John Douglas e a caça pelo assassino em série BTK

Em 1981, dois brilhantes profilers se dirigiram até uma prisão de Nova York. Eles eram os agentes do FBI John Douglas e Robert Ressler. Após anos estudando as mentes...

Em 1981, dois brilhantes profilers se dirigiram até uma prisão de Nova York. Eles eram os agentes do FBI John Douglas e Robert Ressler. Após anos estudando as mentes de serial killers, ambos estavam aperfeiçoando suas pesquisas no chamado perfil criminal e, então, resolveram conversar com um famoso serial killer que estava preso. O nome dele era David Berkowitz, o “Filho de Sam”, responsável por matar seis pessoas em 1977.

Para ajudar na abordagem, Douglas levou o perfil que ele criou de outro serial killer, este desconhecido, mas que há tempos não matava. Todos o conheciam pelo apelido: BTK. Entre 1974 e 1977, BTK matou pelo menos seis pessoas numa cidade do Kansas.

“Quem são vocês, caras?” perguntou David.

“Somos agentes do FBI, David. Queremos conversar com você. Esperamos que você possa nos ajudar. Se você quer aprender como pintar, não tem que ler um livro. Deve ir direto ao artista. E é o que você é, David. Você é o artista,” respondeu Douglas numa clara tentativa de alimentar o ego do assassino.

David não achou graça. Ele não sorriu, nem piscou. “Eu não sou artista,” respondeu. Acuado, Douglas teve que chamar sua atenção de outro jeito.

“Sabe, David, tem um serial killer à solta no Kansas, um cara responsável pela morte de pelo menos 6 pessoas, e ele idolatra você. Ele citou você em cartas que escreveu para a polícia. Ele se imagina como você. Ele até quer um nome como o seu.”

“Ele está me gozando?” perguntou o assassino a Ressler. “É a verdade,” respondeu Ressler secamente.

“Ele se autodenomina BTK”, continuou Douglas. “BTK. O que é isso?”, perguntou David. “São as iniciais de Amarrar, Torturar, Matar. É o que ele faz com as vítimas,” explicou o agente.

“E esse cara continua a solta? Não o pegaram?”

“Não, mas nós vamos”.

David gargalhou e Douglas explicou detalhadamente os crimes de BTK. David ficou fascinado e imaginou como este tal de BTK conseguia passar tanto tempo sem matar. “Como ele controla o seu apetite?”

Essa pergunta, nem Ressler ou Douglas sabiam responder. Eles ficaram obcecados com BTK nos anos seguintes. Seria ele o serial killer perfeito?

A pergunta levaria muitos anos para ser respondida.

Completamente viciado em seu trabalho, o profiler do FBI John Douglas estudou e perseguiu as mentes mais doentias do seu tempo. Ele costumava viajar pelos Estados Unidos ajudando a polícia a traçar o perfil de serial killers que estavam a solta. No início de 1983, quando estava em Seattle ajudando a traçar o perfil de um psicopata conhecido como “Assassino do Green River“, ele sofreu um burnout em seu quarto de hotel e ficou em coma.

Não havia escapatória para Douglas, alertou um médico à sua família. Um jazigo foi reservado em um cemitério e todos esperaram a morte chegar para ele. Mas de forma milagrosa ela não veio e Douglas acordou para enfrentar novos pesadelos. E um deles atendia pelas iniciais BTK.

Anos antes, Douglas já havia escrito um perfil do BTK — um bizarro assassino em série desconhecido de Wichita, no Kansas — e agora, quatro meses após o burnout, detetives queriam falar com ele. BTK não matava há sete anos e a polícia de Wichita não sabia mais o que fazer para pegá-lo. Ele era um fantasma e, não à toa, a força tarefa criada para identificá-lo foi apelidada de “Os Caça-Fantasmas”.

Os Caça-Fantasmas haviam ligado outro assassinato, ocorrido em 1974, a BTK, e quem sabe essa nova informação não poderia dizer alguma coisa a Douglas. O profiler já tinha lidado com muitos monstros antes, mas este era o pior até agora, alguém “não humano”, em suas próprias palavras. O psicopata era um enigma e Douglas não tinha a solução. Ele lembrou de seu encontro com David Berkowitz: Porquê tanto tempo sem matar?

Obcecado, Douglas reestudou o caso, detalhe por detalhe, até que, em 1985, BTK voltou a matar. “Esse cara é um verdadeiro pervertido,” disse o primeiro policial na cena do crime. A vítima, uma mulher de 25 anos, foi estrangulada com um cinto. Havia sêmen por todo o lugar. Então, BTK desapareceu novamente.

“Esse cara não vai parar de matar,” comentou outro profiler, Roy Hazelwood, em uma conversa com Douglas.

John Douglas não sabia, mas ele se aposentaria do FBI sem conseguir ajudar a polícia de Wichita a identificar o misterioso e letal BTK.

Mas ele teria a sua chance.

Após 20 anos de silêncio, BTK ressurgiu do inferno em março de 2004 e enviou uma provocadora e enigmática carta a uma estação de TV de Wichita, Kansas. Foi um choque para a população da cidade e, principalmente, para a polícia, que acreditava que ele estava morto, ou quem sabe havia deixado a cidade ou estivesse apodrecendo na cadeia por algum outro crime cometido. Ninguém suspeitava que ele, ainda, pudesse estar na ativa. O pior pesadelo de Wichita estava de volta.

Em 2004, a força-tarefa dos Caça-Fantasmas não existia mais, mas Ken Landwehr, que fez parte do grupo, era agora o chefe da homicídios. Por 30 anos BTK sugou a alma de Landwehr e agora o demônio aparecera novamente. Aquilo só podia ser brincadeira. E de mau gosto.

Há milhares de quilômetros de distância, o agente do FBI aposentado e lenda do perfil criminal John Douglas recebia um telefonema.

“Ele está de volta,” disse um amigo do FBI. “Quem está de volta?” perguntou Douglas.

“O seu cara desconhecido de Wichita.”

“BTK?”

“Isso aí.”

“Mais corpos?”

“Não, apenas uma carta para uma emissora de TV com a xerox de fotografias que ele deve ter tirado das cenas dos crimes…”.

Douglas ficou louco com a informação, principalmente porque ele estava aposentado e não poderia trabalhar novamente no caso. Mas, sem saber, Douglas estava ajudando, e muito, os detetives de Wichita.

A homicídios estava um caos e Landwehr decidiu seguir as recomendações de Douglas feitas em 1984, logo após o agente se recuperar do seu burnout. Vinte anos antes, Douglas sugeriu que o investigador-chefe do caso criasse um vínculo com BTK, dessa forma, o psicopata se sentiria respeitado, o que alimentaria o seu ego. Um jogo de gato e rato se seguiria e, no final, BTK poderia baixar a guarda e cometer um erro, ou quem sabe se entregar.

Landwehr, então, começou a aparecer na televisão. Foram 22 coletivas de imprensa ao vivo. Landwehr sabia que em algum lugar lá fora, o homem que ele caçava o estava assistindo, observando cada movimento seu, revirando os olhos e escutando atentamente cada palavra. BTK, agora, sabia quem era o homem que o caçava e esse homem tinha respeito por ele.

Teria a estratégia dado certo?

Quando o celular de Ray Lundin tocou, ele sabia que poderia ser uma bomba. Investigador do estado do Kansas, Lundin fazia parte da força-tarefa criada para capturar o sinistro serial killer conhecido como BTK, que ressurgira do inferno em 2004 após 20 anos adormecido.

O nome que apareceu no visor do seu celular era o de Sindy Schueler, supervisor do laboratório forense do estado do Kansas.

“Estou tremendo”, disse Schueler. “O que conseguiu?,” perguntou Lundin.

“Eu te digo uma coisa, ESSA GAROTA É FILHA DO BTK!”

Lundin ficou mudo.

A garota citada por Schueler era Kerri Rader, uma estudante da Universidade Estadual do Kansas. Mas como os detetives conseguiram chegar até a filha do medonho BTK?

O ERRO FATAL DE BTK


A aberração queria atenção, por isso começou a enviar cartas e mensagens aos jornais em 2004. A polícia entendeu qual era a sua fraqueza e aproveitou a oportunidade: o negócio era alimentar o ego dele até o famigerado assassino cometer um erro.

Em fevereiro de 2005, um envelope chegou até os estúdios da KAKE-TV. A emissora sabia que aquilo era coisa do BTK e entregou para a polícia. Dentro, dentre outras coisas, havia um disquete roxo. Imediatamente, Randy Stone, perito de informática da polícia, começou a analisar a mídia. O departamento inteiro ficou atrás do perito vendo ele mexer na coisa.

Só havia um arquivo gravado — “TestA.rtf”. Ao abrir, uma mensagem escrita por BTK podia ser lida. Verificando as propriedades do arquivo, Stone descobriu que o criador do arquivo se chamava “Dennis” e o dono do computador era alguém da Igreja Luterana de Cristo. Uma pesquisa rápida no Google informou que havia um Dennis Rader em Wichita e o cara era o presidente da igreja.

O amadorismo com computadores entregou BTK.

Mas os investigadores precisavam de mais, então, descobriram sobre a filha dele e secretamente conseguiram o seu DNA e compararam com o DNA extraído do sêmen das cenas dos crimes.

Foi um match perfeito.

“Nunca vi nada parecido. Absolutamente calmo, frio. Foi assustador,” comentou Lundin sobre o momento da prisão de Rader.

A sociedade, entretanto, não estava preparada para ver o MAL e escutar o que ele tinha a dizer.


Há 47 anos, o adolescente Charlie Otero voltou para casa após mais um dia na escola. Ao chegar, estranhou o silêncio. “Tem alguém aí?” gritou. Nem mesmo o cão da família latiu. Apreensivo, ele caminhou até o quarto dos pais. E o que Charlie viu lá dentro, assim como em outros cômodos da sua casa, até hoje é mostrado e estudado em aulas de criminologia e psicologia forense.

Seu pai Joseph estava deitado de bruços no chão, com os pulsos e tornozelos amarrados. Já sua mãe Julie jazia deitada na cama amarrada de forma semelhante. Seu irmão mais novo, Joseph II, estava deitado ao lado de sua cama; pulsos e tornozelos amarrados, e com três capuzes cobrindo a cabeça.

No porão, a irmã de Charlie, Josephine, de 11 anos, estava pendurada em um cano pelo pescoço. Ela estava parcialmente nua, vestindo apenas camiseta e meias.

A execução da família Otero causou repulsa e assustou Wichita, Kansas. Ninguém naquela cidade havia visto algo pervertido como aquilo. Havia sêmen por todo local, o que fez a polícia concluir que o assassino se masturbou pela casa e em cima das vítimas.

Ninguém sabia, mas os membros da família Otero foram as primeiras vítimas do sinistro BTK e esta chacina mostra o quão maligno era este psicopata.

Aquele 15 de janeiro de 1974 marcou para sempre a cidade de Wichita. A partir deste dia, os moradores tiveram que conviver com a ideia de que havia entre eles um serial killer metódico, organizado e que planejava brilhantemente cada etapa dos seus assassinatos, num timing perfeito, sendo capaz — como no caso da família Otero — de dominar um grupo de pessoas jovens e com plena capacidade de defesa. Não à toa ele só seria pego 31 anos depois.

“A forma como os membros da família foram mortos indica um fetiche por parte do agressor”, comentou na época o investigador Floyd Hannon.

O quão fetichista ele era? BTK era um fetichista bondage e gostava de usar as roupas íntimas de suas vítimas do sexo feminino. Ele se amarrava e tirava fotos de si mesmo em vários ambientes, usando máscaras, meias-calças. Selfie fotos não é um fenômeno da geração Internet.

Delatado pelo próprio ego e por um disquete roxo, BTK chocaria ainda muito mais.

Kimmie Comer queria um lugar tranquilo para criar os filhos e escolheu a pacata Park City, no subúrbio de Wichita, no Kansas. Mal ela sabia que sua vida se transformaria num inferno poucas horas após botar os pés na cidade.

Ela descarregava sua mudança quando foi abordada por um fiscal de rua que trabalhava para a prefeitura. “Você não pode deixar isso aqui,” disse o fiscal sobre a máquina de lavar. Kimmie acabara de descarregar suas coisas e as estava colocando dentro da casa. O cara era louco? Era. E Kimmie percebeu que não adiantava argumentar.

Nos meses seguintes, o mesmo fiscal passou a rondar a casa da mulher. Ela chegava do trabalho e lá estava ele parado dentro do seu carro. Quando ela o avistava, ele ia embora. Uma vez, seus filhos chegaram em casa e contaram que um simpático homem lhes ofereceu carona. “É o homem que sempre fica em frente a nossa casa mãe,” disse a menina. Após um tempo, ficou claro para Kimmie que o homem sabia de toda a sua rotina. Às vezes, ela o pegava medindo a sua grama com uma fita.

Não demorou e Kimmie começou a sentir falta de objetos pessoais; fotografias, calcinhas e sutiãs. Ela nunca entendeu o sumiço de tais coisas, mas o pior foi uma noite em que ela deixou o seu cão idoso acorrentado no jardim. No dia seguinte ele não estava mais lá.

Em outra ocasião, ela recebeu o telefonema de um vizinho informando sobre “um cara velho em um uniforme marrom que dizia ser policial”; o tal cara queria falar com ela. Quando Kimmie chegou não havia ninguém. Ela foi para a cozinha, abriu a geladeira e, quando virou, lá estava o estranho fiscal com a cabeça enfiada na janela, a espiando.

Então, numa tarde após voltar do trabalho, Kimmie assistia à TV quando, de repente, olhou para o lado e lá estava o fiscal, dentro da sua casa, em pé, olhando para ela. Como ele entrou ela não sabe. Kimmie não acreditou no que viu. “Seu velho pervertido! Por quê você não deixa a mim e a minha família em paz? Você é apenas a merda de um apanhador de cães!” ela gritou. O homem não esboçou qualquer reação; apenas se virou e foi embora.

Semanas depois, Kimmie viu o fiscal na TV. Ele era o BTK e Kimmie o seu próximo “projeto”.

“Ainda não está claro porque o estrangulador BTK de Wichita escolheu ressurgir após 25 anos de silêncio”, escreveu Rick Thames, um jornalista do Kansas, um dia após a prisão que sacudiu o estado.

BTK era Dennis Rader, um homem de 59 anos e pai de dois filhos. Nos últimos 33 anos ele foi casado com a mesma mulher e morou na mesma casa em Park City, nos arredores de Wichita; foi líder escoteiro e presidente da sua igreja. Ele também tinha alguma autoridade quando vestia um uniforme marrom da prefeitura que o fazia parecer uma mistura de guarda florestal e policial. Sua função principal era lidar com animais de rua e fiscalizar os domésticos, e ele aproveitou o pseudo poder para atormentar os moradores da cidade aplicando multas por infrações ridículas — como a altura da grama. Seu uniforme aflorava traços marcantes da sua personalidade: o senso de grandiosidade, controle e perseguição.

Na época acreditava-se que ele não matava há 25 anos e seu ressurgimento pegou todos de surpresa. Rader tinha o ego lá em cima e achou que estava na hora de todos temerem BTK novamente. O medo das pessoas o alimentava. Observar todo o aparato do estado sendo direcionado para investigá-lo lhe dava uma satisfação incrível.

Rader era invisível na sociedade e seus crimes fizeram dele alguém. Ele aprendeu com David Berkowitz. Berkowitz se tornou uma estrela do crime com seus assassinatos em Nova Iorque. O problema para Rader era que Wichita estava longe de ser Nova Iorque, por isso, ninguém no país deu bola para seus crimes. Apesar de considerar Berkowitz abaixo de si na escala dos serial killers, ele teve que se contentar com o anonimato. Mas isso mudou quando Rader começou a enviar cartas para jornais e a polícia.

Em 2004, parecia que todos haviam esquecido dele, então Dennis resolveu tentar a sociedade novamente. Seria a última vez.

Quatro meses após sua prisão, o mundo ficou chocado quando o senhor de 60 anos detalhou, como se estivesse num almoço de domingo, como selecionava, perseguia e matava suas vítimas. Elas eram seus “projetos” e foram mortas, exclusivamente, por gratificação sexual.

Hoje não há dúvidas: Dennis Rader é o mal personificado.

Dennis Rader tinha 28 anos quando chacinou a família Otero e 59 quando foi preso. Nesse intervalo de 31 anos ele matou mais seis pessoas, totalizando 10 vítimas. Quando comparamos este número a outros serial killers, notamos que (felizmente) o número de vítimas é baixo.

Vamos comparar Rader a outros serial killers de seu país. Em 13 anos, Jeffrey Dahmer matou 17 pessoas. Já John Gacy, em apenas 6, matou 33. Richard Ramirez, em menos de 1 ano e meio, matou mais de 10 pessoas. Já Rader, em mais de três décadas, “só” matou 10.

Serial killers comumente matam para satisfazer uma necessidade psicológica e Rader foi capaz de encontrar maneiras de suprir a sua sem ter que matar, e isso o torna especial. Graças às suas técnicas de autogratificação bondage, poucas pessoas morreram. Mas não foi só isso.

Em 1978, sua esposa Paula o flagrou com uma corda no pescoço pendurado na porta em frente ao espelho do banheiro. Rader vestia um vestido, provavelmente roubado de alguma mulher. O flagrante foi a maior humilhação da sua vida, confessou Rader mais tarde. Ele, então, teve que pisar no freio.

Seu caso lembra o de outro assassino pervertido: o japonês Issei Sagawa. Chamado de “demente” e “incurável”, Sagawa era um indivíduo com várias parafilias. Em 1981, ele assassinou uma colega de faculdade para satisfazer seus desejos necrófilos e canibais. Sagawa ficou pouco mais de um ano preso e foi solto. Este “Jeffrey Dahmer” japonês poderia continuar matando, mas foi capaz de se manter longe de problemas ao adotar técnicas de autogratificação: desenhos macabros, golden shower, pornografia pesada. Tudo isso lhe dava orgasmos prazerosos.

Comentando para um texto do OAV Crime em 2013, o psiquiatra forense Leandro Gavinier disse que: “Disciplina e estratégias de compensação, elaboradas por Sagawa, não são qualidades que encontramos nos pervertidos sexuais habituais, o que faz deste caso especialíssimo”.

Da mesma forma é Rader. Mas existe uma diferença gritante: enquanto Sagawa foi flagrado em seu primeiro assassinato, Rader foi flagrado pela esposa. O segundo não foi exposto ao mundo, então era questão de tempo até o cronômetro da bomba-relógio zerar novamente.

O grande momento chegou em maio de 2006. De um lado estava um dos mais bizarros assassinos em série do século. Do outro, um dos mais brilhantes psicólogos criminais do nosso tempo. Aos 61 anos, e com muito custo, o já aposentado John Douglas conseguiu algumas horas frente a frente com Dennis Rader, o BTK.

“Você tem duas horas e meia” disse o agente penitenciário a Douglas. Uma mulher que estava ao seu lado, visitando um presidiário, não gostou do que ouviu. “Isso não é justo. Por que ele tem duas horas e meia e eu só uma?” Sem pestanejar, Douglas interveio e disse secamente: “Eu esperei 30 anos para falar com este cara”. A mulher ficou muda.

Rader conhecia Douglas. Um de seus livros favoritos era “Obsession”, escrito pelo profiler em 1998. O primeiro capítulo da obra era todo dedicado ao então desconhecido BTK. Rader ficou fascinado com os insights do profiler e tinha todos os seus livros. Disse ele a Douglas:

“Eu sei sobre você. Eu sei o que você pensa de mim. Você não gosta de caras como eu. Você acha que todos nós [serial killers] fazemos escolhas, então temos responsabilidade por nossas ações. Você disse que eu mereço a pena de morte. Era tudo psicológico. Tudo era baseado em uma fantasia de bondage. Eu não era sádico. Sexo nunca foi parte da minha fantasia. Eu queria poder. Acho que era isso o que eu realmente procurava”.

Douglas escutou e forneceu a sua visão: “Você nunca se interessou por cometer agressões sexuais. Seria como trair a Paula. O que você queria era se masturbar enquanto olhava para a cena do crime que criou”. Rader ficou em silêncio, então comentou: “Sabe, se há um serial killer que eu me identifico, é Harvey Glatman, mas eu sou um pouco diferente. Ele não se comunicava com a polícia, não tinha esposa, família e todas essas obrigações sociais”. A fala abriu novos portais a Douglas. O profiler sabia que Rader gostava de se comparar a outros serial killers e da sua adoração por David Berkowitz.

“Uma vez eu mencionei o seu caso para convencer Berkowitz a falar comigo”, disse Douglas. Os olhos de Rader brilharam. Se tinha uma coisa que ele gostava de conversar era sobre serial killers e Douglas foi no ponto.

“Você me usou para ter Berkowitz? Quando foi isso? Que ano?” perguntou Rader. “1981” respondeu Douglas. Rader continuou: “Sabe, Berkowitz também era diferente de mim. Como você escreveu em um dos seus livros, os crimes dele eram impessoais… Eles tem aqui [prisão] outro serial killer chamado John Robinson”.

“Eu sei tudo sobre Robinson. Eu escrevi um livro sobre ele”, comentou Douglas. “Escreveu? Nunca vi esse” exclamou Rader. “Ninguém viu. Ninguém quer ler sobre Robinson” brincou Douglas.

Rader continuou: “Ele era como eu devido à toda aquela coisa bondage. Mas ele tinha toda aquela disciplina e aquelas coisas masoquistas que eu não tinha. Ele era mais sofisticado do que eu ao escolher vítimas. Ele usou a Internet para atraí-las, eu achei as minhas à moda antiga. Eu entrava no meu carro e começava a dirigir. Eu amava dirigir por aí escutando música clássica, procurando por projetos nas áreas em que eu me sentia confortável”.

PERFIL


A primeira vez que Douglas escreveu sobre Dennis Rader foi em 1979. O perfil que ele criou batia em vários pontos, mas Douglas errou em outros. Na entrevista ficou claro o quanto Rader era delirante, atribuindo a si mesmo um papel de grandiosidade e importância inexistentes; era ao mesmo tempo inteligente e ingênuo, tinha o seu próprio código de ética distorcido e mentiu algumas vezes. Ele não matou animais na infância. Mentira. Ele nunca tentou asfixia autoerótica. Mentira.

Dennis procurava por mulheres sozinhas. Elas podiam ser de qualquer idade. O importante era que ele pudesse amarrá-las e vesti-las exatamente como na sua fantasia. Ele não se importava com suas aparências, pois uma vez mortas, elas se tornavam entidades virtuais existentes apenas em sua mente, local onde ele poderia agredi-las sexualmente vez ou outra, embelezando os detalhes do crime ou suas características físicas da forma como sua fantasia exigisse.

“O problema é que eles se parecem conosco e, até certo ponto, podem agir como nós. Poucas pessoas têm o vislumbre da personalidade assassina deles. Os poucos que veem raramente vivem para contar a alguém”.

Para John Douglas, após 30 anos, BTK agora era um caso encerrado.

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Por:


Daniel Cruz
Texto

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