Eu só quero dizer seu nome, Jun Lin.
O julgamento de Luka Magnotta corre e a vítima deste horrendo crime continua marginalizado, reduzido a um jogador periférico.
É tudo sobre Magnotta. Na verdade, sempre foi sobre Magnotta. Lin está morto, seu corpo picado foi remontado no necrotério, da melhor maneira que podiam fazer.
A história de Lin – seus amores, suas aspirações na vida, como ele escondia de sua tradicional família chinesa o fato de ser gay – todos estes detalhes, a soma de um homem, foram subconsumidos por uma narrativa de julgamento que o coloca em segundo plano. Tudo o que os jurados podem ver sobre ele são as grotescas imagens do vídeo gravado por Magnotta e postado na web. Imagens que nunca irão desaparecer da mente dos jurados.
Esta é uma ocorrência comum em julgamentos de assassinatos, mesmo os sem precedentes como este. E a vítima torna-se mais invisível ainda quando a guerra gira em torno do estado mental do acusado no momento em que ele cometeu os crimes.
A defesa pede a declaração de “não responsável criminalmente”, argumentando que Magnotta é um esquizofrênico com vários distúrbios de personalidade, assim, ele não seria capaz de entender o que estava realmente fazendo quando serrou a cabeça de Lin e sodomizou o seu cadáver. “Ele não teve uma ereção”, disse o advogado de defesa Luc Leclair.
Com Lin efetivamente rebaixado a um ruído de fundo, Leclair concentra seus esforços em montar uma espécie de tour virtual pela cabeça de Magnotta. Tudo sob orientação de psiquiatras que o atendeu desde a adolescência. Um dos últimos a testemunhar foi o Dr. Thomas Barth, um alemão que atendeu Magnotta entre os dias 4 e 16 de Junho em Berlim, após o suspeito ser preso em um cibercafé da cidade.
“Este é um hotel cinco estrelas em comparação [com as prisões da Turquia]“, disse Magnotta ao psiquiatra na primeira sessão entre ambos. Não se sabe se Magnotta já esteve na Turquia, talvez ele estivesse pensando no filme “Expresso da Meia-Noite”. O ator pornô sempre pensava sobre a fama e o cinema (ele até alegou que foi visitado por Marilyn Monroe na cela e ambos bateram um animado papo).
Em qualquer caso, Barth reconheceu que ele optou por uma “abordagem suave” durante seu questionamento e não contestou as afirmações de alucinações do paciente. Magnotta disse ouvir vozes em sua cabeça e acreditava que uma bruxa de nome Debby o vigiava constantemente. “Você tem que acrediar em um paciente. Caso contrário você não poderá tratá-lo. Este homem estava em uma condição mental grave. Nós suspeitamos que ele experimentara um episódio psicótico”, disse o alemão para o júri.
Embora sem foco, desorganizado em seu pensamento, pulando de assunto em assunto na conversa e constantemente expressando ansiedade e depressão, Magnotta parecia essencialmente cooperativo e benigno em suas trocas com Barth – a tal ponto que, incomum para ele, o psiquiatra mudou as sessões para o seu próprio escritório não-oficial. Até mesmo enfermeiras da ala psiquiátrica, disse Barth, sentiram simpatia por Magnotta durante sua estadia de uma semana em Berlim.
Enquanto o advogado Leclair pressionava o psiquiatra para um diagnóstico de esquizofrênico paranoide, o médico deixou claro que ele não poderia fazer esse diagnóstico, porque ele só tratou do réu durante uma semana. No entanto, Barth foi consistente em sua observação de que Magnotta mostrou sintomas de psicose. O psiquiatra até enfrentou o promotor Bouthillier, que questionou o fato de Magnotta ter saído uma noite em Berlim para curtir a cena gay da cidade. Barth disse que as pessoas podem se comportar normalmente antes ou após um surto psicótico.
O promotor expressou ceticismo pelos sintomas ditos por Magnotta ao psiquiatra. Ele estaria mentindo. “É possível que ele estivesse fingindo esses supostos sintomas para que você pudesse registrá-los?”, perguntou Bouthillier.
“Eu lido com um monte de pacientes que tentam agravar seus sintomas ou falsos sintomas. Estou sempre ciente disso, especialmente em um caso grave. Eu não tive um momento sequer de desconfiança, e ninguém mais da nossa equipe que lidou com ele pensou que ele não estivesse em uma condição mental grave. Ele obviamente estava psicótico.”, respondeu Barth.
Bouthillier mostrou a Barth um resumo da alta de um hospital em Miami onde Magnotta passou 48 horas no início de 2011. Os registros afirmam que Magnotta não tinha antecedentes psiquiátricos, não sofria de alucinações e estava “apto a ser considerado sem problemas psiquiátricos”.
“Será que eles não fazem o seu trabalho?”, perguntou Bouthillier.
Barth se disse surpreso com a informação. “Muitos pacientes com doença psiquiátrica se sentem estigmatizados. Eles não falam sobre isso. Eles tentam esconder seus registros psiquiátricos.”
O promotor disse que Magnotta também havia sido tratado no Hospital Jewish General em Montreal apenas dois meses antes do crime. Na época ele negou ter sintomas psicóticos.
“Você acha que em 11, 12 de Junho” – quando Barth o estava tratando – “o Sr. Magnotta o estava enganando? Que ele estava montando sua defesa? Ele queria que você acreditasse que ele era louco. Ele queria que o mundo acreditasse que ele era louco.”, perguntou o promotor.
“Eu não uso a palavra louco. Eu ainda acredito fortemente que o Sr. Magnotta estava gravemente doente no momento em que o tratamos em Berlim.”, finalizou Barth.
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- A história completa de Luka Magnotta pode ser lida no post 1 Lunático 1 Picador de Gelo.
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Com informações: The Star
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