que o serial killer faleceu em decorrência de uma forma de câncer, o linfoma de células B, um tipo de câncer do sistema linfático. Os médicos legistas também citaram outras “condições significantes” para sua morte, como abuso de substâncias crônicas (drogas) e hepatite C, que muitas vezes é transmitida pelo uso de drogas injetáveis.
Autoridades disseram que o uso de drogas por Ramirez durante sua juventude é a provável causa da hepatite C. A doença teria permanecido em seu corpo durante um quarto de século antes de efetivamente destruir o seu fígado. Sua coloração esverdeada antes de sua morte não foi explicada pelos médicos, mas provavelmente deve ter alguma relação com o estado crítico que se encontrava o seu fígado.
“É provavelmente algo que ele usou por anos. Isso matou seu fígado”, disse Keith Boyd, assistente chefe do escritório do legista de San Marin.
Fontes consultadas: The Daily Beast, Reuters, Tucsonnews.
Colaboração
Revisão por:
Curta O Aprendiz Verde No Facebook