Rússia soviética: assassinos em série, erros judiciais e vítimas inocentes

Agentes públicos corruptos. Gravíssimos erros judiciais. Não é difícil encontrar casos onde a justiça sujou-se do sangue de um inocente. A Rússia soviética, por exemplo, é cheia de casos...

Agentes públicos corruptos. Gravíssimos erros judiciais. Não é difícil encontrar casos onde a justiça sujou-se do sangue de um inocente. A Rússia soviética, por exemplo, é cheia de casos em que inocentes pagaram pela cegueira sistêmica e incompetência dos agentes da lei.

Enquanto procuravam pelo Monstro de Vitebsk, os russos executaram um inocente e enviaram 13 outros para a prisão; um ficou cego e os outros chegaram a passar mais de uma década presos. Abafar crimes hediondos era uma tática dos soviéticos, pois maníaco era coisa do “ocidente decadente”. O discurso ideológico e a pressão para pegar assassinos era tamanha que a lei era posta em segundo plano.

No caso de Vitebsk, um homem teve uma prova plantada pela polícia em sua casa. Três outros foram presos e condenados apenas por passearem com seus cães perto das cenas dos crimes. Pior para Nikolai Terenya, executado em 1980 por um dos homicídios. A justiça tinha certeza de sua culpa devido à confissão da namorada. O que eles esconderam na época é que a mulher foi ameaçada e coagida. Enquanto isso, o verdadeiro assassino, Gennady Mikhasevich, chegou a comparecer aos julgamentos dos inocentes, acompanhando de perto as investigações de seus crimes. Quando ele finalmente foi pego, um rastro de quase 40 mulheres estranguladas jazia em suas costas.

Homens com retardo mental tinham um alvo nas costas na Rússia soviética. Georgy Khabarov, por exemplo, foi executado em 1984 por um dos homicídios do Estrangulador dos Urais, Nikolai Fefilov. O juiz até percebeu que o rapaz não tinha nada a ver com o crime, então o condenou a “apenas” 14 anos, mas a família da vítima recorreu e Khabarov foi executado. Outro inocente, Mikhail Titov, morreu na prisão após ser espancado por outros presos. Ele era apaixonado por uma das vítimas de Fefilov e foi torturado até “confessar”.

O exemplo mais ruidoso, porém, é o de Alexander Kravchenko, executado em 1983 pelo homicídio de uma criança de 9 anos. Mas quem matou a menina foi Andrei Chikatilo — membro do partido, pai de família, professor e acima de qualquer suspeita. Ele chegou a ser interrogado, mas não tinha o “perfil”.

Liberado, Chikatilo mataria mais 52 vezes.

Quando a verdade veio à tona no caso Gennady Mikhasevich (ocorrido na atual Bielorrússia), cerca de 200 policiais foram processados por abusos, mas apenas uma autoridade, o promotor Valery Soroko, recebeu uma pena real: quatro anos de prisão.

No caso Nikolai Fefilov, além de dois inocentes mortos, outros suspeitos com retardo mental foram acusados e condenados. Nenhum agente da lei foi responsabilizado.

Já o caso Andrei Chikatilo é um mar de gente inocente sendo presa, com alguns suspeitos cometendo suicídio (houve um momento da investigação que se acreditou que o serial killer fosse gay, então, homens gays começaram a ser presos aleatoriamente. Como na URSS era crime ser gay, alguns cometeram suicídio por medo de serem expostos ou acusados). Alexander Kravchenko, que foi erroneamente executado, só recebeu o perdão muito tempo depois. Ninguém na justiça queria admitir o erro, pois os que participaram do caso poderiam ser responsabilizados. Com muito custo, e apenas no quarto julgamento, o Supremo Tribunal russo admitiu o erro imperdoável.

Referências: [1] Казнили по ошибке: истории людей, которые доказывают, что высшая мера наказания не должна применяться никогда. Miloserdie.ru; [2] Lourie, Richard. Hunting The Devil: The Pursuit, Capture and Confession of the Most Savage Serial Killer in History. Harpercollins. 1993; [3] Kalman, Robert. Born to Kill in the USSR. FriesenPress. 2014. Edição do Kindle.

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Por:


Daniel Cruz
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