Erzsébet Báthory: a condessa sanguinária que há 461 anos assombra o mundo

Durante anos, mulheres jovens desapareceram misteriosamente no noroeste do império húngaro. A maioria desses desaparecimentos aconteceu em vilas e cidades ao redor do castelo de Csejthe, habitado por uma...

Durante anos, mulheres jovens desapareceram misteriosamente no noroeste do império húngaro. A maioria desses desaparecimentos aconteceu em vilas e cidades ao redor do castelo de Csejthe, habitado por uma condessa, uma mulher nobre, de uma das famílias mais ricas e importantes da Europa. Boatos na região diziam que as jovens mulheres iam até o castelo e nunca mais eram vistas.

Alguns iam além e contavam que no castelo aconteciam coisas muito estranhas. Gritos de desespero eram ouvidos e o falatório era de que a moradora do lugar tinha pacto com o demônio e que ela estaria por trás das centenas de desaparecimentos na região. Ninguém, entretanto, ousaria incomodar uma pessoa da nobreza. Ano após ano pessoas viam as carruagens da condessa durante à noite com jovens mulheres dentro que nunca mais eram vistas. As famílias não podiam fazer nada a não ser chorar e rezar para que suas filhas ou irmãs voltassem para casa. Era assim que funcionavam as coisas. Os nobres tinham direitos, até o de torturar e matar.

Mas a coisa cresceu descontrolada e macabra e o boato se espalhou por toda a Hungria.

Em 1604, o ministro húngaro István Magyari foi até uma corte em Viena reclamar publicamente sobre os rumores de centenas de jovens de famílias de classes inferiores que estavam desaparecendo. Ninguém deu ouvidos, mas quando meninas nobres sumiram, as autoridades decidiram investigar o que acontecia nos aposentos do castelo da famigerada condessa. As mortes de jovens camponesas podiam ser toleradas, mas as de sangue azul não. O rei Mathias II autorizou o paladino György Thurzó a investigar o caso.

Thurzó e seus homens chegaram ao castelo no final de 1610 e encontraram um puxadinho do próprio inferno. Eles descobriram ossos e restos humanos. Havia cadáveres de meninas por todo o castelo, muitos sem os braços e os olhos. Um estava parcialmente queimado numa lareira, outros enterrados em covas rasas. “Nós presenciamos com horror os cães correndo com partes dos corpos das garotas em suas bocas,” escreveu Thurzó.

A QUEDA DA CONDESSA


Durante uma tarde em que, na penumbra do quarto, conversava com a senhora Condessa, que se queixava da perda da sua tão celebrada beleza, a bruxa Majorova garantiu-lhe saber por que motivo os banhos de sangue eram ineficazes.

De fato, a Condessa envelhecera; o corpo mostrava no espelho tantas vezes consultado o seu inexorável desgaste. “Mentiu pra mim!”, gritou ela à bruxa; És a maior desgraça de todas as que me aconteceram, os teus conselhos não conduziram a nada. As plantas balsâmicas, o sangue das garotas, nada resultou! Não só não me restituíram a beleza, como não evitaram o avançar da idade. Encontre uma solução ou morrerá!”

Majorova retrucou energicamente, dizendo à Condessa que lhe encontraria no inferno se ela lhe fizesse algum mal. Então disse: “Os banhos têm sido inúteis porque o sangue é de garotas do campo, de servas que pouco mais são do que animais; só o sangue azul poderá funcionar.”

Erzsébet Báthory ficou imediatamente convencida e, fascinada, perguntou se os efeitos demorariam muito a fazer efeito: “Dentro de um mês ou dois começará a ver a diferença”. Agora, tudo lhe parecia fazer sentido, de modo que empreendeu uma autêntica caçada por toda a Hungria às filhas de zémans, barões e cavaleiros da aristocracia camponesa. E foi uma caçada implacável.

As criadas da Condessa foram de aldeia a aldeia batendo nas portas dos nobres das províncias. Usando os floreados da língua húngara, elas faziam saber que a senhora do castelo de Csejthe estava a procura de moças nobres, a quem iniciaria nas regras da civilidade e das boas maneiras e ensinaria línguas. Em troca, a nobríssima Condessa só pedia a companhia das donzelas novinhas e virgens durante o rigoroso inverno que se aproximava.

Vinte e cinco moças foram angariadas por aquelas diabas em forma humana. Duas semanas depois só restavam duas. Elas não durariam muito e a condessa pediu mais.

Um conselho errado pode destruir a vida de alguém. A pior homicida mulher da história seria destruída de uma forma ou de outra, mas o conselho final de sua feiticeira particular colocou um fim a uma onda de matança até hoje não vista na história do crime.

Os documentos do julgamento de Erzsébet Báthory foram encontrados 160 anos depois. O papel estava tão bolorento e comido pelos ratos que só a muito custo foi possível ler a última página referente à sangrenta história da condessa. Os originais foram passados de mão em mão e hoje repousam nos Arquivos Nacionais da Hungria, em Budapeste.

Zavodsky, o secretário de Thurzó, escreveu em 7 de Janeiro de 1611 que: “…o paladino, meu amo, ouviu falar dos rumores que corriam e decidiu ir em pessoa a Csejthe para falar com a tão bela quanto temível Erzsébet Báthory, a muito nobre viúva do senhor conde Nádasdy, que se dizia culpada das mais horríveis atrocidades e de toda a espécie de agressões cometidas contra pessoas do sexo feminino. Já há muito tempo que tais coisas se passavam e cerca de 600 jovens moças teriam sido martirizadas”.

Já o rei Matthias II, indignado, enviou uma carta a Thurzó datada de 14 de janeiro de 1611. Escreveu o rei da Hungria:

“Pelo menos 300 meninas e moças, entre nobres e gente do povo, que nenhum mal haviam feito e sempre obedeceram às ordens da sua ama, foram mortas da forma mais desumana e cruel. Ela cortava os seus corpos aos bocados, que depois punha a assar ao fogo; algumas eram mesmo obrigadas a comer a sua própria carne…”.

Manuscritos da época esccritos em latim confirmam a história, alguns lamentando o fato de uma mulher de beleza tão lendária ter adentrado em domínios tão obscuros.

O sangue azul de Báthory a poupou da execução. Condenada à prisão perpétua, ela foi emparedada dentro do seu próprio quarto em Csejthe. Já seus cúmplices servos não tiveram tanta sorte.

Ilona Jó e Dorkó foram condenadas a terem os dedos decepados antes de serem queimadas vivas. Jó desmaiou após ter o quarto dedo da mão cortado e foi amarrada ao poste da fogueira inconsciente. Já Dorkó desmaiou ao ver Ilona Jó ser queimada. O cúmplice Fickzó teve uma pena mais branda: por não ter participado de todos os assassinatos, foi condenado a uma morte rápida por decapitação antes de ser atirado ao fogo.

“As orações destas virgens foram ouvidas no Céu e do Céu chegaram até Nós; por Nós se manifesta a ira de Deus.” [Matthias II, 1611]

A ata do julgamento da Condessa Erzsébet Báthory foi encontrada em 1729 por um padre jesuíta chamado Laszló Turóczi, que posteriormente escreveu uma monografia sobre a nobre mulher. Até o século passado, essa obra só existia em latim. Em 1908 foi traduzida para o húngaro por um morador da própria Cachtice, Dezsó Reza, que cresceu brincando com seus amigos no castelo. Reza incluiu vários anexos, como cartas da condessa ao marido, do filho Pál Nádasdy, de Thurzó, padres etc. Em 1962, a poetisa, historiadora e escritora francesa Valentine Penrose publicou seu livro sobre a condessa baseada numa extensa pesquisa de obras e documentos disponíveis em bibliotecas da França, Inglaterra e Áustria. O trabalho de Reza só pode ser achado nos arquivos húngaros de Budapeste.

Referência: Penrose, Valentine. Erzsébet Báthory – A Condessa Sanguinária. Assírio & Alvim. 2004.

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Daniel Cruz
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