Por uma década, o serial killer Zhao Zhihong insistiu que havia estuprado e matado uma mulher em 1996, e que o homem executado pelo crime era inocente.
Em Abril de 1996, o adolescente Huugjilt, 18 anos na época, chamou a polícia após encontrar um corpo em uma fábrica de confecções. Ele foi preso, e após dois dias de interrogatórios confessou o crime.
Nesta segunda-feira (09), a imprensa estatal chinesa informou que um tribunal na Mongólia Interior condenou Zhao por estupro e homicídio e o sentenciou à morte, anulando assim o veredito dado a Huugjilt 18 anos atrás.
Zhao Zhihong foi julgado pela Corte Popular Intermediária de Hohhot, capital da Região Autônoma da Mongólia Interior, no norte da China. Zhao, 42 anos, foi condenado à morte pelo tribunal e teve seus direitos políticos cassados de forma perpétua pelas acusações de assassinato, estupro, roubo e estelionato. O tribunal multou-o em 53 mil yuan (pouco mais de R$ 23 mil reais) e condenou-o a pagar 102.768 yuan (pouco mais de R$ 45 mil reais) como compensação às famílias das vítimas – da mulher morta e de Huugjilt. Zhao foi preso em 2005 e confessou uma série de estupros e homicídios, incluindo o ocorrido em um banheiro público em Hohhot, 1996, crime pelo qual o jovem Huugjilt, conhecido apenas pelo primeiro nome, havia sido injustamente condenado e executado. A decisão veio pouco menos de dois meses após Huugjilt ter sido postumamente absolvido pelo crime, em dezembro de 2014. Os pais dele estiveram no tribunal nesta segunda e choraram ao ouvir o veredito dado a Zhao.
Huugjilt foi condenado em um julgamento convocado às pressas e executado por um pelotão de fuzilamento em junho daquele ano. O caso teria sido relegado ao esquecimento se não fosse pela prisão de Zhao, que confessou 10 assassinatos, incluindo o da mulher na fábrica. No entanto, as autoridades optaram por não reabrir o caso, e Zhao foi acusado apenas pelos outros nove crimes.
Recentemente, vários casos em que um suspeito foi executado por um crime mais tarde confessado por outro começaram a atrair atenção popular na China, justamente pelo problema dos erros judiciais. O caso Huugjilt foi reaberto depois de várias condenações terem sido anuladas. Seus pais começaram a fazer diversas aparições na imprensa estatal, aceitando um pedido de desculpas do tribunal e uma indenização de mais de 2 milhões de yuan (quase R$ 900 mil reais), como compensação pela execução injusta do filho deles.
Em Janeiro, Zhao foi novamente a julgamento, dessa vez por 10 assassinatos e não 9. Ele foi condenado por 10 acusações de homicídio e 13 outras, que incluíam estupro, roubo e estelionato.
Maya Wang, pesquisadora da Human Rights Watch em Hong Kong, afirmou que a decisão do tribunal de Hohhot de reabrir o caso é uma tentativa do governo chinês de combater “a falta de confiança da população no sistema judiciário chinês”. Ela afirma, no entanto, que isso não é o bastante.
“Na ausência de acompanhamento de organizações externas, quando a mídia independente, advogados e ativistas forem atacados e sofrerem repressão por parte do governo, provavelmente estas medidas terão apenas um impacto limitado”, disse ela.
O caso chinês lembra o de Alesandr Kravchenko, acusado e executado por um crime cometido pelo serial killer Andrei Chikatilo.
Com informações: Xinhuanet, Sinosphere.
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