Dicas de Filmes: IT – Uma Obra-Prima do Medo

Um grande filme de horror deixa sempre uma impressão duradoura em quem assiste. Eu, por exemplo, nunca mais fui o mesmo após assistir Tubarão. Sempre fico desconfiado ao entrar...
Dicas de Filmes - IT Uma Obra Prima do Medo

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Um grande filme de horror deixa sempre uma impressão duradoura em quem assiste. Eu, por exemplo, nunca mais fui o mesmo após assistir Tubarão. Sempre fico desconfiado ao entrar no mar (às vezes, até em uma piscina). Se alguém menciona “acampar”, eu imediatamente me lembro de Sexta-Feira 13 e penso: vou ou não vou? Certa vez, saí com amigos para uma festa no interior e, ao voltar de madrugada, tivemos um problema no carro, paramos num posto de gasolina abandonado e eis que, enquanto trocávamos o pneu, surgiu, no meio do nada, uma figura vinda da escuridão, vestindo apenas um short (era inverno e estava frio pra c@$%*!&). Sim, eu logo pensei em o Massacre da Serra Elétrica e outros filmes do tipo. “Talvez ele esteja com fome e tenha vindo aterrorizar os adolescentes desavisados.”. Grandes filmes deixam grandes marcas. Agora, filmes de terror, dependendo do quão impactantes são, podem deixar sequelas psicológicas.

Com relação a estes filmes, uma coisa tenho que admitir: sou um grande fã dos baseados nas obras de Stephen King. O escritor tem fornecido pesadelos ao mundo desde seu primeiro romance – “Carrie” (“Carrie, a Estranha”) -, publicado em 1974, e normalmente cede os direitos de adaptações de suas obras ao cinema e à TV. Me diga algo te deu mais calafrios que “O Iluminado” (“The Shining”)? Ou causou mais repulsa do que “Cemitério Maldito” (“Pet Sematary”)? E quanto à “Christine – O Carro Assassino” (“Christine”)? Quanto mais mergulhamos nas obras de King, mais somos puxados para o sombrio abismo chamado medo. E se por ventura você, um dia, chegar lá, poderá encontrar a mais assustadora e horripilante das criaturas: a “COISA”.

Publicado em 15 de Setembro de 1986 (e adaptado para a TV em 1990), o romance “It” (“Coisa“) possui incríveis 1142 páginas e é, de longe, um dos mais assustadores e incríveis romances de Stephen King. (Bom, pelo menos para este que aqui escreve). A história conta as aventuras de sete crianças aterrorizadas por uma entidade sobrenatural que explora seus medos e fobias. Crianças estão sendo mortas selvagemente na cidade de Derry, Maine, Estados Unidos, e, por algum motivo, somente estas sete crianças sabem quem está por trás das atrocidades. Elas o chamam de “It”. Para facilitar a caça de suas presas, a Coisa aparece principalmente na forma de um palhaço chamado “Pennywise, o Palhaço Dançarino” (todas as crianças gostam de palhaço, certo?). O romance, então, é contado através de narrativas alternadas entre dois narradores: o onisciente intruso, que se coloca onde quer na história, e o onisciente neutro, que a narra em terceira pessoa.

IT – Uma Obra-Prima do Medo


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Capa do Romance “IT”, de Stephen King. Créditos: Wikipedia.org.

Como eu disse, o romance possui 1142 páginas. Adaptá-lo para a TV, então, não foi tarefa fácil. Como comprimir um romance tão rico para a TV sem perder sua originalidade? Se os produtores optassem por um filme comum, com cerca de uma hora e meia de duração, perderiam muito de sua essência. Por outro lado, as pessoas podem passar até três horas vendo um filme no cinema, mas na TV isso não funciona; acabou então que foi escolhida a segunda opção: um filme de três horas, mas dividido em duas partes.  It (It – Uma Obra Prima do Medo, no Brasil) foi originalmente transmitido pela ABC nas noites de 18 (parte 1) e 20 (parte 2) de Novembro de 1990. É óbvio que nada substitui a obra original (e nem preciso dizer que muitas partes do livro são ignoradas no filme), mas as três horas de filme conseguem SIM levar a essência do romance para o público. Outro ponto de destaque é a capacidade do filme em fazer com que você não vá embora. Lembro de quando fui ao cinema assistir ao Senhor dos Anéis: no auge dos meus 18 anos, cheio de saúde e hormônios, consegui dormir em pleno cinema. Nada foi mais tedioso e torturante para mim do que ter que passar três horas dentro de um cinema assistindo a este filme (o que você não faz para primos que vem do interior); já as três horas de It tiveram o efeito oposto: me fizeram ficar com os olhos mais abertos do que os de criança quando escuta história de fantasma. E isso é um bom sinal.

O filme


Estamos em Derry, Maine. Crianças estão sendo assassinadas de forma cruel e evidências sugerem que partes de corpos foram comidas. A polícia parece mais perdida que cego em tiroteio, porém, um morador local, Mike Hanlon (Tim Reid), não. Após encontrar a fotografia de uma criança na cena do desaparecimento de uma garotinha, Mike tem a certeza de quem está por trás dos assassinatos.

Voltando ao passado, ele se lembra de quando era criança e de como ele e seis outros amigos enfrentaram o ser responsável por aquelas atrocidades e que agora, por algum motivo, havia voltado. Mike e seus amigos o chamavam apenas de “It”. It era uma entidade que aparecia na forma de um palhaço chamado Pennywise; ele vivia nos esgotos da cidade e surgia em qualquer lugar que estivesse ligado ao sistema de canalização. A Coisa caçava crianças, ludibriando-as com balões e as devorava em seguida.

Trinta anos depois, com seis novos assassinatos em Derry, Mike conclui que é hora de telefonar para seus seis amigos – que vivem em diferentes lugares dos Estados Unidos e Inglaterra – para lembrar-lhes de uma promessa que haviam feito quando crianças: se a Coisa voltasse, eles teriam que combatê-la novamente. A cada telefonema de Mike, um flashback contando a história de infância dos seus amigos é mostrada.

O primeiro a receber o telefonema é Bill (Richard Thomas), um famoso escritor de horror que mora com sua esposa na Inglaterra. Bill tem muitas contas para acertar com a Coisa, já que seu irmão mais novo, Georgie, foi uma das crianças assassinadas há trinta anos. Detalhe: foi a fotografia do irmão de Bill que Mike encontrou na cena do desaparecimento da garotinha.

Na foto: Essa talvez seja a mais famosa cena do filme. A Coisa em forma de palhaço dentro de um bueiro atraindo o pequeno Georgie para a morte.

Essa talvez seja a mais famosa cena do filme. A Coisa em forma de palhaço dentro de um bueiro atraindo o pequeno Georgie para a morte. Créditos: IT – Uma Obra-Prima do Medo.

O segundo a receber o telefonema é Ben (John Ritter), um arquiteto famoso que sofreu bullying na infância por ser gordo, mas encontrou nos amigos segurança. A terceira a ser avisada é Beverly (Anette O’Toole), uma mulher de sucesso que vive com seu marido violento e dominador. O quarto é Eddie (Dennis Christopher), empresário bem sucedido que mora com a mãe psicótica e dominadora. O quinto é Richie (Harry Anderson), um comediante e astro da TV americana. E finalmente Stan (Richard Masur).

Assombrados pelo passado e ao mesmo tempo temerosos em ter que enfrentar a Coisa novamente, os seis amigos vão ao encontro de Mike em Maine. Seis não, cinco, pois Stan, desequilibrado emocionalmente com o chamado, comete suicídio. Uma vez em Maine, os seis amigos são confrontados por seus piores pesadelos, com direito a assustadoras aparições da Coisa – que os adverte a deixarem a cidade o mais rápido possível. Segundo It, ele já pegou Stan, e o próximo poderá ser qualquer um deles.

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Cena do suicídio de Stan. Quando criança, Stan testemunhou a Coisa levando um garoto para o abismo do medo. Já adulto, e ao receber o telefonema de Mike, ele preferiu o suicídio a ter que enfrentá-la novamente. Créditos: IT – Uma Obra Prima do Medo.

A primeira parte do filme foca nos amigos enquanto crianças, como se conheceram e como cada um deles conheceu a Coisa. Os atores mirins são excelentes; eles conseguem transportar para a tela a essência dos personagens. Como todas as crianças, são naturais e sinceros, com sentimentos de companheirismo e compaixão. Todos se ajudam e a impressão que dá é de que nenhum deles, em nenhum momento, seria deixado para trás. Nesse ponto, não posso deixar de fazer uma comparação com outro grande filme de temática parecida: A Fortaleza.

Os atores que retratam as crianças quando adultos também fazem um ótimo trabalho. Não sei se vocês já perceberam, mas filmes realizados para a TV frequentemente possuem astros de segundo escalão; não coincidentemente a maioria desses filmes tem resultados pífios (que o diga a versão para a TV de “O Iluminado“). Mas esse não é o caso de It. Há muitos rostos conhecidos e consagrados aqui, como Harry Anderson e o falecido John Ritter.

À medida que o tempo vai passando, o filme permanece fiel ao coração do livro. Muita coisa foi eliminada, talvez por opção, talvez por falta de tempo (sim, três horas não são suficientes para a maioria dos romances de King). Como toda adaptação, o filme não é – e nem poderia ser – tão rico quanto o livro; muitas vezes, adaptações cinematográficas se tornam completamente diferentes, mas não é o caso aqui, e isto é um prato cheio porque quem já leu Stephen King sabe o que os espera.

O Vilão


Uma entidade demoníaca misteriosa, a Coisa, é um ser de origem desconhecida que ataca de tempos em tempos as crianças de Derry. Ele sabe como encontrar o medo em suas vítimas e usá-lo a seu favor. A Coisa, de alguma forma, consegue manipular as pessoas da cidade, prometendo-lhes seus desejos e manipulando suas mentes, daí os assassinatos em série de crianças nunca serem resolvidos, pois os adultos da cidade começam a agir como se nada tivesse acontecido ou simplesmente esquecem os fatos. Por vir de outra dimensão, de um lugar desconhecido, a Coisa não possui uma forma que pode ser compreendida pelo olho humano. Em sua forma mais pura, ela é uma mistura de luzes, as “Luzes da Morte”, que, se olhadas diretamente, podem levar qualquer um à loucura e, no pior dos casos, levá-los a um lugar pior do que a morte. A única forma animal percebida pelo olho humano é a de uma aranha gigante, que parece abrigar sua essência. Como dito anteriormente, a Coisa aparece para as crianças de Derry na forma de um palhaço, uma mistura de Ronald (o do McDonalds) com Bozo e Clarabell – alguns dizem que King pode ter se inspirado no serial killer John Wayne Gacy. Por que um palhaço? Porque essa forma facilita sua caça. A Coisa, então, é Pennywise, o Palhaço Dançarino, afinal, palhaços são engraçados e as crianças gostam deles, não é mesmo? Em tese sim, mas Pennywise é aterrorizante. Ele é esquisito, tem uma voz demoníaca e um olhar de um psicopata assassino. Sua aparência assustaria qualquer adulto, mas não as crianças de Derry. É muito interessante notar que, apesar de ser um ser completamente bizarro, as crianças não saem correndo ao vê-lo. Sim, elas podem se assustar, mas caem na conversa do palhaço e são levadas à morte. Para mim parece haver aqui uma mensagem implícita de King: a de que crianças não conseguem enxergar a maldade nos adultos. O tom de voz e o jeito de olhar de alguém poderia fazer com que nós adultos saíssemos correndo, mas crianças não conseguem enxergar por debaixo da máscara. “Não aceite doces de ninguém”, dizem 11 de cada 10 mães no mundo, “Mas por quê? Ia adorar ganhar aquele saco de balinhas do tio.” Pensamos muitos de nós quando pequenos. Pennywise seria, então, a figura desse adulto que usa uma máscara para adotar uma nova identidade, um disfarce facial, que esconde seus verdadeiros sentimentos para com os garotos. E é por serem assim, frágeis, que It os ataca. Como um predador, ele os espreita até estarem longe de seus pais. Se vierem de um lar disfuncional, melhor ainda. Alguma semelhança com serial killers da vida real?

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Tim Curry como o assustador Pennywise, o Palhaço Dançarino. Créditos: IT – Uma Obra Prima do Medo.

Não é exagero, mas o ator Tim Curry deu vida a um dos mais assustadores vilões da história do cinema e TV. Se Hannibal Lecter assusta por esconder sua essência debaixo de uma máscara, Pennywise assusta por ser ele mesmo. Ao contrário de Lecter, o Palhaço Dançarino não esconde sua verdadeira intenção daqueles que caça. Tudo bem que Lecter é um personagem humano e Pennywise uma entidade sobrenatural, mas quem se importa? Enquanto muitos vilões assustadores do cinema gastam horas engabelando suas vítimas com intuito de levá-las para a morte, Pennywise é direto: “Eu vou te pegar! E eu vou te comer! AHAHAHAHAHA!”. Como eu disse, os atores mirins são excelentes, assim como os que os interpretam quando adultos – com destaque para Annette O’Toole, que interpreta Bev -, mas como uma Scania sem freio, Tim Curry passa por cima e é sem dúvidas o grande destaque. Parece que sua forma de interpretar o maníaco Pennywise é a única possível e, dadas as exigências dos produtores, que logicamente pediram por algo mais caricatural do que puro horror, seu desempenho é brilhante. Sua performance sinistra já vale as três horas de filme. E pensar que o mesmo Tim Curry perdeu o papel do palhaço Coringa para Jack Nicholson no filme Batman, de 1989.

Dicas de Filmes - IT Uma Obra Prima do Medo - Frase

Não comentarei o final para não estragar a diversão de quem ainda não viu. O que posso dizer é que já vi muitos falarem mal do desfecho, e digo que tais comentários são próprios daqueles que não leram o livro e querem tirar conclusões de uma história contada na TV. Hoje vivemos num mundo onde pessoas leem um título de uma matéria compartilhada no Facebook e já comentam como se fossem especialistas, portanto não é surpresa que alguém veja o filme e venha com comentários dispensáveis ou conclusões errôneas. Pense no filme como uma cereja e no livro como o bolo. Se você tem acesso somente à cereja, como pode opinar sobre o bolo sem ter experimentado? Outra coisa que devemos estar cientes é de que literatura e cinema são coisas distintas. Produtos feitos originalmente para os dois obedecem requisitos específicos e diferentes, pois são mídias diferentes. Uma coisa é escrever um romance, outra é escrever um roteiro para um filme tendo que obedecer vontades de produtores, estúdio e público. Não é à toa que muitas adaptações para a TV ou cinema acabam sendo completamente diferentes dos romances em que se baseiam.

Finalizando, IT – Uma Obra Prima do Medo é indispensável para qualquer fã do gênero. É um clássico e, como diria Pennywise: “Há algodão doce e diversões e todo o tipo de surpresas aqui em embaixo. Você não gostaria de segurar um balão?”. E eu pergunto: Você não gostaria?

Colaboração de:


Revisão

Universo DarkSide – os melhores livros sobre serial killers e psicopatas

http://www.darksidebooks.com.br/category/crime-scene/

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"Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz." (Platão)
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