Conheci o Maranhão numa viagem de férias em 1997. Cruzei o estado de carro com minha família até a capital São Luís. Qual foi a minha impressão? Eu fiquei assustado, nunca havia visto coisa igual.
A paisagem é muito bonita, mas contrasta com as cidades interioranas. A primeira lembrança que me marcou foi a do esgoto correndo a céu aberto e pessoas criando porcos nas ruas de terra. Eu nunca havia visto tanta pobreza. Alguns podem dizer que esta era ou é a realidade do país, claro que sim, mas a visão é sempre impactante principalmente para um menino criado numa capital e cujo contato com porcos se restringia às viagens mensais que fazia quando criança para a fazenda do avô. Nos trevos entre as cidades e vilarejos, quebra-molas eram a oportunidade para dezenas de crianças esquálidas dependurarem no carro oferecendo filhotes de animais silvestres como periquitos, papagaios, tucanos e araras a preços de balinha. Lembro de até ter pedido para o meu pai comprar um. Ao parar num restaurante para almoçar, cerca de sete ou oito crianças descalças e com roupas rasgadas cercaram meu pai se acotovelando uns aos outros implorando para vigiar o carro em troca de alguns centavos, hoje entendo que aquelas moedas valeram uma fortuna para eles. Ainda lembro dos seus sorrisos ao recebê-las.
Isso foi há quase 14 anos, desde então, nunca mais voltei. Não porque eu não gostei e sim porque não tive outra oportunidade. De qualquer forma dizem que o estado melhorou. Bem, acho que não.
O que está acontecendo em São Luís nestes últimos dias é apenas o reflexo do descaso daqueles que nós elegemos para governar. A menina Ana Clara, queimada viva dentro de um ônibus sexta-feira passada, antes de ser morta por criminosos, foi morta pelo estado. Ela foi morta pelas dezenas de Secretários de Educação que passaram pelo governo e desviaram dinheiro público. Ela foi morta por gestores públicos que mamam nas tetas do governo federal e maranhense. Ela foi morta pela família Sarney, que há 50 anos governa o quarto estado mais rico da região nordeste. Riqueza que pelo visto não pode ser usada nem na reforma de um presídio.
A propósito, a carnificina dentro do maior presídio de regime fechado do Maranhão mostra a falência daquele estado (longe de ser o único). Enquanto muitos homens que não tiveram escolhas em suas vidas estão sendo decapitados e esfolados vivos em Pedrinhas, a governadora Roseana Sarney licita lagostas, patinhas de caranguejo, camarão, sorvete, 50 caixas de bombom e 30 pacotes de biscoito champanhe, dentre outros quitutes, para o seu gabinete.
Os políticos, esses sim são o câncer do Brasil, os verdadeiros criminosos. Que em 2014 não saiamos nas ruas apenas para ir ao barzinho assistir a Copa do Mundo.
Quanto a família Sarney, essa deveria ser julgada pelo Tribunal Penal Internacional. A acusação? Crimes contra a humanidade.
Charge: Carlos Latuff – www.latuffcartoons.wordpress.com/ Charge publicada originalmente no jornal Vias de Fato (www.viasdefato.jor.br)
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