Para o mundo exterior, Richard Kuklinski era o típico pai americano que preparava churrascos para os seus vizinhos, levava a sua família em viagens anuais à Disneylândia e ia à igreja todos os domingos. Mas por detrás do terno alinhado e presença imponente, escondia-se um indivíduo raro: um assassino em série e assassino profissional que vitimou centenas de pessoas durante pelo menos trinta anos.
Em fevereiro último, o programa I Lived With A Killer do canal REELZChannel trouxe mais um capítulo da sangrenta história de Kuklinski no sexto episódio da primeira temporada – The Iceman Richard Kuklinski. O episódio é mais um produto televisivo a iluminar a face do monstro que admitiu ter matado mais de 200 pessoas até ser preso em 1986. Por anos, Richard Kuklinski matou sem pestanejar; uma vítima foi morta com uma flechada na testa só porque ele “queria saber se aquilo [besta] funcionava“; já outra teve a cabeça estourada no semáforo porque “ele olhou pra mim“; em uma viagem, um grupo de jovens mexeu com ele na estrada, então ele matou todo mundo. Mas ele ficou conhecido mesmo por congelar os corpos de suas vítimas numa tentativa de esconder a hora da morte e dificultar as investigações. Devido a isso ganhou o apelido de Iceman – Homem de Gelo.
As entrevistas com suas filhas Merrick e Christin revelam que, embora soubessem que o pai fosse raivoso e violento, elas não tinham a mínima ideia de que ele era um prolífico assassino. As garotas contam que chegaram a conspirar para tentar matar o pai em uma tentativa de parar a violência contra sua mãe, mas tiveram medo de levar seu plano adiante.
Aos 14 anos matou pela primeira vez
Kuklinski é filho de um pai alcoólatra e violento e de uma mãe extremamente religiosa, e desenvolveu sua sede de sangue desde muito jovem. Na verdade, a genética dos Kuklinski era dos diabos: o pai Stanley era um monstro que matou o próprio filho (Florian, 8 anos), irmão mais velho de Richard, a pancadas em 1941. Já Joseph, irmão mais novo de Richard, passou a vida inteira na prisão após estuprar e matar uma menina de 12 anos em 1970. Ao ser perguntado sobre o irmão pelo psiquiatra Park Dietz em uma de suas entrevistas, Richard simplesmente respondeu: “Nós viemos do mesmo pai“. Richard odiava o seu pai e na mesma entrevista a Park Dietz revelou que sonhava em matá-lo.
Aos 14 anos ele iniciou uma onda de assassinatos até hoje nunca vista nos anais do crime. O primeiro assassinato, ocorrido em 1949, foi a de um “valentão” que mexeu com ele. Ele o espancou até a morte com um taco de beisebol e enterrou o corpo na floresta. “Valentões” passaram a ser o tipo preferido de vítimas do adolescente Kuklinski. Muito alto, quase 2m de altura, de grande vigor físico e jovem, ele não tolerava nem que o olhassem torto. Aos 18 anos, assassinou um outro jovem, queimando-o vivo dentro de um carro só porque o garoto esbarrou nele em um bar.
Kuklinski afirma que nos 10 anos seguintes assassinou cerca de 100 pessoas antes de unir o útil ao agradável: já que ele gosta de matar, porque não ganhar dinheiro com isso trabalhando como assassino profissional para a máfia. Ele se apresentou para a família criminosa DeCavalcante em Newark, Nova Jersey, e passou a matar pessoas nas ruas apenas para “melhorar” o seu currículo.
Para Kuklinski, nenhum método estava fora de seus limites. Durante seus 30 anos de atuação o psicopata usou agulhas, armas, facas de caça, veneno, corda e um arco e flecha para matar. Sua técnica favorita era um frasco de spray nasal cheio de cianeto. Muitas dessas técnicas foram aprendidas com um homem que ele conheceu e se tornou seu amigo, Robert Pronge, um sinistríssimo assassino profissional que o próprio Kuklinski considerava “extremamente louco“. Pronge era um psicopata assassino treinado pelo governo americano que, ao se aposentar, decidiu continuar com o que gostava de fazer: matar. “Ele dirigia um caminhão de sorvetes da Mister Softee e enquanto distribuía sorvetes às crianças matava os pais dela“, disse Kuklinski a Park Dietz. A bizarra amizade entre dois dos piores psicopatas assassinos dos anos 1980 acabou quando Kuklinski meteu uma bala na cabeça de Pronge. Kuklinski era assim, seu conceito de amizade terminava no momento em que lhe dava na telha que o seu “amigo” não o servia mais. Ele também matava como uma forma de queima de arquivo.
Sobre o uso de motosserras, Kuklinski disse nunca ter usado porque “isso deixaria pedaços de carne por toda a minha camisa, por que eu iria querer estragar uma boa camisa?”
Uma de suas vítimas foi comida viva por ratos enquanto ele filmava
Kuklinski conheceu sua esposa Barbara Pedrici quando ele tinha 25 anos e ela tinha 18. Ele era charmoso e cortês, muitas vezes levando-lhe flores quando a pegava no trabalho.
Mas com o passar dos meses, Bárbara gradualmente foi se isolando de seus amigos e familiares. Ela passou a apanhar do namorado e quando ela disse que queria acabar o namoro de um ano Kuklinski a esfaqueou com uma faca de caça. Barbara sobreviveu ao ataque. Aterrorizada e certa de que Kuklinski a mataria se fosse embora, decidiu se casar com ele.
Quando se casaram em 1961, Kuklinski já havia cometido (oficialmente) 65 homicídios, por diversão, raiva, e por contrato; ele gostava de carros caros e roupas de marca.
Em 1972, Kuklinski recebeu uma oferta alta para aqueles tempos: dez mil dólares para matar um homem – e o dobro se o fizesse sofrer.
O incentivo financeiro levou-o a um novo e macabro nível de criatividade homicida.
A vítima nunca foi identificada e tudo o que se sabe da história veio da boca do próprio assassino. Kuklinski parou sua vítima em um sinal de trânsito e colocou uma arma em sua cabeça, forçando-a a entrar no porta-malas de seu carro. Richard, então, levou o homem para uma caverna na Pensilvânia, onde armou uma estrutura de filmagem, e o deixou lá para ser comido por ratos famintos.
Quatro dias depois ele voltou e encontrou apenas ossos humanos espalhados e sua câmera com uma filmagem que causou repulsa até mesmo em Roy DeMeo, o maior mafioso da Nova Iorque dos anos 1970 e líder da família criminosa Gambino. “Ele não tem alma“, teria dito DeMeo sobre Kuklinski. O mafioso, que havia encomendado a morte, supostamente não conseguiu ver a filmagem até o final.
Em outra ocasião, Kuklinski matou uma pessoa apenas para ganhar uma aposta. Ele apostou que se alguém levasse um tiro na garganta morreria em menos de dois minutos. Após atirar na garganta de um inocente que fez amizade, o homem agonizou por mais de dois minutos antes de morrer. Ele perdeu 72 dólares.
Queria matar meu pai para proteger minha mãe
A natureza violenta de Kuklinski continuou em casa. A família não sabia da sua vida como assassino, mas sabia o quão ele era violento. Richard frequentemente agredia a esposa pelo pescoço, estrangulando-a na frente dos filhos. Desesperada, a filha mais nova de Kuklinski, Christin, inventou um plano.
“Minha mãe e eu falávamos sobre como poderíamos matar meu pai porque era a única maneira de estarmos seguros“, diz ela no episódio. “Teria que ser uma garantia porque nunca teríamos uma segunda chance.”
O plano consistia em drogar com Valium Kuklinski com um bolo de carne, mas as duas ficaram com muito medo de colocar o plano em ação.
“Ele batia com tanta força na cabeça que você podia ver os vasos sanguíneos estourando“, disse Christin ao descrever os momentos de raiva de seu pai.
“Nós não tínhamos esperança de sermos salvas porque a polícia o estava rastreando há tanto tempo e eles não conseguiam pegá-lo em nada. Então, como nós deveríamos pará-lo?”
Depois de anos e anos e muitas tentativas fracassadas da polícia em capturar Kuklinski, ele foi finalmente preso em 1986 e condenado a duas prisões perpétuas.
“A prisão foi perfeita para o meu pai. Era onde ele podia ser o rei e era muito bem respeitado. Ele se entretia com os outros mafiosos da prisão jogando carta“, disse Christin.
Kuklinski faleceu na prisão após 18 anos atrás das grades. Antes de sua morte, a Park Dietz, ele admitiu ter matado mais de 200 pessoas e disse que nunca sentiu remorso ou culpa pelos homicídios. Ele simplesmente não sentia nada.
As Fitas do Homem de Gelo
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Colaboração de:
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