Morre Pat Kennedy, o detetive que extraiu as confissões de Jeffrey Dahmer

As pessoas, às vezes, diziam que ele havia visto o mal diretamente nos seus olhos, mas Patrick Kennedy, o imponente detetive da polícia de Milwaukee que extraiu as confissões...
Pat Kennedy

Patrick Kennedy

As pessoas, às vezes, diziam que ele havia visto o mal diretamente nos seus olhos, mas Patrick Kennedy, o imponente detetive da polícia de Milwaukee que extraiu as confissões do serial killer Jeffrey Lionel Dahmer, viu de outra maneira.

“Eu não posso dizer que eu realmente percebi, porque quando eu olhei para Jeffrey Dahmer, o que mais me surpreendeu durante as seis semanas que eu conversei com ele, foi o quanto ele tinha de mim ou de você”, disse Kennedy em uma recente entrevista para o documentário The Jeffrey Dahmer Files.

Patrick Kennedy, chamado de Pat por seus colegas, foi o policial que tirou a confissão de Jeffrey Lionel Dahmer, um dos mais famosos serial killers do século 20. O primeiro encontro entre os dois aconteceu na noite do dia 22 de julho de 1991. Dahmer havia sido preso após policias encontrarem uma cabeça em sua geladeira. Quando Dahmer sentou em sua frente, o detetive ainda não sabia a real proporção dos assassinatos do serial killer e, talvez por isso, ele riu quando Dahmer lhe disse: “Quando eu te dizer, o que eu tenho pra te dizer, você ficará famoso.”

E o serial killer estava certo, Patrick Kennedy virou uma espécie de pop star da força policial, dando entrevistas e participando de documentários e eventos pelos próximos 20 anos. Sua última aparição foi no documentário The Jeffrey Dahmer Files, lançado no começo deste ano.

O Detetive


Filho e neto de policiais, Patrick Kennedy nasceu em Detroit, Michigan. Ao entrar no ensino médio, seus pais o enviaram para o colégio St. Lawrence Seminary na cidade de Fond du Lac, no estado do Wisconsin. Em seguida, foi para o Marian College, e posteriormente tornou-se um oficial da polícia de Milwaukee. Ele passou 21 anos na polícia da cidade, sendo 12 anos como detetive de homicídios. Ele aposentou-se precocemente, em 1999, aos 45 anos. “Ele estava cansado de lidar com mortes violentas todos os dias, não queria mais saber se era um bebê em um berço ou alguém que levou um tiro na rua”, disse o seu irmão Dennis Kennedy em uma reportagem para o Milwaukee Sentinel.

Após aposentar-se, Patrick Kennedy voltou para as salas de aula. Conseguiu o título de mestre em educação e trabalhou com o departamento de polícia da cidade na criação de um novo tipo de abordagem policial. Patrick acreditava que a polícia deveria não apenas promover a segurança da socidedade, mas também ser um instrumento de educação em todas as comunidades. Criou programas, como o Corpo de Paz, e suas idéias o levaram até o Paraguai. Passou alguns dias na capital paraguaia, mas voltou para os Estados Unidos depois de perceber que a polícia do nosso país vizinho não tinha tempo o suficiente para colocar seu programa em prática.

De volta a Milwaukee, obteve um doutorado e lecionou na Universidade de Marquette e na Universidade de Wisconsin-Milwaukee. Com dois metros de altura e um bigode gigantesco que, aparentemente, nunca raspou, Patrick era uma figura instantâneamente reconhecível e imponente. Era um ícone da polícia de Milwaukee, e tudo por causa de um dos mais notórios crimes do século passado.

O serial killer


Em 22 de julho de 1991, um dos mais famosos psicopatas serial killers do mundo tinha os seus crimes interrompidos. Jeffrey Lionel Dahmer, que ficou mundialmente conhecido como “O Canibal de Milwaukee”, foi preso após dois policiais descobrirem uma cabeça dentro de sua geladeira. E seria o detetive de homicídios Patrick Kennedy o primeiro a mergulhar no mundo de depravações do serial killer e extrair suas confissões.

A primeira vez que Kennedy viu Dahmer, foi no apartamento do serial killer logo após sua prisão. Dahmer estava algemado no chão, choramingando e sangrando. No documentário The Jeffrey Dahmer Files, o detetive diz: “Ele esteve em uma briga dos infernos com dois policiais gigantes. Ele estava lamentando-se, quase como um bebezinho.”

Dahmer foi levado para uma sala de interrogatório e Kennedy foi o primeiro a questioná-lo. “Ele chorava, esbravejava, levantou-se e caminhava em volta com raiva. Decidi tratá-lo como uma pessoa frágil”, diz Kennedy.

Após cerca de três horas, Dahmer começou a falar. “Ele me disse: ‘Mas Pat, quando eu dizer o que eu tenho pra te dizer, você provavelmente vai me odiar. Quando eu te disser Pat, você ficará famoso’.”

De início, Kennedy não acreditou em Dahmer. “Eu achei que ele era insano”, diz ele no documentário. Mas o pior dos seus pesadelos virou realidade quando ele ouviu de um investigador que eles haviam encontrado outras seis cabeças no apartamento do serial killer. Apesar do comportamento estranho, o serial killer dizia a verdade.

Ao longo das semanas com Dahmer, Kennedy chegou a vê-lo com um pouco de compaixão. “Quero dizer, eu tomava café da manhã com ele e almoçava com ele, e ainda levava os jornais e mostrava o que as pessoas diziam sobre ele. Parece estranho que nos tornamos amigos, mas ficamos sim. Éramos amigos. Eu realmente comecei a gostar do cara e sentia pena dele. Ele tinha uma alma patética”, disse o detetive em uma entrevista para o canal TheLip.tv.

Para a primeira audiência do serial killer no tribunal, Kennedy deu a ele uma camisa azul listrada e uma calça que pertenciam a um dos seus filhos. “Um dia antes de ir ao Tribunal, ele me disse: Pat, eu me sinto medonho, estranho, e eu tenho que estar na frente das pessoas amanhã.”

O detetive decidiu então arrumar uma roupa para o seu novo “amigo”. Ele perguntou a um dos seus filhos, que fazia o ensino médio na época, se ele não tinha uma camisa e uma calça que não gostava. Ao escutar a pergunta do pai, o filho de Pat respondeu: “Você quer dizer aquela camisa que você me deu no Natal e que eu nunca uso?”

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Uma das mais famosas imagens de Jeffrey Dahmer é a foto que saiu na capa da Revista People em 1991. A camiseta de Dahmer, branca com listras azuis, foi motivo de discussão nos Estados Unidos: “Ele parece um jogador de tênis”, disseram alguns jornais. Mas o que ninguém sabia era que a famosa camiseta, e sua calça eram, na verdade, do filho do detetive Pat Kennedy.

Na Foto: Jeffrey Dahmer em sua primeria aparição pública vestiu uma camiseta branca com listras azuis, um "presente" do detetive Patrick Kennedy.

Jeffrey Dahmer em sua primeira aparição pública vestiu uma camiseta branca com listras azuis, um “presente” do detetive Patrick Kennedy.

“Quando acabou, ele dobrou as roupas cuidadosamente e tentou entregá-las para mim através das grades. Quando ele tentou me dar a roupa, eu disse: Não, não, obrigado, pode ficar com elas.”

Na Foto: O detetive Patrick Kennedy é fotografado durante o seu testemunho no julgamento de Jeffrey Dahmer em 1992.

O detetive Patrick Kennedy é fotografado durante o seu testemunho no julgamento de Jeffrey Dahmer em 1992.

Kennedy, que tinha 37 anos na época, já era um veterano, e o caso lhe deu ainda mais credibilidade na polícia. “Ele conseguiu melhores turnos e era visto como uma espécie de celebridade. Ele se tornou quase que inevitável. Pessoas sempre se aproximavam para fazer perguntas sobre Dahmer. Em certo sentido, foi o momento decisivo em sua carreira e em sua vida, foi onde fez carreira. Ao mesmo tempo, foi um momento terrivelmente escuro para a cidade”, diz Chris James Thompson, o diretor do documentário The Jeffrey Dahmer Files.

Não muito tempo depois do caso, Kennedy se divorciou, mas ele não culpou o caso Dahmer pelo ocorrido. “Eu me divorciei não por causa do trabalho, embora eu ache que você poderia chamar isso de a palha que quebrou as costas do camelo”, disse ele.

Recentemente, Kennedy fez aparições no Festival de Milwaukee e em outros festivais de cinema devido ao documentário. Todo o lucro que ele recebeu do filme foi doado para o Gingerbread House, um centro de juventude da cidade.

Na Foto:

Patrick Kennedy e o diretor de cinema John Waters durante o Festival de Cinema de Maryland em 2012.

Além do seu trabalho como professor, Kennedy também trabalhava voluntariamente no Open Door Café, na Catedral St. John the Evangelist, no centro de Milwaukee. “Ele sentava-se fora do Café, conversava com os mendigos e jantava junto com eles. Ele era bem-amado. Ele aceitava todos”, disse sua segunda esposa.

Mês passado, Patrick Kennedy concedeu, talvez, sua última entrevista, muito interessante por sinal, para a Westword. Dentre outras coisas, ele diz:

“Nós encontramos sete cabeças no freezer. Ele as mantinham lá, as vezes as tirava, conversava com elas, enfiava seu pênis dentro das bocas. Encontramos também, no freezer, dois pênis que ele chupava. Ele disse que fazia isso para satisfazer a si mesmo. Eu lhe perguntei: ‘Jeff, por quê você apenas não arrumou um namorado? Por quê diabos você tinha que matar todo mundo?’ Mas ele, no fundo, era um garoto patético, e eu realmente comecei a sentir pena dele. Ele apenas não podia estabelecer uma conexão humana com ninguém. Ele me disse: ‘Todos iriam embora, Pat’. Então, para mantê-los com ele, os matava. E depois começou a experimentar os corpos. Ele começou com o bíceps, depois começou a comer as coxas, coração, fígado. Ele me disse: ‘Eu sei que soa estranho, Pat, mas comendo-os, eles se tornavam parte de mim e nunca me deixariam’. Ele me disse que só comia os que ele achava os mais bonitos. Só matava e mantinha as partes daqueles que ele considerava os mais perfeitos da espécime masculina”.

Patrick Kennedy faleceu na última quinta-feira, 18 de abril, aos 59 anos, de um fulminante ataque cardíaco. Ele deixa três filhos e cinco netos. Ele será velado na próxima quarta-feira, 24 de abril, e enterrado na quinta-feira dia 25 na mesma catedral onde fazia seu trabalho voluntário.

Deixamos aqui nossas homenagens a Patrick Kennedy.

“Ele sempre olhava para o lado bom das pessoas e via as pessoas como seres humanos a serem perdoados”.

[Dennis Kennedy, irmão de Pat]

Veja abaixo vídeos legendados com o detetive Patrick Kennedy. O primeiro vídeo são trechos retirados do recente documentário The Jeffrey Dahmer Files. O segundo vídeo mostra uma entrevista com Kennedy e Dennis Murphy, o outro detetive que trabalhou no caso Dahmer. O terceiro vídeo mostra uma reportagem sobre o que mudou na cidade de Milwaukee após os crimes de Dahmer, Kennedy é entrevistado e fala sobre a questão do policiamento comunitário.

Trechos do documentário The Jeffrey Dahmer Files

Jeffrey Dahmer: Detetives Falam Sobre o Serial Killer

Jeffrey Dahmer: 20 anos depois

Na foto: Patrick Kennedy e sua segunda esposa.

Patrick Kennedy e sua segunda esposa.

Na foto: Pat Kennedy durante exibição do documentário The Jeffrey Dahmer Files. Créditos: Facebook Jeff.

Pat Kennedy durante exibição do documentário The Jeffrey Dahmer Files. Créditos: Facebook Jeff.

Na foto: Pat Kennedy, Pamela Bass e o ator Andrew Swant. Créditos: Facebook Jeff.

Pat Kennedy, Pamela Bass e o ator Andrew Swant. Créditos: Facebook Jeff.

Na foto: Pat Kennedy e Ian Stynes, engenheiro de som do documentário The Jeffrey Dahmer Files. Créditos: Facebook Jeff.

Pat Kennedy e Ian Stynes, engenheiro de som do documentário The Jeffrey Dahmer Files. Créditos: Facebook Jeff.

Nota de falecimento de Patrick Kennedy publicada no Milwaukee Journal Sentinel.

Nota de falecimento de Patrick Kennedy publicada no Milwaukee Journal Sentinel.

Patrick Francis Kennedy

Com informações: Jsonline

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Daniel Cruz
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