Em março último, a genealogista genética Tracie Boyle compartilhou em seu perfil do Twitter um post da Astrea Forensics com enorme empolgação. Na legenda, ela escreveu: “Agora é MUITO possível obter DNA autossômico de cabelos sem raízes”.
It is now VERY possible to get autosomal DNA from rootless hair. Check out this post by Astrea Forensics: https://t.co/Hp4oX4kROR #coldcase #dna pic.twitter.com/SbHDp0nPpW
— Tracie Boyle (@boylegenealogy) March 15, 2022
Ao longo dos anos, criou-se o consenso de que fios de cabelo sem raízes não continham DNA. Mas, hoje, com a evolução cada vez mais rápida da ciência, acreditar no impossível é dar um tiro no pé. A revolução nessa questão veio em 2018, quando o cientista californiano Ed Green desenvolveu uma técnica para extração do DNA de fios de cabelo sem raízes. Posteriormente, ele fundou a Astrea. Especializada em recuperar DNA de amostras terrivelmente degradadas, essa empresa de biotecnologia utiliza o método criado por Green para gerar perfis de DNA. A aplicação de tal técnica em casos criminais é óbvia e quem gostou foram os genealogistas genéticos.
O HOMICÍDIO DE ANNE PHAM
Por 40 anos, o homicídio de Anne-Sang Thi Pham, de 5 anos, foi o maior mistério criminal de Seaside, no norte da Califórnia. Não havia violência na pacata cidade e os habitantes acreditavam viver em um lugar seguro. Ainda assim, a mãe de Pham a levava todos os dias para a escola, que ficava a apenas três quadras de onde morava a família. Mas em 21 de janeiro de 1982, a garotinha insistiu para ir sozinha. Ela já era “grande”, afirmou. Sua mãe riu e acatou o desejo da pequena. Pham nunca chegou à escola. Seu corpo foi encontrado dois dias depois em uma área de mata — ela foi violentada e estrangulada.
Por décadas o crime ficou sem solução. Em 2020, o caso foi reaberto e se tornou a prioridade número 1 das autoridades do condado. Um investigador de polícia aposentado foi contratado para liderar as investigações e, em fevereiro deste ano, a Astrea entrou em cena. Isso porque em 1982, peritos encontraram no cadáver de Pham alguns fios de cabelo, possivelmente do assassino. Aplicando sua inovadora técnica, a Astrea foi capaz de gerar um perfil de DNA, então, outra empresa, a Parabon Nanolabs, especializada em genealogia genética, criou a árvore genealógica do assassino.
Na última quinta-feira, 7 de julho de 2022, o monstro foi preso. Quem era ele? Um vizinho de Anne Pham.
O assassino, Robert John Lanoue, de 70 anos, foi preso na última quinta-feira, 7 de julho de 2022, em sua casa, em Reno, Nevada. Em 1982, ele morava em Seaside e era vizinho da família Pham. Lanoue era um predador que ficava observando as crianças indo e vindo da escola do bairro. Se foi um crime de oportunidade ou se ele espreitava crianças não se sabe, o fato é que ele viu Anne Pham sozinha na rua e a sequestrou, matando-a em seguida. Em 1998, ele foi condenado por possuir conteúdo de pornografia infantil e pedofilia. Ele passou mais de 20 anos preso antes de sair em liberdade condicional. O chefe de polícia de Seaside o chamou de “monstro” na entrevista coletiva. “Ele é cada pesadelo de alguém”. Esta será a primeira vez na história que alguém será julgado com base em provas de DNA extraídas de fios de cabelo sem raízes.
Lanoue ainda está em Nevada, aguardando extradição para a Califórnia.
Fontes consultadas: [1] Former soldier charged in 1982 rape, murder of California 5-year-old abducted on way to school. Fox 13 News; [2] Soldier Arrested 40 Years After Girl, 5, Was Abducted on Her Way to School and Later Found Dead. People; [3] Nevada man charged for 1982 murder of 5-year-old Anne Pham. KION News; [4] Tracie Boyle. Perfil do Twitter: @boylegenealogy; [5] Trust fund established. The Californian. 29 de jan. 1982. Página 16.
Escute os podcasts do OAV Crime em nosso site de podcasts ou no agregador de sua preferência.
Apoie o OAV
Apoie o nosso trabalho. O OAV Crime precisa do seu apoio para continuar a crescer, disponibilizando textos e podcasts de qualidade, assim como o desenvolvimento de outros projetos. Acesse a página abaixo e saiba como apoiar.
Por:
Texto
Assine o nosso projeto no Catarse
