Durante anos, membros da comunidade gay de Toronto alertaram que havia um serial killer à solta, que homens vulneráveis estavam desaparecendo, e que as ruas não eram seguras. Eles estavam certos.
No último dia 8 de fevereiro de 2019, Bruce McArthur, um paisagista de 67 anos e ex-papai noel de shopping, foi condenado à prisão perpétua, sem a possibilidade de liberdade condicional por 25 anos, sob oito acusações de assassinato em primeiro grau, pondo fim a um julgamento que abalou uma cidade (e um país) que gosta de se ver como inclusiva e segura.
McArthur foi acusado de matar e desmembrar oito homens entre 2010 e 2017; os cadáveres de sete deles foram escondidos em vasos, e do oitavo, em um barranco.
Em janeiro de 2019 ele se declarou culpado de todas as acusações .
O juiz do Tribunal Superior de Ontário, John McMahon, disse que McArthur provavelmente nunca será libertado. “A capacidade de decapitar, desmembrar suas vítimas e de fazê-lo repetidamente é pura maldade“, disse ele.
Em uma audiência de sentença condenatória que terminou no dia 5 de fevereiro, os canadenses ouviram como McArthur atraía e assassinava homens que conhecia no Gay Village de Toronto, e, logo após, colocava os cadáveres em trajes, mantendo fotos de cada vítima em pastas digitais catalogadas.
Eles descobriram que ele foi parado quando a polícia invadiu sua casa, encontrando um homem amarrado a uma cama. O tribunal testemunhou que ele era potencialmente a nona vítima, e que McArthur tinha uma pasta pronta.
Em uma cidade que se orgulha de ser gay-friendly e acolhedora a novos canadenses, McArthur procurava homens excluídos da sociedade devido a sua sexualidade, etnia, seu status de imigrante ou pela sua condição de pobreza. A maioria de suas vítimas eram refugiados ou imigrantes. Vários enfrentavam problemas com a dependência química. Alguns não haviam assumido que eram gays.
Os detalhes do caso são tão brutais, os crimes tão perversos, que as manchetes, às vezes, ofuscavam o fato de que oito homens – Skandaraj Navaratnam, Majeed Kayhan, Abdulbasir Faizi, Soroush Mahmudi, Kirushna Kumar Kanagaratnam, Dean Lisowick, Selim Esen e Andrew Kinsman – foram mortos.
Agora, com o fim do julgamento, os advogados querem retomar o foco no motivo pelo qual tantos precisaram morrer para que a polícia resolvesse o caso. Alguns argumentam que a resposta da polícia foi tardia devido à homofobia e ao racismo.
Questionada sobre as alegações de preconceito, Meaghan Gray, porta-voz da polícia de Toronto, disse que a corporação lançou duas investigações, os projetos Houston e Prism, “para fazer todo o possível” de modo a localizar os desaparecidos. “Continuaremos a fazer o que pudermos para oferecer apoio à comunidade e buscar oportunidades para melhorar nosso relacionamento“, declarou em um e-mail.
Em uma cidade que se orgulha de ser gay-friendly e acolhedora a novos canadenses, McArthur procurava homens excluídos da sociedade devida a sua sexualidade, etnia, seu status de imigrante ou pela sua condição de pobreza. A maioria de suas vítimas eram refugiados ou imigrantes. Vários enfrentavam problemas com a dependência química. Alguns não haviam assumido que eram gays.
Haran Vijayanathan, diretor executivo da Aliança do Sul da Ásia para a Prevenção contra a Aids, e defensor de longa data das vítimas e de suas famílias, elogiou a equipe de detetives que capturou McArthur, mas expressou a revolta de que parece ter sido necessário o assassinato de um homem branco, Andrew Kinsman, para que a operação fosse instigada.
“Este é um verdadeiro alerta para o Canadá“, declarou Vijayanathan.
A Gay Village de Toronto são alguns quarteirões de lojas, restaurantes e bares no coração da cidade. Foi ali, no início dos anos 1980, que as batidas policiais nas saunas estimularam o movimento pelos direitos dos gays no Canadá.
McArthur era frequentador da região. Kyle Rae, o primeiro vereador gay de Toronto, lembrou-se de tê-lo visto por lá. “Ele era um presença constante“, disse ele.
A primeira vítima a desaparecer foi Skandaraj Navaratnam, um refugiado do Sri Lanka. Ele foi visto pela última vez saindo de um bar em setembro de 2010. Em dezembro daquele ano, Abdulbasir Faizi, de origem afegã, desapareceu. Em 2012, Majeed Kayhan, também imigrante do Afeganistão, sumiu.
Os desaparecimentos acarretaram em uma investigação chamada projeto Houston, e os policiais interrogaram McArthur. Por fim, as tentativas foram dissolvida e os assassinatos recomeçaram.
Em 2016, McArthur prestou depoimento pela segunda vez depois que um homem alegou que o paisagista tentara sufocá-lo. Os detetives não prestaram queixas. O agente que assumiu o caso, o sargento Paul Gauthier, agora é acusado de má conduta profissional.
O caso ganhou notoriedade em junho de 2017, quando Andrew Kinsman, um ativista canadense, branco, com uma forte conexão com a comunidade, desapareceu. Em julho, o projeto Prism foi lançado para investigar seu desaparecimento e outro caso recente.
Muitos na comunidade afirmam que estavam convencidos de que um serial killer estava à solta, uma ideia que a polícia rejeitou cerca de um mês antes de McArthur ser pego. Qualquer semelhança com o pior serial killer da história do Canadá, Robert Pickton, não é mera coincidência.
“Nós seguimos as evidências, e elas apontam para nós que isso não é o caso agora“, disse Mark Saunders, chefe da Polícia de Toronto, a jornalistas em dezembro de 2017.
O ex vereador Rae, declarou que a resistência em acreditar que poderia haver um serial killer reflete a necessidade da cidade em acreditar que ela era segura. “Isso faz parte da cultura de Toronto e do Canadá. Nós somos ‘Toronto, o bem’. Isso não pode acontecer aqui. Mas esse tipo de assassinato pode acontecer aqui“, declarou.
Fonte: Toronto’s Gay Village serial killer jailed for life – Straits Times;
Com colaboração de:
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