Os Gulags
Muito pouco se sabe sobre os gulags. Sinônimo de morte, os gulags foram criados após a Revolução Comunista de 1917 para abrigar criminosos e inimigos de estado da ex-União Soviética. Pode-se dizer que os gulags eram um tipo de campo de extermínio soviético, mas ao contrário dos campos de concentração nazistas, os gulags eram habitados pelo próprio povo soviético. Localizados em posições geográficas quase inacessíveis e com condições climáticas extremas, ninguém sabia o que realmente acontecia lá dentro. Os gulags tiveram o seu apogeu nos anos 1930, sob o comando do paranoico ditador Josef Stalin, e por décadas causaram dor, sofrimento e mortes, muitas mortes. A perversidade dentro dos gulags era tão grande que os próprios presos resolveram se auto-proteger da violência criando códigos e leis internas dando início à famosa máfia russa e também à criação de uma língua paralela, baseada em desenhos e que só eles podiam entender: as tatuagens.
Os gulags eram, e ainda são, um assunto proibido na Rússia, sabemos que o governo russo (uma herança da ex-URSS) costuma encobrir fatos e acontecimentos que mancham a nação, por isso, em 2001, o mundo ficou assustado quando o produtor e diretor norte-americano Alix Lambert (da série Deadwood) lançou um documentário que retratava a vida carcerária dos criminosos russos. Corajoso e audacioso, The Mark Of Cain é um conto sobre o horror. Filmado nas mais notórias prisões russas, o documentário aborda de forma inteligente e neutra o mundo das tatuagens criminais russas.
As Tatuagens
The Mark Of Cain aborda todo o ciclo de criação de uma tatuagem, desde a criação da arte, a tinta usada, entrevistas com os tatuadores e o significado das mesmas. Vendo o documentário descobrimos que as suntuosas catedrais tatuadas no corpo significam o número de condenações do preso; dragões tatuados nos ombros significam a posição na hierarquia da prisão e uma caveira, sim, é isso mesmo que está pensando, uma caveira tatuada significa que o preso é um assassino.
O documentário mostra ainda as precárias condições com as quais os presos vivem, o esquecimento do governo russo é mostrado na comida, nos alojamentos, e nas condições sub-humanas as quais os internos são expostos. Vendo o documentário, uma frase chama a atenção:
“Os gulags ainda existem!”
Não como antigamente, mas é assim que o chefe do Centro de Reforma Carcerária define as atuais prisões russas. Locais imundos, sem nenhum tipo de higiene e com os mais perigosos homens do país.
“Esse é um documentário muito corajoso sobre a subcultura das tatuagens nas prisões russas. Não sei como ele fez isso, mas é lindo, assustador e doloroso”, escreveu o diretor de filmes David Cronenberg.
Realmente um excelente documentário que vale a pena ser visto.
“Você pode aprender muito sobre uma pessoa através de suas tatuagens. Aqui você sabe quem é quem. Tudo depende da qualidade da tatuagem. Você entra numa cela, ninguém conhece ninguém, mas se você olhar as tatuagens, você sabe quem é aquela pessoa. Você pode ler uma pessoa como um livro.”
[Slava Afanasiev]
“Antigamente, quando estava na prisão, era um estilo. Nos anos 20 eles tatuavam águias por todo o corpo. Agora eles tatuam coisas como demônios fritando padres em fogueiras. Isso pra mim é tudo lixo. Eu tenho Lênin, Karl Marx e Fredrich Engels no peito.”
Viktor Tyryakin
“Eles começaram a fazer aquelas tatuagens, você provavelmente deve ter visto… tatuagens de Stalin e Lênin. Por que eles fazem aquelas tatuagens de Stalin e Lênin? Porque se eles forem sentenciados à morte e você tiver essas tatuagens, então eles não vão atirar em você, porque é uma tatuagem do chefe. Ninguém pode atirar na cara do chefe.”
[Evgeny Novikov]
“Tenho uma cruz celta. Um símbolo místico. Mas aqui significa uma alvo, uma mira. Essa tatuagem mostra que a vida que eu tinha lá fora, mais cedo ou mais tarde, me levaria a um triste fim.”
[Aleksei Kuznetsov]
Downcasts
“É uma marca nele para a vida. Como aconteceu, quem fez, ninguém importa. A coisa mais importante é que já está feito. Ele é um downcast.”
[Yuri Mashkin]
“Eles vivem separados. Como aquelas pessoas do mundo livre, os que vocês chamam de gays, eles vivem separados. Comem separados, sentam separados… O que você acha? Sou um idiota? Eu me respeito, então os outros me respeitam. Eu sou uma autoridade. Como eu poderia fazer isso? Eles não tem o direito nem de me olhar nos olhos, porque se eles fizerem, eu esmago a cabeça deles.”
[Sergei Drobyshev]
“Você deve saber como abordar as pessoas. Você deve entender que se você disser alguma coisa errada, eles te arrebentam a cara. Alguns jovens já chegam como Downcasts. Alguns garotos não fazem nada, mas não importa, eles já são Downcasts. Há muitas maneiras disso acontecer, uma delas é quando alguém deve para outra pessoa, ele perde em jogo de cartas por exemplo, e não pode pagar sua dívida. Então o vencedor cria uma condição e o perdedor deve pagar o que foi dito.”
[Aleksei Subotin]
Goats
“Os goats são condenados que o governo escolheu para realizar funções específicas. Houve um tempo em que os goats tinham as chaves das celas, eles podiam entrar e fazer o que bem entendessem. Goat significa uma pessoa má, te entregava, podia escrever relatórios sobre você… São pessoas que não são bem-vindas aqui. Eles trairiam seus próprios amigos pessoais por interesses próprios.”
[Valeri Belov]
“Eu fui originalmente mandado para a prisão em janeiro. Eu comecei a trabalhar para a administração no meio de abril. Como eles dizem na zona, eu era um Goat. Uma vez começado eu continuei os ajudando constantemente. Quando estava na cadeia, esperava ser libertado rapidamente. Não tive sucesso. Quando eu estava na solitária, presos vinham até a cela ao lado. Um gritou que quando eu saísse da solitária teria a minha cabeça quebrada. Me ameaçaram dizendo que me estuprariam. Claro, decidi que seria melhor não retornar para lá, porque quero continuar vivo.”
[Kolya Stepanov]
White Swan
“Vi coisas em White Swan que nunca mais irei esquecer. Vi homens morrendo, muitas vezes. Um deles escapou pela floresta, só posso dizer que os guardas voltaram com o que sobrou dele.”
Filme
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