O morador da casa, Joseph Brewer, contratou Shannan para um programa após ver o anúncio da jovem no site de classificados Craiglist. Pouco antes das cinco horas da manhã, Shannan, temendo por sua vida, ligou para o 911 e correu da casa. Testemunhas a viram correndo em pânico e desorientada enquanto batia em portas de outras casas. Investigado exaustivamente, Joseph Brewer foi posteriormente descartado como suspeito no caso.
Faz mais de oito anos que os restos mortais de 10 pessoas foram encontrados na praia de Gilgo Beach, ao longo da Ocean Parkway, em Long Island, estado de Nova Iorque. O trabalho inicial dos investigadores levou à identificação de seis das vítimas, todas mulheres, o que levou as autoridades policiais a suspeitarem da ação de um ou mais serial killers.
Quatro conjuntos de restos mortais – incluindo os de uma criança e de um homem adulto – ainda não foram identificados, assim como a identidade do assassino, ou assassinos. A polícia do Condado de Suffolk, que lidera as investigações, disse recentemente que o caso continua ativo, com a assistência do FBI.
Hoje, um número crescente de especialistas acredita que os recentes avanços na ciência forense poderiam ajudar a identificar as quatro vítimas ainda não nomeadas de Gilgo Beach, e possivelmente apontar para um ou mais suspeitos em potencial. Mas a burocracia entrava a aplicação de novos métodos que em outros estados do país, como a Califórnia, tem sido usada com sucessos sem precedentes.
Em questão estão os métodos emergentes de análise de isótopos estáveis, fenotipagem por DNA e genealogia genética. Todos os três métodos tem ganhado as manchetes nos últimos tempos pelos papéis que desempenharam na identificação de vítimas de crimes e na captura de suspeitos, alguns desconhecidos há décadas. No caso da análise de isótopos, os investigadores são capazes de rastrear os movimentos de uma pessoa antes da morte pela análise dos níveis de carbono e hidrogênio em uma amostra de cabelos, dentes e ossos.
O caso mais famoso envolvendo esses métodos foi a prisão na Califórnia de Joseph James DeAngelo, o Assassino do Estado Dourado, serial killer identificado através de técnicas de genealogia genética. Mas do outro lado do país, no estado de Nova Iorque, questões de regulamentação tem emperrado o uso dessas técnicas, apesar de o Departamento de Polícia de Nova Iorque (NYPD) ter usado alguns desses novos métodos em pelo menos dois casos abertos de homicídio.
O serial killer de Long Island
A descoberta de restos mortais humanos ao longo da Ocean Parkway aconteceu durante a busca por Shannan Gilbert, 24 anos, uma mulher de Jersey City dada como desaparecida em maio de 2010.
Sete meses depois, em 11 de dezembro de 2010, durante uma busca, um policial e um cão K-9 descobriram os restos mortais de Melissa Barthelemy, 24, moradora do Bronx, Nova Iorque, em uma mata nos arredores da praia de Gilgo Beach. Nos meses seguintes, mais restos de corpos foram encontrados, incluindo os de uma criança e de um homem adulto – que acredita-se ser um travesti.
Os restos mortais de Shannan Gilbert foram os últimos a serem encontrados, em dezembro de 2011, não muito longe de onde ela foi dada como desaparecida.
A descoberta dos corpos ao longo da Ocean Parkway resultou em uma gigantesca investigação que incluiu os departamentos de polícia dos Condados de Suffolk e Nassau, da Polícia Estadual de Nova Iorque e do FBI. O esforço, entretanto, não resultou em nomear nenhum suspeito.
As novas técnicas forenses que poderiam ajudar na investigação estão longe de serem usadas pela polícia do estado de Nova Iorque. O método de isótopo estável, que rastreia os movimentos de uma pessoa antes da morte pela análise dos níveis de carbono e hidrogênio em uma amostra de cabelos, dentes e ossos, não foi aprovado pela autoridade forense do Estado de Nova Iorque. Já a fenotipagem por DNA – que vem beneficiando a ciência forense em vários países e auxiliando investigações criminais por ser capaz de sugerir, com boa precisão, os possíveis fenótipos para as características externamente visíveis (EVCs) em amostras de origem desconhecida – ainda não foi credenciada pelo estado de Nova Iorque.
Se questões burocráticas impedem o uso de tais métodos no estado, isso não impede que laboratórios criminais enviem suas amostras para serem analisadas em outro estado. Segundo reportagem do Newsday, o NYPD tem pelo menos dois casos de homicídio em que o método de isótopos estáveis está sendo empregado. No mundo, este método ajudou a resolver casos de homicídio na Irlanda e Inglaterra. O exército dos Estados Unidos também está usando a análise de isótopos para ajudar a identificar restos mortais de pessoas mortas na Guerra da Coréia.
O professor Jim Ehleringer, consultor científico da IsoForensics LLC, uma empresa do Utah que faz análises de isótopos estáveis, inclusive para o NYPD, disse que o método não é muito caro para a polícia, partindo de US$ 95 e chegando a US$ 1.800 para uma análise mais complexa.
Já a fenotipagem por DNA é realizada pela Parabon NanoLabs da Virgínia. No site da empresa há diversas notícias de vítimas identificadas e assassinos capturados usando esta e outras inovadoras técnicas forenses. Atualmente, tramita entre autoridades do Estado de Nova Iorque um processo para que a Parabon possa obter uma licença para operar no estado.
Em janeiro de 2019, o senador pelo estado de Nova Iorque Phil Boyle apresentou um projeto de lei que visa explorar o uso da genealogia genética. O senador é um dos entusiastas das novas tecnologias e chegou a enviar uma carta ao Departamento de Polícia do Condado de Suffolk afirmando que estava trabalhando na aprovação dos métodos pelo estado assim como levantando recursos para a compra de equipamentos, de forma que tudo possa finalmente levar ao mais misterioso assassino em série do século 21: LISK, ou simplesmente, Serial Killer de Long Island.
As 5 do Craiglist
Melissa Barthemely, 24, foi o primeiro de quatro corpos encontrados perto da praia de Gilgo Beach em dezembro de 2010. Ela desapareceu em 12 de julho de 2009. Nas semanas posteriores ao seu desaparecimento, sua irmã de 15 anos, Amanda, foi aterrorizada por uma série de telefonemas assustadores feito por um homem do celular de Melissa. No documentário sobre o caso do canal 48 Hours, Steven Cohen, advogado da família Barthemely, disse que a voz do homem era provavelmente de um branco na casa dos 30 anos. A voz foi descrita como calma, mas extremamente ameaçadora. A polícia e o FBI estão convencidos de que o homem que fez os telefonemas de fato é o serial killer de Long Island.
Amber Costello, 27, foi uma das quatro vítimas encontradas em dezembro de 2010 perto da praia de Gilgo Beach. Vinda de uma família desestruturada, álcool e drogas sempre fizeram parte de sua vida. Ela desapareceu em 2 de Setembro de 2010 após sair para se encontrar com um cliente. Seu colega de quarto, Dave Schaller, disse no documentário do 48 Hours que Amber estava animada com o encontro que ia ter pois o cliente a havia oferecido $1.500 dólares, quase seis vezes o valor que ela cobrava. Ela deixou seu quarto em West Babylon, Nova Iorque, sem o telefone celular e até sua bolsa. Quando não voltou mais, Schaller contatou a irmã de Amber que, acostumada com os sumiços da irmã, disse para não se preocupar. Eles nunca relataram o desaparecimento de Amber.
Maureen Brainard-Barnes, 25, foi a terceira vítima a ser encontrada enrolada em sacos de aniagem em dezembro de 2010 perto da praia de Gilgo Beach. Ela desapareceu em 9 de julho de 2007. Mãe solteira, ela morava em Norwich, Connecticut, e viajou até Nova Iorque, hospedando-se no hotel Super 8 em Manhattan, para arranjar encontros com clientes do Craiglist. Para amigos e familiares, ela disse que iria “passar o dia em Nova Iorque”. Possivelmente ela viajou até Nova Iorque já com um cliente marcado, o serial killer de Long Island. Sua irmã Melissa disse ao 48 Hours que foi o desespero que levou Maureen a se prostituir. “Ela estava sendo despejada de casa. Ela precisava urgentemente de dinheiro. Foi o seu último recurso“.
Megan Waterman, 22, foi a mais nova das quatro vítimas encontradas em Dezembro de 2010 perto da praia de Gilgo Beach. Ela desapareceu em 6 de Junho de 2010 após sair do hotel Holiday Inn Express em Haupage, Nova Iorque. Ela era mãe de uma menina de quatro anos. Sua mãe Lorraine disse ao 48 Hours que o “mundo perdeu uma garota incrível, uma mãe maravilhosa e amiga“. O Holiday Inn Express ficava a cerca de 25 quilômetros de Gilgo Beach. Akeem “Vybe” Cruz, traficante de drogas e cafetão de Megan, foi preso no decurso da investigação e acusado de vários crimes, incluindo o de vender várias mulheres de Maine – cidade natal de Megan – em anúncios no Craiglist.
Shannan Gilbert, 24, desapareceu em maio de 2010 após ir até a casa de um cliente que a contatou pelo Craiglist. Ela foi até a casa com seu motorista, Michael Pak, que ficou esperando do lado de fora. Possivelmente sofrendo de alucinações após consumir cocaína, ela saiu em desespero da casa gritando que estava sendo perseguida e que estavam tentando matá-la, e então desapareceu na escuridão. Seus restos mortais foram encontrados em 13 de dezembro de 2011 em um pântano a menos de um quilômetro de onde foi vista pela última vez. Uma autópsia revelou que ela se afogou no pântano. A polícia e o FBI dizem que o caso Shannan Gilbert não está relacionado ao serial killer de Long Island. Em 2016, a irmã de Shannan, Sarra, assassinou a própria mãe, Mari Gilbert, após um surto psicótico.
Sobre o serial killer de Long Island leia:
Vídeo: assassinatos em Long Island
Fontes consultadas: [1] Estudo da associação de genes de pigmentação com cor da pele, cabelo e olhos para fenotipagem forense em amostra brasileira – Lima, Felícia de Araujo; [2] Sen. Boyle pushes to get technology to ID Gilgo Beach remains – News 12; [3] New forensic advances could help solve Gilgo Beach murder, experts say – Newsday; [4] Long Island Serial Killer: A Victim’s Roommate Speaks – The Daily Beast;
Colaboração de:
Universo DarkSide – os melhores livros sobre serial killers e psicopatas
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