Reportagem Retrô é uma coluna do blog O Aprendiz Verde que traz reportagens, matérias e artigos antigos publicados em algum lugar do nosso tempo-espaço. Trazer essas matérias é uma forma de resgatarmos o passado, e por um instante ter um vislumbre daquele registro de época.
A reportagem retrô de hoje foi publicada na Revista Veja em 28 de agosto de 1996, e é sobre o assassinato de duas crianças na Bélgica.
Bélgica: Porão do Horror
Publicado na Revista Veja, edição de 28 de agosto de 1996
Há coisas piores do que a morte, nas quais os adultos não gostam nem de pensar, muito menos conjecturar que possam acontecer com crianças. Imagine-se duas meninas pequenas, raptadas aos 8 anos de idade, presas num cárcere privado e estupradas enquanto aguardam ser vendidas por uma rede de prostituição infantil. Algo dá errado com seu algoz e elas morrem de fome, em lenta agonia, trancafiadas num porão úmido. Há duas semanas, ao prender o pedófilo Marc Dutroux (39 anos, dois casamentos, três filhos, sem emprego mas cheio de dinheiro no bolso), a polícia belga levantou o véu de uma história de indescritível horror. No dia 17, desenterraram-se no jardim de uma das seis casas de Dutroux os corpos de Julie Lejeune e Mélissa Russo, desaparecidas há um ano. A monstruosidade do crime sacudiu a Bélgica com uma onda de revolta e choque.
Foi também num porão, preparado como cativeiro, que a polícia encontrou Laetitia Delhez, de 14 anos, sequestrada quatro dias antes, e Sabine Dardenne, de 12, desaparecida desde maio. Ambas tinham sido repetidamente violentadas e eram alimentadas com pão seco e biscoitos. Dutroux é um criminoso bem conhecido. Pedófilo por gosto e profissão, foi condenado a treze anos de prisão por estupro de duas menores em 1989. Saiu em liberdade condicional apenas três anos depois. O que fez daí para a frente foi um pesadelo. No ano passado, encomendou “uma menina” a dois cúmplices. Eles lhe trouxeram Julie e Mélissa.
Traficante – Preso novamente em dezembro, dessa vez por roubo, Dutroux encarregou um cúmplice de alimentar as cativas. Não se sabe exatamente o que aconteceu, mas é certo que as meninas morreram de fome. Ao lado dos corpos das meninas, Dutroux enterrou Bernard Weinstein, o comparsa que matou, supostamente por não ter “tomado conta” das pequenas vítimas. No interrogatório, ele também admitiu o sequestro de duas adolescentes, An Marchal, de 17 anos, e Eefje Lambreks, de 19, vendidas a um amigo holandês. O que o crime revelou foi a extensão e a perversidade da rede de pedofilia. Dutroux não era apenas tarado, mas também traficante de crianças. Na quinta-feira passada, a Bélgica parou durante o enterro das duas meninas.
Nota do Aprendiz
Marc Dutroux disse a polícia que matou seu comparsa Bernard Weinstein enterrando-o vivo. A reportagem da Revista Veja comete um erro ao dizer que as adolescentes An Marchal e Eefje Lambreks foram vendidas por Dutroux a um holandês. Na verdade, elas foram encontradas mortas enterradas sob o concreto de um galpão ao lado de uma das sete casas de Dutroux. O julgamento do pedófilo começou em março de 2004 e durou três meses. A questão se ele realmente fazia parte de uma rede de tráfico de crianças não foi claramente respondida. Ao final, Dutroux foi condenado a prisão perpétua e desde então, para sua própria segurança, passa seus dias trancafiado numa solitária da prisão de Nivelles. O caso Dutroux tornou-se tão infame que mais de um terço de belgas com o sobrenome Dutroux entraram com pedido de mudança de nome entre 1996 e 1998.
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