Em toda sociedade crianças crescem com histórias de criaturas reais ou imaginárias que aparecem do nada para raptá-las e devorá-las. No Brasil, o Bicho-Papão e o Homem do Saco assustaram (ou disciplinaram) um sem número de gerações que aprenderam (através do medo) a correrem de estranhos. Historicamente, tais histórias têm sido usadas como ferramentas pedagógicas — crianças precisam aprender a temer membros da própria espécie, pois os adultos sabem o que o mundo reserva: prazeres indescritíveis, mas, em alguns casos, a dor e o horror extremos.
Em 1994, São Petersburgo entrou em pânico com a transposição para a vida real de um pesadelo infantil. Alguém descompensado estava atacando e estuprando meninos à luz do dia com uma brutalidade assustadora. Em alguns casos, o maníaco rasgou a carne da virilha das vítimas com as unhas; já outras tiveram lesões horríveis no canal retal. Em fevereiro, o facínora estuprou e estrangulou um menino de 9 anos. Meses depois, com pais cada vez mais cuidadosos, crianças minguaram, então o Bicho-Papão atacou um adolescente de 15 anos. O garoto lutou e conseguiu fugir. No mesmo dia, sedento por carne, o pedófilo avistou Konstantin Kouzmine, 8, entrando no prédio onde morava. A criança foi levada até o terraço e estuprada. Não satisfeito, o maníaco cortou a barriga da vítima com um gancho, arrancou o intestino e jogou o órgão em uma lata de lixo.
O FACÍNORA
Um ser humano deformado pela própria vida, Igor Irtyshov foi sabotado antes mesmo de nascer. Ele veio ao mundo fraco e franzino, resultado do alcoolismo de sua mãe. Aos 10 anos, sofreu um traumatismo craniano que piorou seu desenvolvimento mental. Para se livrar do incômodo, sua mãe o enviou para um internato de deficientes mentais e o abandonou. Lá, Igor foi bolinado, espancado e estuprado por crianças mais velhas.
Abandonado à própria sorte, fez cursos profissionalizantes, mas ninguém lhe dava emprego. Passou fome e sobrevivia de biscates. Sofrendo de tormentos terríveis, Igor se voltou contra meninos frágeis e fracos, garotos que lembravam ele próprio quando criança.
E do dia para a noite, aos 22 anos, Igor Irtyshov se transformou em um Bicho-Papão da vida real.
Os ataques de Igor Irtyshov a meninos duraram um ano, de dezembro de 1993 a novembro de 1994. Ele foi capturado quando um amante descobriu uma mochila de criança ensanguentada entre os seus pertences. Ele achou estranho e comunicou à polícia. (Ao conseguir um emprego como lavador de pratos em um bar de São Petersburgo, Igor descobriu que podia fazer um extra dando prazer a homens mais velhos).
Mesmo com o pânico instalado na cidade e autoridades em seu encalço, Igor não parava de atacar crianças, mostrando que ele estava descontrolado e escalando em crueldade. Apesar de ser diagnosticado com sérios transtornos mentais, produtos de uma vida nefasta, Igor foi considerado são e condenado à morte. Nos 24 anos em que ficou preso, Igor nunca mudou seu comportamento. Ele ia de gritos e risos histéricos a ficar completamente imóvel e apático, olhando fixamente para um ponto. O diretor do presídio tentou várias vezes sua transferência para uma instalação psiquiátrica, mas nunca foi atendido. Igor Irtyshov faleceu em 2021, aos 49 anos, de ataque cardíaco em uma prisão da Mordóvia.
Sobre este assassino vale destacar alguns pontos: [1] mãe alcóolatra, bebeu durante toda gravidez; nascer fraco, franzino e com problemas no desenvolvimento mental pode ter sido resultado direto da ação do álcool no feto; [2] traumatismo craniano aos 10 anos piorou seu desenvolvimento mental e pode ter contribuído diretamente para o seu comportamento violento futuro; [3] vítima de violência e estupro quando criança; [4] nunca experimentou o amor ou afeto materno/familiar; [5] perturbado, sozinho no mundo e sem orientação, terminou nas ruas, onde só encontrou desprezo e mais violência; [6] apesar de heterossexual, foi iniciado sexualmente ainda novo por homens mais velhos, muitos adeptos do BDSM, o que pode ter contribuído para exacerbar seus tormentos.
Mesmo sem praticamente todo o intestino, o pequeno Konstantin Kouzmine foi capaz de voltar para casa. Médicos russos fizeram um trabalho hercúleo em salvar o garoto, mas ele perdeu o intestino e grande parte do cólon — o que restou foi removido posteriormente em uma cirurgia. Sem estes importantes órgãos, o menino não podia absorver nutrientes através do trato digestivo. Ele se alimentava através de nutrição parenteral total (NPT), onde proteínas simples, gordura e carboidratos são entregues diretamente nas veias.
Após uma mobilização nacional, meio milhão de dólares foram levantados e Kouzmine foi transferido para os EUA, onde chegou em 10 de outubro de 1994. Ele passou os quatro anos seguintes sendo alimentado por NPT, o que causou problemas no fígado e infecções. O tão sonhado transplante de intestino ocorreu em 26 de julho de 1998. Kouzmine recebeu parte do intestino de um doador e permaneceu os sete meses seguintes no hospital. No Natal de 1999, seu organismo começou a rejeitar o novo órgão. Médicos lhe trataram com drogas poderosas, pois seu sistema imune não foi capaz de combater uma infecção sanguínea. Médicos sugeriram remover o intestino, mas a cirurgia poderia matar o menino. Seu pai, então, não autorizou a cirurgia. Konstantin Kouzmine não resistiu e faleceu na manhã de 1 de março de 2000. Ele tinha 14 anos.
Referências: [1] Obituary. Russian teen who received intestine transplant in Pittsburgh. Pittsburgh Post-Gazette. 3 mar. 2000. Página B-5; [2] Dance troupe raising money for injured boy. The Sentinel. 29 dez. 1994. Página A1; [3] Mutilated Russian boy now in U.S. Green Bay Press-Gazette. 11 out. 1994. Página A-6; [4] Russian boy leaves hospital, thinks about Disney World. Indiana Gazette. 19 nov. 1994. Página 5; [5] Serial Rapist and Murderer Sentenced to Death. Associated Press. 1996; [6] Surgery Helps Russian Attack Victim. Associated Press. 1998; [7] «Жестокость его была запредельной» Самый страшный маньяк Петербурга охотился на школьников. В 90-е он наводил ужас на горожан. Lenta. 2020.
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