No dicionário, assassino profissional (ou pistoleiro, assassino de aluguel) é aquele indivíduo que mata por encomenda, mediante pagamento. São comumente contratados por grupos do crime organizado para eliminarem seus rivais ou outros indivíduos problemáticos; também são contratados por pessoas comuns para eliminar seus desafetos – alguém que lhe deve, a mulher que o traiu, o irmão que quer sua parte na herança. Muitas vezes, assassinos profissionais são confundidos com serial killers; até existe algum debate entre criminologistas, psicólogos e autoridades da lei se esse tipo de assassino deve ou não ser considerado um assassino em série.
É interessante notar que as pessoas e a própria mídia parecem classificar como serial killer qualquer pessoa que cometa crimes bárbaros ou que assassine um número grande de pessoas. Até mesmo criminosos que nunca mataram ninguém são chamados assim (Charles Manson é um exemplo clássico). O homem que ordenou terríveis assassinatos em Los Angeles no ano de 1969, por algum motivo, é chamado de serial killer. Recentemente, tivemos o caso de Jose Martinez (ver Crime 12), assassino confesso de quase meia centena de pessoas, preso em Junho de 2013. Logo após sua confissão, sites de notícias do mundo inteiro encheram suas manchetes com a expressão “serial killer”. Mas Martinez não era um assassino em série e sim um assassino profissional contratado por um cartel de drogas do México para matar aqueles que recebiam carregamentos de drogas e não pagavam. Um dos mais famosos e infames matadores profissionais de todos os tempos foi Vincent “Cachorro Louco” Coll. O irlandês cometeu dezenas de assassinatos por contrato para a máfia italiana na Nova Iorque da década de 1920. Ele ganhou notoriedade por, acidentalmente, matar uma criança durante uma tentativa de sequestro. As façanhas de Coll foram narradas em diversos livros e filmes de Hollywood, como Mobsters (Império do Crime, no Brasil), de 1991.
Apesar de assassinos profissionais e assassinos em série compartilharem características em comum, como a convivência com a morte e o assassinato de pessoas em eventos separados e independentes, os primeiros não são serial killers porque suas motivações para matar são estritamente financeiras. Nos casos envolvendo assassinos em série, a simbologia do crime é completamente diferente, desde o padrão vitimológico ao modus operandi e assinatura, com uma individualização dos crimes. Serial killers selecionam suas próprias vítimas, já os alvos dos assassinos profissionais são cuidadosamente escolhidos pelos homens que os contratam. Além disso, assassinos de aluguel não cometem crimes para preencher uma necessidade emocional ou psicológica individual. Já serial killers, como Ted Bundy, por exemplo, são levados a matar por fantasias e necessidades emocionais poderosas, como luxúria e excitação. Outra característica dos assassinos em série é o fato de experimentarem um período de reflexão ou resfriamento emocional entre os seus assassinatos, período no qual voltam para suas vidas aparentemente normais. Em contraste, assassinos profissionais não experimentam ou requerem tal período entre seus assassinatos devido à natureza pragmática e sem emoção dos seus crimes. Se o assassino profissional tiver uma encomenda todos os dias, ele irá matar todos os dias. Serial killers não são assim. O assassinato de uma pessoa preenche uma necessidade psicológica que o faz passar dias, meses e até anos sem matar novamente.
Durante o período de resfriamento emocional entre os assassinatos, um serial killer desaparece, é quando ele volta para sua rotina. Por incrível que pareça, a vida de um assassino em série durante o período de resfriamento emocional – especialmente se ele for um assassino psicopata como Israel Keys, ou seja, patologicamente desprovido de emoção ou empatia – é completamente normal aos olhos dos que estão a sua volta.
Predadores em série ressurgem de um período de resfriamento emocional quando a urgência em matar torna-se incontrolável. Um serial killer não pode entender sua compulsão em matar e é perda de tempo para ele lutar contra seus impulsos interiores. Como disse Surinder Koli, “Eu nunca consegui entender direito o que acontecia, mas, sinceramente, não entender o que acontecia não era um problema pra mim, o que importava mesmo era satisfazer o meu desejo.”. Em contraste, assassinos profissionais não tem essa compulsão e entendem muito bem porque matam: é o seu negócio.
Esse tempo de resfriamento entre os assassinatos é altamente subjetivo, imprevisível e varia, em termos de duração, de um serial killer para outro, podendo ser de dias ou semanas, passando por meses e até anos. Por exemplo, Dennis Rader, conhecido como BTK (“Bind, Torture, Kill” – “Amarrar, Torturar, Matar”), após ser capturado em 2005, confessou dez assassinatos ao longo de um período de quase vinte anos (1974-1991). Entre seus assassinatos, Rader vivia uma vida completamente normal, morando com sua esposa e seus dois filhos. O psicopata era visto como um dos pilares de sua comunidade em Wichita, Kansas. No entanto, secretamente satisfazia suas necessidades sexuais – consequentemente atrasava sua compulsão em matar – através de fantasias autoeróticas, em que ele revivia seus assassinatos. Para isso, ele tinha a ajuda dos troféus retirados de suas vítimas, tais como artigos de vestuário, identidades e joias. Rader costumava tirar fotos de si mesmo usando peças de roupas de suas vítimas enquanto colocava em prática suas mais aberrantes fantasias sexuais. Clique aqui e veja três dessas fotos.
Como resultado dessa prática de autogratificação, a duração do período de resfriamento emocional entre seus assassinatos foi bastante variável e, muitas vezes, durou muito mais do que a da maioria dos serial killers conhecidos. Sua habilidade para controlar sua necessidade compulsiva de matar através de suas fantasias autoeróticas é altamente incomum entre serial killers, e podemos dizer que tal habilidade contribuiu para que Rader tivesse “apenas” dez mortes em seu currículo. É estranho, mas suas técnicas de autogratificação salvaram muitas vidas.
Outro ponto que diferencia assassinos profissionais de assassinos em série é o perfil das vítimas. Enquanto os primeiros matam os escolhidos por quem os contrata, os outros costumam assassinar um perfil de vítima que representa uma fantasia em suas mentes ou que são capazes de darem a eles o alívio necessário para entrarem no período de resfriamento emocional. O serial killer francês Guy Georges, a “Besta da Bastilha”, assassinava somente mulheres jovens, bonitas e com status social. Estuprá-las e assassiná-las era uma forma do psicopata exercer o seu poder sobre elas, comprimindo, assim, seus próprios sentimentos de frustração e fracasso. Já o maranhense Júlio Santana, um dos piores assassinos profissionais conhecidos do Brasil, com 492 assassinatos contabilizados, matava homens e mulheres, jovens ou velhos, pois não tinha uma necessidade emocional ou psicológica em matar; os assassinatos aconteciam somente se houvesse a ordem do contratante. Era a sua maneira de ganhar a vida, o seu “ganha-pão”. A título de curiosidade, Júlio trabalhou como assassino profissional para o exército durante o regime militar e um dos poucos a conseguir escapar de seus tiros certeiros foi José Genoíno, ex-guerrilheiro e conhecido político brasileiro.
Se assassinos em série e assassinos profissionais não são a mesma coisa, poderia então existir alguém que pudesse ser classificado como ambos? Sim. Um exemplo citado por criminologistas (mas não todos) é o falecido Richard Kuklinksi. Quando Kuklinski não estava cometendo assassinatos por encomenda para a família Gambino, era um assassino em série que matava aqueles que o irritavam. Richard alegou obter grande prazer e alegria do desafio de matar pessoas e recebeu o apelido de “Homem de Gelo” devido ao seu método de congelar uma vítima para confundir médicos legistas sobre a hora da morte. Ele também gostava de usar suas mãos para matar, estrangulando suas vítimas e obtendo um prazer sádico enquanto sentia suas vidas indo embora. São raros os casos de serial killers que usam armas de fogo, mais da metade deles utilizam meios manuais para dar fim às suas vítimas. Isso se explica devido ao fato deles encontrarem um prazer mais profundo no contato íntimo com as vítimas, sentindo suas peles rasgando, seus corpos se contorcendo, seus olhos em pânico enquanto “agonizam”, tudo para obter o prazer e o alívio que precisam para tirar, como disse Pedrinho Matador, “o peso das costas”.
Muitos assassinos profissionais presos dizem a psicólogos que matar é “apenas negócio” e que seus assassinatos, em hipótese alguma, servem para compensar algum tipo de necessidade emocional. Seus crimes são um meio de subsistência, já os serial killers estão em busca de satisfação e poder. Por outro lado, há uma característica importante que ambos compartilham: eles compartimentalizam suas vidas, podendo assim racionalizar seus crimes. No fim, assassinos profissionais e assassinos em série são dois tipos distintos, tanto em suas motivações quanto em seu modo de agir e a forma como levam suas vidas.
Assassinos de Aluguel | Exemplos
Nome: Jhonatan de Sousa Silva
Profissão: assassino de aluguel
Vítimas: 49
Local: Maranhão
Obs.: Não recusava encomendas, assassinando, inclusive, crianças. Ficou conhecido após matar o jornalista e blogueiro Décio Sá.
“Não sinto absolutamente nada. É só um trabalho. Tenho essa profissão, mas não saio gastando violência por aí. Só uso quando preciso.” [Jhonatan Silva]
Nome: Jairo Moraes de Almeida
Profissão: assassino de aluguel
Vítimas: 30
Local: Pernambuco
“Eu morava perto da Praça do Brás, onde se reúnem os matadores de Garanhuns. Ouvia suas histórias e ficava me preparando para o dia em que também iria matar alguém. Meu sonho era ser um matador respeitado, melhor do que aqueles que eu conhecia. Aos 14 anos, fui contratado para matar um homossexual. Fiquei conversando com ele e o convidei para dar uma volta. Quando cheguei atrás de uma oficina, puxei o gatilho, dei dois tiros e ele ficou estirado. Não senti nenhum remorso. Fiquei feliz porque tinha conseguido fazer bem o meu primeiro serviço. Quando a gente encara a morte como uma profissão, a única preocupação é fazer o serviço bem feito para ser respeitado. Não me arrependo de nada.” [Jairo Almeida]
Nome: Mário Pereira de Almeida
Profissão: assassino de aluguel
Vítimas: 20
Local: Pernambuco
Obs.: Cometeu seu primeiro assassinato aos 15 anos. Suas primeiras três vítimas foram rapazes que estupraram e assassinaram sua namorada, Adriana, de 16 anos.
“Quando atirei no primeiro, cheguei a me perguntar se aquilo estava certo. Com os outros foi diferente. Coloquei um pneu na cintura de cada um, despejei 1 litro de gasolina na cabeça, toquei fogo e fiquei olhando. Eles mereciam. Se me mandarem derrubar um sujeito, eu não vou perguntar se ele é bom ou ruim. Isso é um trabalho. Eu tenho é de ser competente.” [Mário de Almeida]
Serial Killers – Exemplos
Nome: Francisco de Assis Pereira
Conhecido como: O Maníaco do Parque
Definição: serial killer
Vítimas: pelo menos 9
Local: Parque do Estado, São Paulo.
Obs.: Como a grande maioria dos serial killers, as vítimas do Maníaco do Parque possuíam um mesmo perfil: mulheres jovens, bonitas e de cabelos longos. O maníaco atacava sempre no mesmo local, o Parque do Estado, e tinha um modus operandi definido e claro: abordava mulheres bonitas dizendo ser um fotógrafo de uma importante revista.
“Quando via uma mulher bela e atraente, eu só pensava em comê-la. Não só sexualmente. Eu tinha vontade de comê-la viva, comer a carne. Me aproximava das meninas como um leão se aproxima da presa. Eu era um canibal. Jogava tudo o que eu podia para conquistá-la e levá-la para o parque, onde eu acabava matando e quase comendo a carne. Eu tinha uma necessidade louca de mulher, de comê-la, de fazê-la sentir dor. Eu pensava em mulher 24 horas por dia.” [Francisco de Assis Pereira]
Nome: Adimar de Jesus Silva
Conhecido como: O Maníaco de Luziânia
Definição: serial killer
Vítimas: 6
Local: Bairro Estrela Dalva, Luziânia, Goiás.
Obs.: Psicopata sádico, Adimar espalhou o terror no Bairro Estrela Dalva, Luziânia, ao assassinar seis pessoas. As vítimas por quem tinha fixação eram adolescentes do sexo masculino, com idades entre 13 e 19 anos. Oferecia dinheiro a eles para algum serviço braçal, levava-os até um local afastado, espancava, estuprava e matava.
“Pegava uma pedra redonda, batia, desmaiava o menino, e aí acabava de matar com pedra, pau e abria um buraco na lama. ” [Adimar de Jesus Silva]
Nome: Laerte Patrocínio Orpinelli
Conhecido como: O Monstro de Rio Claro; O Maníaco da Bicicleta
Definição: serial killer
Vítimas: 10 confirmadas; confessou 15
Local: Rio Claro, Franca, Monte Alto e Pirassununga. São Paulo.
Obs.: Andarilho e mendigo, Laerte Patrocínio é o exemplo clássico do que as mães chamam de “Homem do Saco”. Doente mental, o homem que todos tinham dó e acreditavam ser inofensivo, era na verdade um predador de criancinhas indefesas. Ele oferecia pirulitos e balinhas àquelas que se encontravam sozinhas, longe dos pais. Ele estuprou e assassinou 10 crianças, a maioria meninas. Levantamentos da polícia indicaram que 96 crianças desapareceram pelas cidades por onde passou.
“Sinto prazer em vê-las aterrorizadas. Eu gosto de ver o corpinho delas. Gosto da beleza que elas têm. Eu vejo crianças e me dá vontade de fazer desordens. Quem não se comportava eu matava no soco. Mas, se a criança fosse boazinha eu só estrangulava.” [Laerte Patrocínio]
Abaixo uma reportagem do programa Fantástico sobre o assassino profissional Wellington de Carvalho Franco.
Fontes consultadas: [1] Vida Brasileira – Matadores de Aluguel, Revista Veja, 18 de Setembro de 1996; [2] Andarilho da Morte – Revista Istoé, 2 de Fevereiro de 2000; [3] The Iceman Tapes – Conversations with a killer.
Colaboração de:
Psicóloga forense
Psicóloga
Revisão