Tendo assassinado mais de 50 pessoas, Andrei Chikatilo, professor de literatura e engenheiro, pode ser considerado um dos serial killers mais prolíficos da história moderna. A polícia levou 12 anos para prender o avô de 54 anos que deixava para trás corpos terrivelmente mutilados por florestas da região de Rostov. No último sábado (14), fez 21 anos da execução de um dos mais famosos serial killers do mundo.
A sentença foi cumprida às 20h de 14 de Fevereiro de 1994.
Andrei Chikatilo havia sido condenado por 53 assassinatos de crianças, adolescentes e adultos entre 1978 e 1990. Ele confessou 56, e evidências apontam que ele matou muito mais. Seu primeiro crime ocorreu em 1978, quando ele matou e mutilou Yelena Zakotnova, 9 anos. Por esse crime, um inocente, Alexander Kravchenko, foi acusado e posteriormente fuzilado.
Na noite do dia 14 de Fevereiro, o governo russo emitiu a nota que muitos na Rússia esperavam ansiosos:
“O monstro sanguinário cuidava de si mesmo, sempre praticando exercícios e escrevendo cartas na esperança de que poupassem sua vida. A sentença foi executada às 20h. Isso aconteceu num porão de uma das instituições do Serviço Penitenciário após o Ministério Público apresentar o decreto do presidente Boris Yeltsin aprovando a execução.”
Oficialmente, a execução ocorreu na prisão de Novocherkassk, mas 21 anos depois, ainda há dúvidas. Muitos acreditam que Andrei Chikatilo foi executado em uma das prisões de Rostov-on-Don. Já outros teóricos da conspiração afirmam que ele não foi executado, sendo mantido vivo pelos russos para estudos científicos. De fato, na época, o mundo o queria vivo. Institutos psiquiátricos da Alemanha e Estados Unidos pediram ao governo russo para não executá-lo. Já os japoneses ofereceram US$ 1 milhão de dólares pelo seu cérebro.
Certo mesmo é que 21 anos depois um dos mais brutais serial killers da história continua mais vivo do que nunca, prova disso é “Child 44”, um dos mais aguardados filmes do ano e cuja história gira em torno dos cruéis crimes cometidos por Chikatilo.
Em sua versão online, o jornal russo Argumentos & Fatos publicou na última sexta-feira (13) uma entrevista com Issa Kostoyev, chefe da investigação que levou à prisão do serial killer. Kostoyev assumiu o caso em 1986, época em que a contagem de corpos mutilados encontrados em florestas da região de Rostov já passava das três dezenas. Kostoyev e companhia levariam mais quatro anos para prender “O Estripador da Floresta”.
Leia abaixo uma parte da entrevista.
Jornal Argumentos & Fatos (Rússia)
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Entrevista com Issa Kostoyev – publicado em 13 de Fevereiro de 2015
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Legenda: A&F: Argumentos & Fatos; IK: Issa Kostoyev
A&F: Hoje há uma discussão no país sobre a pena de morte e isso lembra a história de Alexander Kravchenko, que foi executado em 1983 por um crime cometido por Chikatilo. Eu sei que isso é um assunto doloroso, mas ainda nos pode dizer algo sobre isso? Como é que você soube que ele era inocente? Como você descobriu que a busca devia continuar?
IK: Chikatilo matou Yelena Zakotnova em 1978 e foi por esse assassinato que Kravchenko foi acusado. Zakotnova foi a primeira vítima de Chikatilo. Sobre esta investigação de assassinato eu não sabia de nada, e se eu soubesse a atividade criminosa de Chikatilo teria acabado muito mais cedo. Poucos sabem que Chikatilo foi absolvido desse crime. É claro que se excluirmos 55 mortes, duas, ou mesmo 10, isso não muda nada, ainda assim ele teria sido executado. Mas o importante é que ele poderia ter sido parado ali, é a coisa mais triste. Mas chegaram perto, entrevistaram sua mulher, fizeram outros movimentos, então veio Alexander Kravchenko. Ele morava perto do local da descoberta do corpo e havia sido condenado anteriormente por estupro. É simples: presos eram espancados sistematicamente, e ele confessou.
A&F: O que você sentiu quando soube que Kravchenko era inocente?
IK: Meu coração doeu quando eu li o diário de Kravchenko escrito na prisão. “O dia em que vocês terão vergonha de ter arruinado a vida de um inocente virá!”. Eram 40 folhas escritas de como o abuso o atormentava. Se eu estou no mundo para responder por que isso aconteceu, então ainda não consegui encontrar a justificativa. Eu sei como a pessoa que cometeu os piores crimes se sente no corredor da morte, ele vai a loucura com cada som, o balançar das chaves na fechadura. E então há alguém que não cometeu crime algum condenado à morte. E ele não pode provar para o estado que não é o culpado. Lembro-me de Kravchenko com muita dor. Eu enviei um oficial até a casa de sua mãe na Ucrânia com o papel de que ele era inocente. Ela era muito pobre e nem sabia que ele havia sido executado. “Vejo-o escrevendo algo, eu o vejo em um sonho… ele diz que sente frio”, disse ela ao oficial.
A&F: Você provou à Suprema Corte que Kravchenko era inocente?
IK: Sob pressão de provas conclusivas, a Suprema Corte foi forçada a cancelar o julgamento que condenou Kravchenko. Foi realizada outra investigação aprofundada e o processo contra ele foi arquivado. O tribunal aceitou o indiciamente de Chikatilo, mas após cerca de três anos a justiça abandonou o caso devido ao alto gasto de dinheiro público. Oficialmente, o assassino de Yelena Zakotnova é um ponto de interrogação.
A&F: Quais os procedimentos da operação “A Floresta”?
IK: Eu ficava dizendo aos investigadores que em um ambiente onde não há nenhuma evidência direta eles deviam olhar cegamente, um processo de eliminação, caso o homem passasse por nós… como aconteceu com Chikatilo. Ele era invisível, inofensivo. Esse foi o problema.
A&F: Como você se sente sobre Chikatilo? Quais as evidências contra ele?
IK: Eu tinha um perfil psicológico traçado por experientes profissionais. Senti que era Chikatilo quando recolheram o material biológico dele em 1984, muito antes da minha chegada. Como se viu, estes materiais ficaram armazenados durante muito tempo no Ministério da Administração Interna. Na época ele foi preso numa estação quando tentava seduzir sua próxima vítima, havia vaselina, cordas e uma faca em sua maleta. O fato é que neste momento, detetives de Rostov prendiam outras pessoas, adolescentes com problemas mentais. Eles usavam drogas, fumavam e faziam qualquer coisa para conseguir isso. Portanto, o aparecimento de Chikatilo neste momento não foi levado a sério. Durante vários meses investigamos ele, época em que ele foi acusado de roubar uma bateria. O seu passado me dizia que ele era culpado, Chikatilo foi demitido de uma escola por assédio sexual contra crianças. É uma história longa.
A&F: Que tipo de impressão você teve de Chikatilo quando ele foi detido? Você teve medo?
IK: Eu não tive medo. Quando eu interroguei ele, ficamos no centro de detenção da KGB, de modo que ninguém tivesse acesso a ele. Ficamos juntos durante nove dias, só eu e ele. Mesmo aqueles que trabalhavam comigo não sabiam o que estava acontecendo entre nós. Foi uma luta muito dura. Após admitir, ele passou a insistir que sofria de graves transtornos mentais e que devia ser tratado. Eu disse a ele: “Se você está doente, então você será tratado.” E até o momento do julgamento eu acreditava que ele seria absolvido.
A&F: Você acha que ele era doente?
IK: Eu não acredito que ele estava doente. Sim, ele tinha alguns desvios, mas ele estava completamente são. Apenas impotente em termos sexuais. Ele era um ressentido. Ele disse: “Eu sou uma pessoa educada, um homem saudável. Por que a natureza me privou do prazer? E outros, bêbados, podem?” Ele era muito inteligente e competente em questões operacionais, mas sexualmente fracassado… seus crimes foram um protesto, uma vingança desumana.
A&F: O que o Sr. acha sobre a pena de morte? Que punição merecem os serial killers?
IK: Repetidamente tenho falado sobre esse tema. Eu acredito que a pena de morte nas condições russas é necessária. Outra questão é que não deve haver nenhuma dúvida de que o suspeito é realmente o culpado. Se errarem, então as pessoas relacionadas ao caso – procuradores, juízes, policiais, inspetores -, independentes de sua posição, deverão ser responsabilizados. Infelizmente, a realidade é que, para os erros associados à morte de um inocente, ninguém responde.
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Fonte consultada: Jornal Argumentos & Fatos. Entrevista completa.
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