O rapaz ruivinho sem orelha da foto é John Paul Getty III, então aos 16 anos — a ovelha negra da família do bilionário do petróleo John Paul Getty. Existem muitos casos de meninos mimados crescidos em berço de ouro que normalmente não se dão muito bem na vida. Bom, pelo menos eles tem dinheiro o suficiente para escaparem de uma acusação de assassinato ou não serem presos em flagrante após matarem inocentes nas ruas com seu carrões.
Como muitos herdeiros inúteis de bilionários mundo afora, Getty III vivia metido em confusões. Por isso, quando ele desapareceu do mapa depois de uma noitada em Roma, Itália, em 10 de julho de 1973, ninguém da família deu muita importância. Dois dias depois, a mãe de Getty III recebeu um telefonema: seu filho havia sido sequestrado. Ninguém acreditou, achando que fosse mais uma das aventuras do “sem ideia”, crença que se solidificou ainda mais depois que os supostos sequestradores ligaram pedindo um resgate de apenas U$500 mil dólares, uma gorjeta para o garçom para quem é neto de bilionário.
Dias depois, os supostos sequestradores ligaram novamente e aumentaram o pedido de resgate: três bilhões de libras, cerca de cinco milhões de dólares, na época. Assustada, a mãe de Getty III decidiu pedir ajuda ao pai, o todo poderoso John Getty. “Tenho 14 netos, se pagar resgate, terei 14 crianças sequestradas. Atender às exigências de criminosos e terroristas apenas garante o crescimento e a difusão do desrespeito à lei!”, disse o bilionário.
Getty II, pai de Getty III, também tinha apreço aos seus dólares e, da mesma forma, se recusou a pagar o resgate. A lenga-lenga irritou os sequestradores — sim, era um sequestro real. Quatro meses após o rapto, um pacote contendo mechas de cabelos ruivos e uma orelha humana chegou até a sede de um jornal italiano.
“Esta é a orelha de Paul. Se não recebermos algum dinheiro em dez dias, a outra orelha chegará em seguida. Em outras palavras, ele chegará em pedacinhos”, dizia um bilhete.
Mas nem a mutilação do neto convenceu o velho lobo Getty a pagar o resgate. Ele veemente se recusou. Após muita pressão e insistência, ele concordou em desembolsar 2,2 milhões de dólares e emprestou (com juros de 10%) 1 milhão ao seu filho, Getty II, para completar a quantia — bom, agora sabemos porque ele se tornou um bilionário. Imagino que suas empresas deviam ter um ótimo ambiente de trabalho, sem exploração da mão de obra e total respeito às leis trabalhistas.
Getty III foi libertado no sul da Itália no dia 15 de dezembro de 1973. A polícia prendeu sete sequestradores, mas apenas U$ 17 mil dólares do resgate foram recuperados.
O garoto casou-se um ano depois com uma alemã, fato que irritou profundamente o seu avô, que o deserdou. Em 1975, nasceu o seu filho, Balthazar Getty, que se tornaria um famoso ator de Hollywood, tendo atuado em filmes de sucesso como Assassinos por Natureza, Jovem Demais Para Morrer e nas séries Alias e Brothers & Sisters.
A vida para Getty III, entretanto, parecia destinada ao sofrimento. Depressivo devido ao rompimento com o pai e avô, que custaram a pagar o seu resgate e viciado em drogas, em 1981, ele sofreu uma overdose que o deixou mudo, parcialmente cego e paralítico. Seu pai, Getty II, recusou-se a cuidar do filho e ele passou o resto dos seus dias confinado a uma cadeira de rodas.
Getty III foi um jovem rico e mimado que aprendeu na pele que o real significado da vida é amar e ser amado.
John Paul Getty III faleceu em fevereiro de 2011, aos 54 anos, ainda refletindo suas mais conscientes palavras escritas ainda na sua adolescência:
“Coitado do rico. Eles são os pobres desta terra. Eles são uma minoria cuja desnutrição vem do espírito.”
Uma ótima matéria publicada no britânico Daily Mail, sobre Getty III, pode ser lida no link a seguir: Clique aqui.