“O melhor filme canibal desde Ravenous”.
[Bloody Disgusting]
Quando uma tempestade torrencial atinge uma cidadezinha incrustada na cadeia de montanhas Catskill, nordeste americano, o horror começa a tomar forma: ossos humanos são trazidos à tona pela água. Trinta pessoas desapareceram nos últimos 20 anos, e parece que a tempestade trouxe de volta alguns dos desaparecidos. O mistério torna-se ainda mais intrigante quando, durante a tempestade, uma mulher de meia idade entra em colapso e cai dentro de uma vala cheia de água enquanto cospe sangue. Teria ela algo a ver com os desaparecimentos?
Somos o que Somos estreia em 6 de dezembro (2013) nos cinemas brasileiros. Distribuído pela DarkSide Entretenimento e Esfera Filmes, o filme aparece como uma excelente alternativa aos enlatados hollywoodianos como Sobrenatural: Capítulo 2, que estreou semana passada. Eu, particularmente, não vou ao cinema para assistir filmes em que o objetivo principal é causar sustos; sustos eu levo todos os dias ao acordar e me olhar no espelho. Não me agradam a maioria dos filmes de terror atuais. Todos muito previsíveis. Abusam de aparições repentinas, áudio gritante ao mesmo tempo em que uma assombração com os olhos esbugalhados pula na tela, encheção de linguiça em sequências dispensáveis, complexidade da história, que no final das contas leva a um final comum e esperado… A fórmula é batida, mas as pessoas parecem gostar, principalmente adolescentes. De qualquer forma, por essas e outras, acho Somos o que Somos uma pedida mais interessante e alternativa para quem, como eu, prefere um filme assustador, mas ao mesmo tempo mais cabeça.
O filme é um remake de Somos lo que Hay (2010), do mexicano Jorge Miguel Grau, e é um conto sobre a família Parker. Dado que o filme é um remake, eu poderia encher este texto de spoilers e estragar as surpresas, entretanto, o mexicano não chegou em terras tupiniquins e sua versão americanizada chega após dois meses da estreia nos Estados Unidos, então, que o melhor seja visto no escuro.
Grosso modo, Somos o que Somos não é um filme de terror, mas o seu tema principal não deixa de ser sinistríssimo.
O que posso dizer é que desde o início sabemos que há algo de estranho com os Parkers. O patriarca, Frank (Bill Sage), é um homem feroz e controlador, que não tem nenhum senso de humor e cria com mãos de ferro seus três filhos. Quando sua mulher morre de uma estranha doença, somos apresentados a um drama familiar, que é, digamos… pouco convencional.
Pra quem viu o trailer do filme (e também quem leu o último post publicado neste blog), a charada deste drama familiar é fácil de ser decifrada: canibalismo.
No trailer oficial (disponível abaixo), somos apresentados às palavras “kuru disease”, que em nossa querida língua significa “doença kuru”. Kuru é uma doença que foi descoberta na década de 1960 pelos médicos Michael Alpers e Carleton Gajdusek. A kuru quase dizimou a tribo Fore, naturais da Papua Nova Guiné, e atacava, em sua maioria, as mulheres da tribo. A epidemia do kuru só foi interrompida quando os médicos descobriram que o peculiar ato dos Fore de comer os cérebros dos seus parentes mortos era a causa da enfermidade.
Então agora vocês já sabem do que a simpática senhora de meia idade, que cai numa vala cheia de água enquanto cospe sangue, morreu. Também não preciso dizer que ela era a matriarca da família Parker.
Para complicar ainda mais a situação dos Parker, a tempestade causa inundações em toda a cidade, e consequentemente as erosões surgidas no solo fazem com que ossos humanos apareçam por todos os lugares.
A tensão do filme é construída, então, a partir das brigas entre Frank e seus filhos, e em como eles darão continuidade à macabra tradição familiar (já que era a mãe quem preparava todo o banquete canibal anual), e da investigação das autoridades dos possíveis assassinatos em série na região. Adicione-se a isso o médico da cidade, Dr. Barrow (Michael Parks), cuja filha é uma das 30 pessoas desaparecidas da região. Quando, num riacho, ele descobre evidências do que poderia ter acontecido com ela, temos mais uma ameaça para os Parker.
Canibalismo é uma prática atemporal e sabemos muito bem que, em tempos difíceis, nossos antepassados realizaram tal prática, e por isso a mesma está enraizada em nosso instinto de sobrevivência e codificada em nossos genes. Enquanto muita gente pode falar que tal prática é aberrante e nojenta, ninguém pode afirmar que, numa situação extrema, seja ela qual for, não recorreria ao canibalismo para sobreviver. A diferença aqui é que os Parker podem muito bem ir ao açougue da esquina comprar uma alcatra para comemorarem o feriado da família. Mas sua macabra tradição pede que o sacrifício seja outro. Nesse contexto, é grave ser um canibal. Agora, se você foi criado num ambiente onde seu controlador e impiedoso pai embrulhou durante anos tal prática num pacote de puro amor paternal, dizendo que a religião e a crença da família pedem pelo sacrifício de um semelhante, e que tal sacrifício é necessário para preservar sua própria vida, aí temos um espinhoso dilema moral para a geração Z dos Parker.
Trailer
Informações
Título: Somos o que Somos (We Are What We Are )
Direção e edição: Jim Mickle.
Roteiro: Nick Damici, Jim Mickle
Produçao: Rodrigo Bellott, Andrew Corkin, Nicholas Shumaker, Jack Turner, Nicholas Kaiser
Elenco: Ambyr Childers, Julia Garner, Bill Sage, Michael Parks, Kelly McGillis.
Distribuição: DarkSide Entretenimento e Esfera Filmes
Estreia no Brasil: 06 de dezembro de 2013
País: Estados Unidos
Sinopse: Em sua pequena cidade, os Parker são conhecidos por sua discrição e reclusão. Dentro de casa, o pai Frank cria a família com extrema severidade. Depois da morte brutal e inesperada da mãe, as irmãs adolescentes Iris e Rose precisam cuidar do irmão mais novo, Rory. Logo, porém, elas vão carregar um peso ainda maior, conforme se deparam com novas responsabilidades. Sob o comando do pai, precisam levar adiante e a todo custo uma tradição ancestral.
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