Cometer atos de violência está longe de ser unicamente parte do repertório adulto de condutas. Em algum ponto, alguém olhou para a violência através da perspectiva do desenvolvimento e as crianças imediatamente entraram no radar. Pioneiras neste campo, o trio de psicólogas Katharine Bridges, Florence Goodenough e Helen Dawe publicou estudos na década de 1930 que são ainda hoje fontes de pesquisa. Na prática, há quase 100 anos a ciência moderna sabe que crianças podem ser perversas.
Em um congresso na França no início dos anos 1970, cem das mentes mais brilhantes do mundo se reuniram durante uma semana para estudar e expor suas pesquisas sobre o tema violência, agressividade e suas consequências. Presidindo o evento, dois magos da psicologia infantil do século 20: os professores Jan De Wit, da Holanda, e Willard Hartup, dos Estados Unidos. Ao fim da conferência, longe de apontarem os dedos para adultos com transtornos mentais ou de personalidade, religiões, mídia ou qualquer outro fator externo, os cientistas concordaram que a violência e a agressividade podiam ser rastreadas desde a infância.
Um dos palestrantes, um médico irlandês, apresentou dossiês pormenorizados de 16 crianças assassinas. Escrevendo ao jornal Le Monde, uma jornalista que cobria o evento chamou a palestra de “estarrecedora”.
E ainda hoje a crueldade infantil é “estarrecedora” porque é um assunto não discutido pela sociedade e escondido pelas autoridades, daí muita gente desconhecer completamente essa realidade. Em nossa sociedade, crianças são vistas como anjinhos ingênuos e nada mais. Mas não é bem assim.
Em meu novo livro, eu conto a história de um menino de 9 anos que tentou enforcar o irmão mais novo. Após pelejar várias vezes e falhar, ele enrolou a corda no próprio pescoço e se matou. Em outro caso, uma menina atraiu uma criança menor até um riacho e a empurrou nas águas apenas porque queria vê-la se afogar.
Há casos muito piores e de todos os tipos, e em Anjos Cruéis eu os apresento sem censura em uma viagem por mentes ainda em formação, mas inesperadamente já disformes.
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