Celebridades Assassinas: Aaron Hernandez — Doença & Mistério

O atleta mais googlado de 2013 é um enigma psiquiátrico. O caso Aaron Hernandez desafia o que sabemos sobre o comportamento humano e irá reverberar por décadas nos círculos...

O atleta mais googlado de 2013 é um enigma psiquiátrico. O caso Aaron Hernandez desafia o que sabemos sobre o comportamento humano e irá reverberar por décadas nos círculos de pesquisa acadêmica. Estrela de uma das maiores equipes esportivas do planeta e multimilionário aos 20 anos, Aaron chocou a América com sua espetacular queda — de galã e herói a um assassino totalmente descontrolado.

Para os fãs que julgam celebridades por suas vidas perfeitas de Instagram, Aaron era o melhor negócio. O que as pessoas esquecem é que fora das telas celebridades vivem o mesmo mundo que nós. No caso Aaron, alguns dizem que ele tinha dupla personalidade; o termo “vida dupla”, entretanto, faz mais sentido. Fora dos holofotes, este jovem americano padrão e sonho de consumo de garotas deslumbradas era uma bomba-relógio que fez uma escolha consciente: andar com a escória da sociedade.

Ninguém sabe porque este jovem que tinha tudo escolheu a imundície das ruas. De dia, Aaron era o tight end dos Patriots, com um contrato de 40 milhões de dólares e tudo à disposição. De noite, andava com traficantes de armas e drogas e agia como um gângster.

Em 16 de julho de 2012, ele teria matado dois homens em um sinaleiro, mas se safou do crime. No ano seguinte, Aaron assassinou um amigo, Odin Lloyd. Dessa vez, ele foi preso.

Há muita coisa que pode ser dita sobre Aaron: o trauma da morte de seu pai dominador e abusivo; os problemas com a vida amorosa da mãe; a pressão para se conformar em um esporte hipermasculinizado; uma suposta homossexualidade reprimida; o fascínio por armas como afirmação da masculinidade; o fanatismo do futebol universitário; a impunidade da fama — intocável, foi autorizado a destruir; ele podia espancar pessoas em boates e atirar em outras em sinaleiros desde que continuasse a ganhar jogos. Mas, no fim, ainda ficamos sem respostas.

Os motivos que levaram a estrela do futebol a se tornar um assassino frio morreram com ele em 19 de abril de 2017, dia em que cometeu suicídio na prisão, aos 27 anos.

A última peça do quebra-cabeça surgiu após sua morte: o cérebro de Aaron estava totalmente lesionado devido às repetidas pancadas que levou ao longo da carreira.

Alguns dizem que Aaron Hernandez era uma fachada; sua vida era apenas uma projeção do que ele acreditava que a sociedade esperava de alguém como ele: ser um tipo de macho-alfa, morar numa mansão, encher a garagem com carrões e armas, ter uma namorada de mentira, engravidá-la e preencher o corpo de tatuagens. Faz sentido as alegações sobre a sexualidade enrustida de Aaron. Conflitos e a repressão da própria sexualidade decorrem, de acordo com estudiosos, do medo de contrariar e decepcionar os pais.

Aaron cresceu com um pai homofóbico, do tipo machão, que “consertou” o filho, quando este, aos 7 anos, quis ser líder de torcida. Já adulto, Aaron usava expressões pejorativas para se referir a homossexuais, ao mesmo tempo em que, às escondidas, supostamente se relacionava com homens.

Sobre o duplo homicídio em 2012, ninguém sabe o motivo. Alguns dizem que uma das vítimas, sem querer, derramou bebida no astro em uma boate. No dia seguinte, em uma entrevista, Aaron disse querer ser um “exemplo” para a sociedade. Paranoico e cada vez mais fumando maconha sintética, droga comumente associada a comportamentos psicóticos, Aaron atirou na cabeça de um cúmplice e matou o amigo Odin Lloyd, que era namorado da irmã de sua namorada.

Em 2015, Aaron foi condenado à prisão perpétua sem direito a condicional pelo homicídio de Lloyd. Por que ele o matou? Ninguém sabe. Suspeita-se que Lloyd tenha descoberto alguma coisa ou, paranoico, Aaron tenha imaginado em sua cabeça que a vítima estava conspirando contra ele.

Em 2017, ele foi absolvido do duplo homicídio de 2012. Dias depois suicidou-se na prisão.

Aaron Hernandez é o primeiro caso descoberto pela ciência de um indivíduo de 27 anos com um cérebro tão velho quanto o de um homem de 70 anos. No ano seguinte à sua morte, o universitário Tyler Hilinski, grande promessa no futebol universitário, suicidou-se aos 21 anos. Ao analisarem seu cérebro, descobriu-se um avançado estado de ECT — seu cérebro era o de um homem de 65 anos.

O lobo frontal é uma das áreas mais afetadas pela ECT. Impulsividade, tomada precipitada de decisões e propensão a praticar atos de violência têm sido ligados a pessoas com ECT. No caso de Aaron, suas lesões cerebrais evoluíram ao longo de uma década e, ele, assim como Hilinksi, é apenas mais um na lista de jogadores de futebol americano assassinos e outros cujo sofrimento interno, de tão severo, os levaram ao suicídio. Outro caso, de Junior Seau, é emblemático: ele se matou aos 43 anos com um tiro no peito. Ele não quis atirar na cabeça, pois desejava que os cientistas estudassem o seu cérebro após a morte. Também foi encontrado ECT em estágio avançado.

Nos últimos anos, a NFL vem sendo pressionada a atuar no problema, mas sua atitude é de total desprezo. Por trás do glamour, fanatismo e dinheirama, a NFL esconde uma indústria de destruição da saúde dos jogadores, muitos com apenas 25 anos e completamente dependentes de drogas e analgésicos. ECT tem sido massivamente diagnosticada em ex-jogadores mortos, e já foi admitido que pelo menos 30% dos jogadores viverão com deficiências cognitivas e neurológicas, um número assustadoramente alto (e que provavelmente é bem maior).

Referências: [1] A Mente do Assassino: Aaron Hernandez. Netflix. 2020; [2] Doctors, Will You Be Watching the Super Bowl?. Scientific American; [3] Guns sold here figure in Hernandez murder trial. The Palm Beach Post. 13 abr. 2015. Páginas A1, A5; [4] Death expected to void Hernandez’s guilty verdict. The Boston Globe. 20 abr. 2017. Páginas B1, B3, B4, B5; [5] Murder trial for alleged Hernandez ally begins. The Boston Globe. 16 mar. 2016. Página B4; [6] Aaron Hernandez is the talk of Bristol, Conn. Daily Hampshire Gazette. 3 fev. 2012. Página C2; [7] The Fall of Aaron Hernandez. New York Times; [8] Yes, Aaron Hernandez Suffered Brain Injury. But That May Not Explain His Violence. New York Times; [9] On the Table, the Brain Appeared Normal. New York Times.

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Daniel Cruz
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"Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz." (Platão)
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