George Palermo passou sua vida mergulhado nos mais profundos e obscuros sentimentos da natureza humana. E mesmo após passar horas vagando pelas mentes de serial killers, predadores sexuais e criminosos comuns, ele podia apreciar a beleza da arte, cultura e música.
“Ele exala alegria e uma inocência que desmentem seus 68 anos de idade”, escreveu Richard L. Kenyon em um perfil de Palermo para o Milwaukee Journal em 1994.
Em 23 de fevereiro último, em Henderson, Nevada, Estados Unidos, o renomado psiquiatra forense que forneceu um testemunho chave no julgamento do assassino em série Jeffrey Dahmer faleceu aos 91 anos.
“Se soubermos o que está faltando na vida dessas pessoas violentas, nós poderemos fazer alguma coisa a respeito”, disse Palermo a Kenyon.
Giorgio Benito Palermo nasceu em 19 de junho de 1925, em Tarquinia, Itália. Filho de Gaetano e Felícia, Palermo cresceu em Roma. Ainda adolescente, ele viveu os horrores psicológicos da guerra, incluindo o bombardeio a Roma.
“De alguma forma, sua atitude jovial e perspectiva positiva sobreviveu”, relatou seu irmão Anthony Palermo.
Após se graduar pela Faculdade de Medicina da Universidade de Bologna, ele migrou para os Estados Unidos, se estabelecendo em Milwaukee em 1952, completando um estágio no Hospital St. Michael e residência no Hospital Evangelical Deaconess.
Em 1969, ele retornou à Itália para praticar a psiquiatria. Em 1988, voltou para Milwaukee e tornou-se psiquiatra forense do Complexo de Saúde Mental do Condado de Milwaukee, época em que passou a atuar em julgamentos, determinando a competência dos acusados de crimes para julgamento, e aconselhando sobre a saúde mental e necessidades psicológicas dos condenados que eram sentenciados.
Ele também era chamado por tribunais ou advogados de defesa para emitir opiniões sobre não culpabilidade do réu por razões de insanidade.
“Eu cheguei ao limite com a psicoterapia. Eu queria fazer mais serviço público”, disse Palermo a Kenyon.
Palermo foi um dos psiquiatras que testemunharam no julgamento de um dos mais famosos serial killers da história: Jeffrey Dahmer, que admitiu o assassinato de 17 adolescentes e homens em Ohio e Wisconsin entre 1978 e 1991, e que foi acusado de 15 mortes no condado de Milwaukee.
Dahmer se declarou culpado dos assassinatos, mas alegou que era insano, uma alegação derrubada por Palermo no julgamento.
“Jeffrey Dahmer sofre de um sério transtorno de personalidade que necessita ser tratado. Ninguém pode negar que Jeffrey Dahmer é uma pessoa doente, mas ele não é psicótico… E ele não é legalmente insano”.
[George Palermo, 1992]
Ao final do seu testemunho, o psiquiatra disse algo que intrigou a todos:
“Eu sei que é estranho dizer, mas ele não é uma pessoa tão má.”
Um júri determinou que Dahmer era são, e em 1992 ele foi sentenciado a 957 anos de prisão. No final de 1994, Dahmer foi espancado até a morte por outro detento da Columbia Correctional Institution.
Palermo atuou em faculdades ao redor do mundo – da Faculdade de Medicina de Wisconsin à Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma -, escreveu livros e artigos acadêmicos e lecionou em lugares como Rússia, China e Japão sobre assuntos que muitos acham revoltante e que não deveriam ser ditos ou estudados.
Mas apesar da feiura das mentes criminosas que ele diariamente dissecava, Palermo facilmente se perdia nas pinturas de Canevari ou nas letras de “La Boheme”, de Puccini.
“Ele adorava visitar as galerias de Roma com sua esposa. Ele enxergava o propósito das imagens. Tinha significado para ele”, diz seu irmão Anthony Palermo.
Ele deixa esposa e cinco filhos.
Um funeral está marcado para a próxima terça-feira, 18 de abril, em Tarquinia, Itália.
Com informações: Milwaukee Sentinel
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