“Eu sou o crime”, disse Charles Manson em uma entrevista em meados da década de 2000. O criminoso americano, responsável por um dos mais famosos crimes do século 20, morreu ontem, 19 de novembro, às 20h13, horário da Califórnia, aos 83 anos.
Manson alcançou o “estrelato” devido à natureza sangrenta do abate em duas noites do verão de 1969 em Los Angeles. Quase 50 anos após os terríveis assassinatos, ele mantém um fascínio mórbido para muitos.
Manson foi inicialmente condenado à morte pelos assassinatos da atriz Sharon Tate, esposa do diretor de cinema Roman Polanski e grávida de oito meses; da herdeira milionária Abigail Folger; do amigo de Polanski Wojciech Frykowski; do cabeleireiro de Hollywood Jay Sebring; e de Steven Parent, que teve a infelicidade de estar no lugar errado na hora errada, na noite de 9 de agosto de 1969 na Cielo Drive em Beverly Hills.
Na noite seguinte, o casal Rosemary e Leno LaBianca foram adicionados à conta da Família Manson. Um mês antes, um músico e traficante, Gary Hinman, também foi morto a mando de Manson. Los Angeles entrou em pânico.
Os assassinatos e os rabiscos nas paredes escritos com sangue, “Morte aos porcos”, e a ortografia maldita “Healter Skealter” – título de uma música dos Beatles que Manson pegou emprestado para nomear uma guerra racial apocalíptica que ele insistia estar a caminho – produziram manchetes lúgubres. Armas foram vendidas às centenas na badalada Beverly Hills e empresas de segurança triplicaram seus negócios.
Os assassinatos ocorreram durante uma atmosfera de revolta social no final da década de 60 e provocaram um pânico moral. Neil Armstrong podia ter pousado na Lua, mas na Terra, as drogas, o crime, a revolução nos câmpus universitários, a discórdia racial e a resistência da minoria desafiaram a sociedade americana em sua evolução como civilização.
Embora na época do julgamento de Manson a cultura hippie e as drogas tenham pagado o pato, foi a carreira musical, que Manson nunca teve, a chave para a sua loucura. O ex-agente do FBI John Douglas, em seu best-seller mundial Mindhunter, cita que Manson nunca quis matar ninguém. “Ele queria ter fama, ser baterista dos Beach Boys“. Na Califórnia, no início dos anos 60, Manson fez amizade com o baterista dos Beach Boys, Dennis Wilson, e o grupo até (supostamente) gravou uma música de Manson, Cease to Exist, alterando o nome para Never Learn Not To Love, no álbum 20/20. Manson, que vivia em um rancho fora de Los Angeles com sua trupe de jovens desajustados, não recebeu nenhum tostão ou reconhecimento pela música.
Ele também foi rejeitado pelo famoso produtor musical Terry Melcher, que havia morado na Cielo Drive. Raivoso, Manson teria ordenado a seus seguidores que invadissem a mansão e matassem todos que estivessem lá – no caso Tate e seus amigos. Três meses depois, Manson foi preso com seu culto: cinco jovens mulheres e dois homens. Embora fossem eles quem tivessem cometido as brutalidades, foi Manson quem chefiou tudo. O julgamento foi bizarro. Manson e as meninas talharam um X na testa, sentaram de costas no banco e insultaram o juiz. O advogado de defesa de uma de suas meninas, Ronald Hughes, desapareceu no meio do julgamento e foi encontrado morto dias depois. O único a se dar bem nesse circo de horrores foi o promotor Vincent Bugliosi. Ele fez fortuna com o livro lançado posteriormente, Helter Skelter (1974).
Artigos e matérias sobre Manson nos jornais continuaram nas décadas seguintes e atingiram o seu apogeu com o surgimento da Internet. No Brasil, vale destacar o excelente Manson, a Biografia, livro de Jeff Guinn e lançado pela DarkSide Books em 2014.
Em um julgamento adicional, membros da Família também foram condenados pelos assassinatos de Hinman e Donald Shea, um dublê de Hollywood morto no final de 1969. Manson e seus seguidores foram condenados à morte, mas a pena foi comutada para prisão perpétua em 1972. Em 1975, uma das seguidoras de Manson que ficou livre, Lynette Fromme, tentou matar o presidente dos Estados Unidos Gerald Ford. Presa, passou 34 anos presa, sendo solta em 2009.
Na década de 90, o grupo de rock Guns N’ Roses gravou uma música de Manson, Look at Your Game, Girl. Sendo uma das maiores bandas musicais de seu tempo, parecia que Manson ficaria milionário recebendo os royalties da gravação, mas o filho de Frykowski, ganhou na justiça o direito de que a grana, ao invés de ir para Manson, fosse para a sua conta, como reparação pela morte de seu pai, esfaqueado 51 vezes.
“Charles Manson está apodrecendo no inferno”, é o título da matéria do New York Post sobre a morte de Manson. Como disse Jeff Guinn em Manson, a Biografia, Charles não deixa para o mundo nada de bom, tudo em sua vida, tudo o que ele fez, desde criança, foi voltado para a maldade. Não há nada de bom em Charles Manson.
Vídeos
Para saber mais sobre um dos mais famosos psicopatas do século passado, leia o livro de Guinn e os posts abaixo:
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