O serial killer Tiago Henrique Gomes da Rocha, 29, lançará um livro sobre os crimes cometidos e sua conversão espiritual. Com o título “Tiago Rocha: Um pouco da história por trás de um serial killer”, a obra foi escrita na cadeia, onde está preso desde 2014, e deve ficar pronta no próximo mês de junho. O material já foi encaminhado para impressão em uma gráfica.
Para realizar o trabalho, Tiago contou com o apoio do padre Luiz Augusto Ferreira da Silva, conhecido por ter sido apontando pelo ministério público de Goiás como servidor fantasma da Assembleia Legislativa.
Diante da repercussão negativa do livro entre familiares das vítimas, o padre emitiu uma nota nas redes sociais lamentando que a obra fosse apontada como “algo absurdo”.
Esta não foi a primeira, e nem a última vez, que um serial killer famoso por seus crimes hediondos lança uma obra literária para chocar a opinião pública. A sociedade tende a banir tais pessoas, então nada do que vem deles é digno de nota ou merece ser noticiado – neste último caso a mídia “discorda” já que os likes em uma matéria publicada estão garantidos, quanto mais polêmica melhor. A arte de um criminoso sempre será algo questionável, mas não deixa de ser uma oportunidade de tentar entender mentes que intrigam e chocam ao mesmo tempo.
Serial Killers e seus Livros
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“Vi seu olhar descer ao cabo da lâmina enterrada em seu ventre, logo acima do triângulo pubiano. Ela observou minha mão enquanto eu a rasgava de baixo para cima, destripando-a com perfeição. Seus olhos fitavam fascinados enquanto as tripas saltavam de seu ventre e lhe pendiam dos joelhos. Ela parecia não acreditar. O terror devia ter-lhe bloqueado a dor. Inclinei o gume em direção à sua caixa torácica e transpassei-lhe o coração. Os olhos verdes rolaram nas órbitas, transformando-se em pérolas sem cor… Fiquei comovido. Era uma morte limpa e satisfatória”.
Gerard Schaefer pode não ter sido o serial killer mais perverso do mundo, mas foi sem dúvida o autor da obra literária mais doentia já saída da mente imunda de um psicopata. O trecho acima foi publicado por ele, em 1990, quando cumpria pena de prisão perpétua. Seu livro, “Killers Fiction” (Ficção Assassina) é uma coleção de histórias pornográficas e violentas.
Sub-xerife da Flórida (sim, ele era um policial!), Schaefer cometeu um número indeterminado de horrendos assassinatos no início da década de 70. Uma de suas histórias tem o título de: “Putas: O Que Fazer com Elas?”
O título já diz muito sobre a personalidade de Schaefer. Para ele, todas as mulheres eram putas, e sua ideia de “o que fazer com elas” envolvia submetê-las às torturas mais hediondas que se possa imaginar. Ao ser preso, escreveu uma carta onde dizia, dentre outras coisas:
“Uma puta se afogou no próprio vômito enquanto me via estripar a amiga… Isso conta como uma morte? As que estavam grávidas contam como duas mortes? Fica meio confuso”.
Voltando às histórias de Schaefer, justiça seja feita: suas histórias oferecem, de fato, uma visão sem precedentes do funcionamento obsceno da mente de um assassino psicopata. Se suas histórias publicadas em Killers Fiction são apenas fantasias ou descrições detalhadas de seus assassinatos, isso ainda permanece um mistério.
O austríaco Jack Unterweger assassinou uma mulher em 1974 e por este crime pegou a prisão perpétua. Na cadeia, aprendeu a ler e a escrever, e virou um escritor com algum talento.
Em 1984, sua autobiografia, Fegefeur (Purgatório), virou um best-seller, e seu conto cheio de raiva, “Enstation Zuchthaus” (Prisão de Terminus), ganhou um prêmio literário de prestígio.
“Eu empunhava minha vara de aço entre prostitutas em Hamburgo, Munique e Marselha. Eu tinha inimigos e os conquistei através do meu ódio interno”.
[Jack Unterweger, Fegefeur]
Em seus livros, contos e poemas, Unterweger deu a impressão de que era uma vítima. Críticos e reformistas prisionais abraçaram sua honestidade e maneira como ele confrontou seu passado. Eles o saudaram como um exemplo de como a arte pode redimir um criminoso. Jornalistas contataram-no para entrevistas e não demorou muito para que o apoio aumentasse as chances de libertá-lo. E graças à fama conseguida com a mídia, Unterweger foi libertado em 1990. Nos meses que se seguiram, enquanto aparecia em programas de televisão como um intelectual, Unterweger matava prostitutas. Ele assassinou 8 na Áustria e 3 nos Estados Unidos até ser preso novamente.
Em 2015, a publicação do livro “Zekka”, autobiografia escrita pelo serial killer mundialmente conhecido como Seito Sakakibara causou indignação no Japão. A audaciosa obra narra em detalhes macabros os assassinatos que Sakakibara cometeu quando ainda era uma criança em Kobe, 1997. Mas ele não foi o primeiro criminoso a publicar livros no Japão. Tatsuya Ichihashi, que em 2007 estuprou e assassinou a professora britânica Lindsay Hawker, de apenas 22 anos, e Tomohiro Kato, que assassinou sete desconhecidos a facadas num ataque com um carro na rua de Akihabara, em Tóquio, também causaram indignação ao publicar seus livros.
“Deixe-me confessar uma coisa: eu pensei que a visão era bonita”, escreveu Seito Sakakibara sobre a cabeça de uma vítima que ele deixou em frente a uma escola em Kobe.
“Eu senti como se tivesse nascido apenas para ver a beleza etérea do que estava na frente dos meus olhos. Eu pensei que eu poderia morrer”.
[Seito Sakakibara, “Zekka”]
Na polêmica autobiografia, Sakakibara expressa pesar por suas ações, mas os detalhes escabrosos levam os leitores a se perguntarem sobre o real sentimento do homem ao escrever a obra.
“Quando eu entrei no ensino fundamental já estava entediado em matar gatos, e gradualmente encontrei-me fantasiando sobre como seria a sensação de matar seres humanos como eu”.
[Seito Sakakibara, “Zekka”]
Outras obras famosas escritas por serial killers incluem Son of Hope, 2006, de David Berkowitz; The Gates of Janus, 2001, de Ian Brady, The Making of a Serial Killer, 1996, de Danny Rolling e sua namorada Sondra London; A Question of Doubt: The John Wayne Gacy Story, 1992, de John Wayne Gacy.
Segundo o site do jornal goiano O Popular, Tiago da Rocha escreveu dois materiais diferentes. No primeiro, ele fala de si como assassino em série e, no segundo, discorre sobre conversão espiritual e religiosidade – ele é evangélico. Em razão do tamanho dos textos, que não justificariam o lançamento de livros separados, Tiago e o padre Luiz decidiram juntar os dois em um único livro.
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