O norte-americano Rufus Choate (1799-1859) foi um dos maiores advogados do seu tempo. Sua mente brilhante aliada à oratória extravagante, o ajudaram a ganhar inúmeras batalhas durante o século 19 nos tribunais de Massachusetts. Era um advogado único. Ele combinava a diligência de um estudioso com o sentimento inflado de um ator em cena. Conseguia deslumbrar (e influenciar) os jurados com seu apelo emocional e suas retóricas cuidadosamente fundamentadas. Conquistou inúmeras vitórias em alguns dos mais célebres casos criminais da época. E um desses casos atende pelo nome de Albert Tirrell.
Vindo de uma família respeitável de Massachusetts, o jovem Albert Tirrel, 21 anos, deixou toda sociedade boquiaberta quando largou a mulher e os dois filhos para ficar com Maria Ann Bickford, uma mulher extremamente linda e atraente. Mas Maria tinha um problema, ela era uma prostituta de luxo que trabalhava em um bordel da cidade de Boston.
Para desespero de Albert, sua nova mulher não abriu mão da boa grana que recebia dos ricões da cidade. Ela continuou se prostituindo. Em 27 de outubro de 1845, Albert esperou que Maria atendesse o último cliente, entrou no quarto e a assassinou brutalmente. Ele quase decapitou sua cabeça com uma navalha. Depois de matá-la, Albert ateou fogo no bordel.
E quem seus pais contrataram para defendé-lo no tribunal? Ele, o lendário Rufus Choate. Poderia o advogado livrar Albert da inevitável condenação?
O julgamento começou em 26 de março de 1856.
“Que prova existe de que ela não se levantou da cama, pôs fogo na casa e, no frenesi do momento, com força gigantesca, abriu mão da vida… suicídio é a morte natural da prostituta”, disse Rufus.
Mas a tese de suicídio foi prontamente refutada, afinal, nenhum suicida conseguiria quase separar a cabeça do corpo. Rufus então se apegou à segunda linha de defesa. Albert era sonâmbulo, e Rufus Choate alegou que seu cliente podia ter matado Maria em transe, enquanto dormia, “a insanidade do sono”, segundo ele. Na época, o sonambulismo era uma condição pouco compreendida.
Menos de duas horas de deliberação, em 30 de março, o júri anunciou o veredicto: Inocente! Foi a primeira vez na história que um advogado usou o sonambulismo como estratégia de defesa.
Mas parece que Albert Tirrel, além de assassino, era o tipo de pessoa que cuspia no próprio prato. Após a absolvição, ele exigiu que Rufus Choate lhe devolvesse metade dos seus honorários, já que sua inocência havia sido “óbvia demais”. O advogado, claro, não devolveu.
Um artigo completo (em inglês) sobre o assassinato de Maria Ann Bickford pode ser visto neste link.
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