Um serial killer mata três garotas de programa a tiros em apenas dois meses, depois tira 10 anos de férias. E aí reaparece para tirar a vida de uma outra garota de programa. Parece roteiro de filme, mas segundo as autoridades do sul da Flórida a história é pura verdade.
O assassino em questão seria Robert Tyrone Hayes, um homem graduado em direito que segundo os promotores ficou impune até 2019, quando exames de DNA – além de outras evidências – o ligaram a três assassinatos em Daytona Beach e um quarto no Condado de Palm Beach. Agora, a acusação tenta convencer um juiz a deixar que eles apresentem a um júri o argumento de que o mesmo criminoso foi responsável por todas as mortes, porque as evidências estão “incontestavelmente interligadas”.
“Aqueles não foram encontros aleatórios entre o acusado e garotas de programa locais, mas programas planejados que terminaram todos de maneira semelhante, com o assassinato da garota de programa e o abandono do corpo em uma área remota.”
– Andrew J. Urbanak, Procurador-Assistente do Condado de Volusia
Robert enfrentará dois julgamentos separados pelos assassinatos em Daytona – cidade mais populosa do Condado de Volusia – e no Condado de Palm Beach, mas não se sabe quando e qual deles começará primeiro.
Para os promotores de Volusia, o mais importante é mostrar aos jurados como Robert finalmente foi identificado quando seu DNA foi encontrado em 2016 na vítima do Condado de Palm Beach, mais de uma década após os assassinatos de Daytona Beach. Caso contrário, serão obrigados a tentar a condenação pelas três mortes em Daytona sem poder mencionar como Robert foi finalmente capturado.
“Sem a apresentação desta prova, o júri teria que imaginar o porquê de o caso ter sido reaberto no final de 2016 / começo de 2017 e talvez questionar o envolvimento significativo (da Polícia do Condado de Palm Beach) na investigação”, explicou Urbanak em novembro.
Enquanto elaboram sua teoria para ligar todos os assassinatos, os oficiais apresentaram um esquema bastante claro sobre o porquê de acreditarem que Robert é o culpado, seja qual for a tese apresentada pela defesa:
- Investigadores coletaram o DNA do mesmo indivíduo em uma vítima de 2005, Laquetta Gunther, e numa vítima de 2006, Iwana Patton, ambas em Daytona. Mas ainda não faziam ideia da identidade do homem até que um banco de dados computadorizado mostrou que o mesmo DNA havia sido coletado na vítima de 2016, Rachel Bey, no Condado de Palm Beach.
- Os esforços na tentativa de identificar o DNA levaram os policiais a Robert Hayes. E isso aconteceu por pura sorte: o DNA coletado nas vítimas bateu com o de uma pessoa desconhecida – provavelmente um parente de Robert – que aparentemente foi fornecido a uma empresa especializada em pesquisas genealógicas.
- As pessoas fornecem DNA a essas empresas para descobrirem seus ancestrais, e a polícia pode acessar alguns desses dados. Graças a essa pista, posteriormente os investigadores conseguiram coletar o DNA de Robert e o ligaram de forma conclusiva às três vítimas.
- As autoridades sabiam desde o começo que a mesma arma – uma Smith & Wesson .40 – foi usada para matar Iwana Patton e outra vítima em 2006, Julie Green. Os investigadores descobriram que Robert comprou uma arma e munição desse modelo numa loja em Daytona pouco antes de Laquetta Gunther ter sido assassinada.
De acordo com o auto de prisão de Robert, em 13 de setembro de 2019 agentes da força-tarefa de Foragidos do Escritório do Xerife do Condado de Palm Beach observaram Robert fumar um cigarro e jogá-lo fora enquanto esperava um ônibus perto de sua casa. Os agentes recolheram a bituca e a enviaram ao laboratório.
Após a análise de DNA os investigadores conseguiram evidências de que Robert Hayes poderia ser a pessoa que atirou em Iwana Patton, de 35 anos, Julie Green, de 34 anos, e Laquetta Gunther, de 45 anos. Rachel Bey, a última vítima, foi morta por estrangulamento – segundo os investigadores, porque provavelmente Robert tinha jogado sua arma fora muitos anos antes.
“É necessário apresentar as evidências relativas ao assassinato de Bey porque elas estabelecem o contexto completo de como os crimes ressurgiram e fornecem um relato inteligente dos crimes processados”, escreveu Urbanak.
- Todas as quatro vítimas eram conhecidamente garotas de programa, mulheres cujos corpos foram encontrados em áreas afastadas quase que completamente nuas, de bruços.
- Todas as quatro vítimas tinham altura e peso semelhantes, e possuíam álcool ou narcóticos no sangue quando morreram.
- Todas as quatro vítimas foram assassinadas numa época em que Robert Hayes vivia nas redondezas. Ele estudou na Bethune-Cookman University em Daytona Beach de 2000 a 2006, e morava no Condado de Palm Beach desde o final 2012.
“Conseguimos tirar das ruas o que acreditamos ser um serial killer“, afirmou Ric Bradshaw, xerife de Palm Beach County, após a prisão de Robert. “Se não tivéssemos feito isso, temos absoluta certeza de que ele teria matado novamente“.
Entretanto, Robert agora está fazendo uso de sua formação em direito criminal, apresentando uma série de petições. Entre elas, alegações de que alguns dos defensores nomeados para ele o estariam encorajando a se declarar culpado pela morte de Rachel Bey, de 32 anos, a leste de Jupiter, em troca de um possível acordo de leniência.
“Como eu posso entrar num julgamento pela minha vida com… o chefe do escritório da Defensoria Pública desistindo antes de o jogo começar?”, escreveu Robert, se descrevendo como:
“Um homem inocente que continuará inocente até que provem sua culpa, e meus advogados deviam ter a mesma mentalidade”.
[Robert Hayes]
No mês que vem, Robert será transferido para a prisão do Condado de Volusia, como parte dos preparativos para as audiências preliminares sobre as acusações de homicídio qualificado.
Mas Robert aparentemente não tem do que se queixar em relação ao advogado Francis Shea, designado pelo tribunal para defender a vida dele nos processos referentes aos crimes de Daytona Beach, entre dezembro de 2005 e fevereiro de 2006.
Shea, de Jacksonville, contou ao The South Florida Sun Sentinel “que não tinha nenhuma dificuldade com ele“ e que as várias reclamações sobre as acusações no Condado de Palm Beach não estão “tendo efeito em nossos casos aqui“.
O advogado disse que não podia comentar a estratégia de defesa, mas ressaltou que está alinhado com o escritório de Palm Beach. Segundo ele, Robert “possui uma equipe de defesa muito boa lá, e eles estão fazendo um bom trabalho. Ele devia escutar seus advogados”.
Em um pedido para que as acusações de homicídio no caso de Rachel Bey fossem rejeitadas, Robert admitiu ter feito sexo com a vítima horas antes de sua morte e da descoberta do corpo dela em um canteiro de obras às margens da Beeline Highway. Isso destoa do que ele teria dito a um investigador após ser preso, quando afirmou que pagava frequentemente para fazer sexo com garotas de programa mas negou ter estado com Rachel ou sequer conhecê-la.
“Este encontro sexual não implica o Sr. Hayes na morte da Sra. Bey”, escreveu, referindo-se a si mesmo em terceira pessoa. Explicando sua negativa anterior, ele disse que na verdade não conhecia as garotas de programa com quem esteve em um nível íntimo.
A principal alegação de Robert em favor de sua inocência é que os detetives verificaram que Rachel supostamente foi vista viva por uma amiga às 2 da manhã do dia 7 de março de 2016, em uma rua de West Palm Beach. Robert alega que os registros de seu celular provam que ele estava em sua casa em Riviera Beach das 2:09 da manhã até o fim do dia, tornando impossível que ele a tivesse matado e descartado o corpo a quilômetros de distância.
A promotoria do Condado de Palm Beach, que não comenta processos em andamento, não pretende responder às alegações de Robert porque sua petição não será aceita pelo tribunal, já que ele possui um advogado.
O Procurador-Assistente Andrew Urbanak disse acreditar que a equipe de defesa de Robert alegará que as provas são apenas um amontoado de coincidências: o DNA em Laquetta Gunther e Iwana Patton foi parar lá por causa dos programas sexuais; e aconteceu de Robert comprar o mesmo tipo de arma usado nos assassinatos de Iwana Patton e Julie Green.
Ele acrescentou ainda que quando forem apresentadas as evidências do caso Rachel Bey, isso “refutará a previsível defesa de que o acusado teve relações sexuais com Iwana e Laquetta, mas não as matou”.
A segunda reviravolta veio com a revelação da identidade do suposto assassino, que não se encaixava no perfil traçado pela polícia.
Em 2006 o perfilador criminal Tom Davis, do Department of Law Enforcement na Flórida sugeriu que a polícia de Daytona procurasse por uma pessoa – provavelmente um homem branco – que descontava suas frustrações em mulheres. O especialista, em seu relatório, observava que alguém na vida do assassino – uma mulher – era a origem de sua frustração e que aquela pessoa também podia ser uma vítima.
A descoberta de que se tratava de um homem negro surpreendeu a polícia – que havia interrogado Robert duas vezes durante a investigação por causa da compra da pistola Smith & Wesson.
“Acho que é uma pena porque isso cegou um monte de gente, incluindo a polícia, que procurou por uma pessoa que não estava lá”, afirmou Aneesah Farris, sobrinha de Iwana Patton. “Aquele detalhe (a etnia apontada pelo perfil psicológico) distraiu as pessoas”.
Fonte consultada: Four murders, then the breakthrough: How DNA led to this serial killings suspect in Florida. Sun Sentinel.
Por:
Universo DarkSide Books
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