O SETI (Busca por Inteligência Extraterrestre, na sigla em inglês), é um programa científico norte-americano cujo objetivo é detectar vida inteligente fora da Terra. Uma das abordagens, conhecida como SETI rádio, usa telescópios de rádio para ouvir sinais específicos vindos do espaço. Tais sinais não ocorrem naturalmente, portanto, se detectados, provariam ser tecnologia extraterrestre.
Sinais de rádio telescópio consistem principalmente de ruído (a partir de fontes celestes e receptores eletrônicos) e sinais provocados pelo homem, tais como estações de TV, radar e satélites. Os sinais provocados pelo homem são chamados de artificiais, pois foram produzidos por uma forma de inteligência, neste caso, nós.
Em 15 de agosto de 1977, um radiotelescópio do SETI captou uma mensagem estranha. Foi um sinal de rádio que durou apenas 72 segundos, só que muito mais intenso que os ruídos comuns vindos do Cosmo. Ao analisar as impressões em papel feitas pelo aparelho, o cientista Jerry Ehman tomou um susto. O sistema captara um sinal 30 vezes mais forte que o normal. Ehman ficou tão impressionado que circulou os dados do computador e escreveu ao lado: “Wow!“. O caso ficou conhecido como Wow! signal (sinal Uau!), e até hoje é o episódio mais marcante na busca por inteligência extraterrestre.
“Foi a coisa mais significante que eu já havia visto. Eu gostaria de dizer que foi o sinal enviado por uma inteligência extraterrestre, mas honestamente não posso dizer isso”, disse Ehman para o jornal Cleveland Plain Dealer em 18 de setembro de 1994.
O que faz o sinal Uau! ser algo único é que ele parecia ser artificial e não uma emissão de rádio natural, como um pulsar ou quasar. Todo corpo celeste funciona como uma espécie de emissora de rádio, eles soltam ondas que, com a ajuda de uma antena, podem ser detectados. Mas este sinal não parecia ser uma emissão de rádio natural. O telescópio que o captou usava um receptor com 50 canais de rádio e o sinal só foi ouvido em uma frequência, sem qualquer tipo de ruído. Se fosse uma emissão natural, causaria estática em todas as frequências, ao contrário, o sinal era estreito e focado, como é de se esperar por uma fonte artificial.
Teria sido então o sinal Uau! enviado por uma civilização alienígena?
Parecia que o sinal atendia aos critérios de um sinal de rádio enviado por alguma forma de vida inteligente. Mas para que isso fosse confirmado era necessário estudos de acompanhamento do mesmo. Como o sinal nunca mais foi ouvido, a tarefa tornou-se impossível. Até hoje ele permanece um completo mistério.
A única conclusão a que os cientistas chegaram foi a de que o sinal realmente se originou do espaço profundo. E se ele veio dos confins do Cosmo, ou ele era um fenômeno astrofísico nunca visto antes, ou realmente era um sinal alienígena interceptado pelo satélite.
Para explicar observações científicas, o método normal é construir hipóteses e então testá-las. Se a observação falhar em explicar, então sua hipótese está incorreta. Então, usa-se diferentes hipóteses até encontrar algo que descreva com precisão o que foi observado.
Mas com o sinal Uau!, os cientistas tiveram dificuldades. Como dito, o sinal não se repetiu novamente e isso fez com que muitos cientistas ficassem céticos com relação a origem. Ehman chegou a afirmar que “pode ter sido um sinal da própria Terra que simplesmente refletiu após bater em algum lixo espacial”. Mas quando ele investigou a fundo sua teoria, só encontrou mais problemas.
A explicação de Ehman provou-se ser improvável e as investigações posteriores concluíram ser impossível que o sinal tivesse se originado na Terra. Era um sinal muito específico, que não dava para ser explicado, ao contrário, eram necessárias muitas suposições para tentar entendê-lo. O padrão de pensamento lógico Navalha de Occam foi usado por alguns pesquisadores na tentativa de explicá-lo. Eles apontaram que o sinal tinha origem astrofísica, mas nenhuma explicação sobre o que poderia ser foi dada.
A linha de hidrogênio
O curioso é que o sinal Uau! é mais ou menos a combinação perfeita do que nós esperamos que uma transmissão extraterrestre seja. Para começar, a intensidade do sinal subiu e desceu ao longo de um período de 72 segundos, consistente com a rotação da Terra, e apenas um objeto de monitoramento, o telescópio Big Ear do SETI, o captou. Isso deu ao sinal uma assinatura característica. Seria impossível qualquer objeto terreno igualá-lo. O sinal também destacava-se sobre o ruído de fundo encontrado no espaço profundo. Ele era 30 vezes mais potente do que qualquer coisa em volta dele, portanto, não se tratava de um ruído comum vindo do Cosmo. Mas, certamente, a mais interessante característica do sinal Uau! era sua frequência.
Era um sinal muito forte, transmitido em apenas uma frequência. Fontes de rádio naturais não funcionam assim, elas espalham-se em várias frequências, o que significa que o mesmo sinal abrange uma ampla faixa de transmissão. O sinal Uau! não era assim, ele era transmitido numa faixa específica, a de 1.420 MHz.
Essa faixa de frequência é conhecida como linha de hidrogênio e seu uso é internacionalmente proibida, sendo de uso exclusivo para transmissões de rádio na astronomia. Esta frequência, astronomicamente, é emitida no espaço interestelar pelo hidrogênio atômico neutro. O hidrogênio atômico neutro é observado mais ou menos uniformemente em todas as direções do universo e tem sido usado pelos astrônomos para o mapeamento de galáxias. Entretanto, no programa SETI, ele tem outra utilização.
O hidrogênio é o elemento mais simples e abundante no universo e é também o responsável pela emissão da frequência de 1.420 MHz. Qualquer civilização inteligente saberia da presença desta frequência no espaço e, provavelmente, poderia utilizá-la para fazer observações astronômicas. Como resultado, os cientistas do SETI presumiram que se alguma civilização alienígena tentasse algum tipo de contato, eles utilizariam esta frequência. Segundo eles, é bastante lógico que um astrônomo alienígena de um lugar qualquer no Cosmos pensasse como nós e fizesse uma transmissão utilizando esta faixa. Então, o SETI utiliza essa frequência para tentar contato com civilizações extraterrestres. E em 1977 eles captaram esse sinal, nessa específica faixa de frequência; forte e oscilando de acordo com a rotação da Terra.
Os “caçadores de aliens” do SETI, obviamente, ficaram em estado de excitação pura quando Ehman, com a mão trêmula segurando o papel, mostrou o que o telescópio Big Ear havia escutado às 23:16h do dia anterior. Por um momento todos ali colocaram a tristeza de lado (Elvis Presley morrera naquele dia) em prol daquele que ainda hoje é um dos mais fantásticos episódios astronômicos de nossa história.
O passo seguinte dos cientistas foi rastrear a fonte do sinal. Medições (aproximadas e não precisas) do Big Ear rastreou a fonte em algum lugar na constelação de Sagitário, perto do grupo de estrelas Chi Sagittarii. A constelação de Sagitário fica no centro da nossa galáxia, a Via Láctea (pra quem não sabe nós vivemos na borda, a 27 mil anos luz do centro) e possui milhões de estrelas. Dezesseis planetas já foram descobertos nesta constelação. Supondo que o sinal tenha se originado de algum ponto fixo nesta constelação, ou seja, emitido de algum planeta por uma forma de vida inteligente, isso significa que ele percorreu trilhões e trilhões de quilômetros até ser ouvido pelo Big Ear.
Nesta constelação, a estrela mais próxima da Terra é a Tau Sagittarii, a 122 anos luz, uma estrela com cerca de duas vezes a massa do Sol e um pouco mais fria (se é mais fria isso significa que a zona habitável situa-se bastante perto dela). Supondo que uma civilização enviou o sinal Uau! a partir da zona “habitável” de Tau Sagittarii, ele demorou, no mínimo, 122 anos para chegar até aqui, e uma resposta nossa, logicamente, levaria 122 anos para chegar até lá. Agora imaginemos que o sinal tenha se originado de uma zona mais distante da constelação de Sagitário. Nesse sentido, um dos aglomerados de estrelas mais distantes nesta constelação é o NGC 6638, a 26 mil anos luz. Supondo que o sinal Uau! tenha vindo de algum lugar deste aglomerado, ele levou 26 mil anos luz para chegar até aqui. Perto ou longe, isso mostra que se o sinal realmente tem origem artificial, estamos diante de uma civilização muito, mas muito avançada e que inclusive já pode ter se extinguido. Além disso, cientistas calcularam que para gerar um sinal com a intensidade do Uau! seria necessário um transmissor de 2.2 gigawatts, algo muito mais poderoso do que qualquer estação de rádio existente na Terra.
“Tal transmissão necessitaria de quantidades gigantescas de energia para operar, o equivalente a milhares e milhares de usinas dessas que temos na Terra. Eles podem ter usado alguma outra estratégia mais barata: uma breve transmissão periódica, uma varredura de feixe de farol, ou outros métodos“, disse o astrônomo amador Robert Gray, que há mais de 30 anos se dedica ao estudo do sinal Uau!
Os céticos em relação a possibilidade de que o sinal é de origem artificial dizem que é prepotência e ingenuidade acharmos que uma civilização inteligente de algum lugar do Cosmo usaria o mesmo tipo de comunicação que a nossa, ondas de rádio (que por sinal é algo bastante rudimentar). Por que assumir que as supostas formas de vida inteligente no Cosmo utilizam a mesmíssima forma de comunicação? Muitos contra-argumentam dizendo ser totalmente possível que uma civilização avançada, em algum estágio de sua evolução, tenha utilizado sinais de rádio assim como nós fazemos hoje. Assim, como nós enviamos hoje sinais de rádio no espaço na tentativa de fazer contato, tal civilização fizera isso a centenas de milhares de anos atrás e, em 1977, o Big Ear escutou tal sinal. Nesse sentido, é totalmente possível que nossos sinais de rádio enviados hoje viajem por centenas de milhares de anos no futuro até serem ouvidos por uma civilização avançada e a discussão que estamos tendo hoje, esta mesma civilização terá no ano de, por exemplo, duzentos mil quinhentos e quarenta e quatro (seguindo nosso calendário, é claro).
Como dito no começo do post, até hoje o sinal Uau! é o episódio mais marcante na busca por inteligência extraterrestre. Ao longo dos anos várias teorias foram propostas na tentativa de explicá-lo, todas falharam. Enquanto o mistério não for resolvido, ele permanecerá como uma tentadora sugestão de como um sinal enviado por uma civilização extraterrestre poderia parecer. Por outro lado, usá-lo como uma prova de que existe vida inteligente fora da Terra seria um ato de fé, e não científico.
O astrônomo Robert Gray em seu livro The Elusive Wow – Searching for Extraterrestrial Intelligence diz que o sinal Uau! “… é um puxão na linha de pesca cósmica. Isso não prova que você tem um peixe na linha, mas sugiro que você mantenha sua linha na água e naquele ponto”.
A conclusão geral é a de que realmente o sinal se originou no espaço profundo, portanto, ou é um fenômeno astronômico completamente desconhecido, ou uma transmissão alienígena. Mais uma vez, ainda hoje ninguém conseguiu provar ou refutar nenhuma dessas duas possibilidades.
O sinal Uau! permanece como uma sugestão vaga, mas muito fascinante, de que pode haver muito mais coisas à espreita lá fora, em nossa galáxia, do que realmente podemos imaginar.
Fontes consultadas: Space.com; Daily Mail; Big Ear Radio Observatory; Mother Nature Network; Cleveland Plain Dealer; Universe Today; News Discovery; Gray, Robert (The Elusive Wow – Searching for Extraterrestrial Intelligence); Superinteressante.
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