

Na foto: Imagem apresentada como evidência ontem durante o julgamento de Luka Magnotta. Créditos: THE CANADIAN PRESS/HO ORG XMIT: RYR113 ORG XMIT: POS1409301525108162
“Se você não gosta do reflexo, não olhe no espelho.”
Essas foram as palavras rabiscadas com marcador vermelho na parede dentro de um armário do apartamento de Luka Magnotta. O mesmo apartamento onde ele cruelmente assassinou o estudante chinês Lin Jun.
Mas Magnotta era um escravo dos espelhos. Tudo o que ele queria era viver sua própria imagem: o rosto belo, a boca fazendo biquinho, as poses de galã, a sombrancelha arqueada, o olhar sedutor.
Metaforicamente ele vivia numa casa de espelhos que refletia sua própria criação artificial.
“Eu não me importo”, continua o epigrama na parede.
Magnotta, que admitiu – mas declarou-se inocente – do assassinato e desmembramento do estudante chinês Lin Jun, pode ou não ser “criminalmente responsável”, como afirma seu advogado; pode ou não ter algum problema na cabeça, entretanto, o que parece indiscutível neste caso é o fato dele ser um jovem de vaidade extrema, um narcisista ambulante.
As invenções de sua imaginação foram obliquamente retratadas no tribunal ontem, terça-feira, 30 de Setembro. As notas bizarras escritas em papel fúcsia que ele pregou nos sacos contendo pedaços do corpo de Lin Jun são um exemplo de até onde sua loucura chegou.
O escritório do Partido Conservador em Ottawa recebeu um desses sacos. Dentro, um pé humano com a observação: “Stephen Harper e Lauren Tesky (sic) sabem quem é este. Eles estão fodendo com o grande momento.” (Lauren Teskey é o nome de solteira da esposa do primeiro ministro canadense).
Já o escritório do Partido Liberal recebeu uma mão humana e a observação: “Vocês precisam conversar com Lauren Tesky e sua família!”
Um pacote endereçado a uma mulher na Escola St. George, em Vancouver, continha o outro pé de Lin Jun e a nota: “Morra puta! Em Breve.”
Para outra escola de Vancouver, a False Creek Elementary, Magnotta enviou a outra mão; a nota dizia: “As rosas são vermelhas, violetas são azuis, a polícia irá precisar de registros dentários para identificar você. Puta.”

Na foto: O bilhete escrito por Luka Magnotta e apresentado ontem, 30 de Setembro, durante o seu julgamento. Créditos: THE CANADIAN PRESS/HO.
A verdadeira puta, alguns sugerem, é o agora homem de 32 anos, gordo e com um bigode ralo: Luka Rocco Magnotta; Eric Newman, nome de nascimento.
Na última segunda-feira iniciou-se o aguardado julgamento do ex-modelo. Ele enfrenta cinco acusações, incluindo assassinato em primeiro grau e indignidades contra um corpo. Em Maio de 2012, Magnotta assassinou Lin Jun, 32, e filmou o ato, disponibilizando o terrível vídeo na internet.
Ontem, Terça-Feira, 1 de Outubro, dezenas de fotos foram mostradas para os jurados, a maioria do apartamento de Magnotta. A fotógrafa forense Chantal Turmel levou o júri a um bizarro tour virtual pelo apartamento ao mostrar as fotos.
Segundo reportagens de jornais canadenses, à primeira vista, as fotos mostram um apartamento limpo. Mas uma inspeção mais detalhada mostra toda a libertinagem escondida sob a aparente normalidade: manchas de sangue na pia do banheiro, nas paredes, na mesa de jantar, na cortina do chuveiro, num colchão, numa frigideira. O colchão é onde Magnotta assassinou Lin. Muitos dos leitores do blog já devem ter visto o vídeo do assassinato – que a propósito deverá ser visto pelos jurados nos próximos dias -, onde a vítima é amarrada na cama e repetidamente esfaqueada.

Na foto: O colchão onde Lin jun foi assassinado. Imagem foi mostrada ontem durante o julgamento de Luka Magnotta. Créditos: THE CANADIAN PRESS/HO ORG XMIT: RYR111
“Tinha algum cheiro particular?”, perguntou o promotor Louis Bouthillier à fotógrafa da polícia. “Quando nós removemos o colchão, havia um cheiro podre.”.
A promotoria, nesses dois dias iniciais de julgamento, argumentou que Magnotta entendeu perfeitamente o que ele estava fazendo – em um contexto legal, estava com a mente sã – e evidências encontradas corroboram que ele tomou medidas para ocultar o crime e fugir, como limpar a si mesmo e assumir uma nova identidade para fugir do Canadá para a França e depois Alemanha.
Em seu testemunho, Turmel disse que ao chegar no apartamento com suas câmeras nas primeiras horas da manhã do dia 30 de Maio já sabia da existência do vídeo. Por isso, sentiu falta do poster do filme Casablanca, que no vídeo pode ser visto pregado na parede acima da cama. Outra coisa que ela sentiu falta foi de uma garrafa de vinho vazia que foi usada para sodomizar Lin.
Turmel disse, então, que foi instruída por outros policiais a vasculhar o lixo do prédio e um caminhão de lixo. Lá, ela encontrou o poster e a garrafa de vinho juntamente com uma camiseta amarela, a mesma que Lin posou para uma foto postada em seu perfil no Facebook.
Turmel foi seguida no banco das testemunhas pelo investigador de homicídios Richard Dionne. Foi Dionne quem encontrou a cabeça decomposta da vítima em um parque de Montreal. Seu testemunho foi, até agora, o mais horripilante do julgamento (e olha que estamos apenas no segundo dia). Ele disse como encontrou pedaços do couro cabeludo da vítima ainda coberto por uma prasta de cabelos misturada com carne em decomposição.
Por razões ainda desconhecidas por especialistas do Direito, o advogado de defesa Luc Leclair passou toda a terça-feira debruçado sobre as dezenas de artigos recuperados da cena do crime, assim como apoiando a exposição das fotos. Talvez o advogado queira chocar o júri e alegar que tal barbárie só poderia ter sido feita por alguém sofredor de algum tipo de doença mental.

Na foto: Policiais chegam para o julgamento com caixas contendo centenas de evidências do assassinato de Lin Jun. Créditos: RYAN REMIORZ / THE CANADIAN PRESS.
Ao lado de grandes caixas de papelão contendo os itens da morte, Leclair pegava um e apresentava aos jurados.
“Aqui está duas cuecas pretas.”
“Aqui está um martelo.”
“Aqui está uma faca.”
“Aqui está uma chave de fenda.”
“Aqui está um serrote circular.”

Na foto: Evidências mostradas ontem durante o julgamento de Luka Magnotta. Créditos: THE CANADIAN PRESS/HO ORG XMIT: RYR107

Na foto: Imagem mostrada ontem como evidência durante o julgamento de Luka Magnotta. Créditos: THE CANADIAN PRESS/HO ORG XMIT: RYR110.
A jornalista do Montreal Gazette, Montgomery Sue, está acompanhando o julgamento e tuitando em tempo real. Veja abaixo alguns de seus tuítes a respeito do terceiro dia de julgamento:
Feng Lin is the next witness. He was Lin Jun’s lover #Magnotta
— suemontgomery (@MontgomerySue) 1 outubro 2014
“A próxima testemunha é Feng Lin. Ele era amante de Lin Jun.”
“Eles se conheceram em 2009 e no Natal de 2010 Lin Jun foi para Montreal. Eles se tornaram amantes desde então.”
“Feng Lin veio para Montreal para viver com Lin Jun, [morando os dois] acima de uma loja de conveniência.”
“Feng Lin viajou para a China em 13 de Maio de 2012 para passar o verão. Mas voltou quando Lin Jun foi morto.”
“Quando Feng Lin viajou para a China, os dois homens estavam pensando em ser apenas amigos, não amantes.”
“Lin Jun estava recebendo pressão de sua família para começar um relacionamento com uma mulher e casar. Eles não sabiam que ele era gay.”
“‘Você assistia filmes pornográficos?’, pergunta o promotor. ‘De vez em quando sim, mas não era meu interesse. Nem de Lin Jun’, responde Feng.”
“Feng Lin enviou várias mensagens após o dia 25 de Maio, nenhuma foi aberta ou lida [por Lin Jun]. Ele entrou em contato com amigos para procurá-lo.”
“O amigo que começou a procurar por Lin foi Benjamin.”
“Feng Lin estava de férias em Bangkok quando entrou em contato com Benjamin em 28 de Maio e pediu para ele procurar por Lin Jun.”
“Após chegar em Montreal, Feng Lin assistiu ao começo do vídeo.”
“‘Após assistir ao começo do vídeo, eu conclui que não era Lin Jun e chamei a polícia. Vi apenas um homem amarrado à cama.'”
Lin Jun’s lover continuing testimony. Says he went on Grindr site for meeting homosexuals
— suemontgomery (@MontgomerySue) 1 outubro 2014
“Feng Lin diz que ele acessou o site Grindr para encontros homossexuais.” [O tuíte não deixa claro se quem acessou o site foi Feng ou Lin Jun].
“Leclair diz a Feng que ele sente muito pelo que houve com seu amigo, mas que o julgamento não é sobre ele.”
“O julgamento é sobre o estado de saúde mental do Sr. Magnotta, e por isso ele está fazendo perguntas sobre Lin Jun.”
“‘Eu não acredito que estou ouvindo isso’, diz o promotor. ‘Advogado supostamente faz perguntas, não comentários’.”
“‘Você sabia que Lin Jun foi casado e divorciou-se?’, ‘Sim’, ‘Conheceu os pais dele?’, ‘Sim.'”
“Feng Ling conheceu os pais de Lin Jun em Pequim, mas eles não sabiam que eles eram um casal gay.”
“Os pais de Feng Lin conheceram Lin Jun e aceitaram o fato deles serem um casal gay. Eles estavam apaixonados.”
“Feng Lin era gerente de software em Shenzhen e deu suporte a Lin Jun em Montreal.”
Lin Jun adopted the name Justin because he loved a song called Rain, Feng Lin said
— suemontgomery (@MontgomerySue) 1 outubro 2014
“‘Lin Jun adotou o nome Justin porque ele adorava uma música chamada Rain,’ diz Feng Lin.”
“‘Lin Jun (Justin) foi até o bar Sky [bar gay]?’, ‘Durante o período que eu estava com ele com certeza, com certeza ele foi.'”
“‘Sugiro a você que Justin tomou enema de café’. Tradutor não entende. ‘Pessoas que tem constipação [intestinal]‘, diz Leclair. Ah!!”
“‘Justin fez em si mesmo enema de café?’, ‘Sim’, diz Feng Lin. ‘Você ficaria surpreso se ele fizesse isso para fazer sexo com outro companheiro?’, pergunta Leclair.”
“‘Não era para relações sexuais, era por sua saúde’, diz a testemunha.”
“‘Por que vocês terminaram?’, ‘Ele estava enfrentando pressão da família e tentando conhecer alguma garota’, diz a testemunha.”
Leclair says witness not telling truth. that’s not reason you broke up, it was because you were controlling, leclair says. absolutely not
— suemontgomery (@MontgomerySue) 1 outubro 2014
“Leclair diz que a testemunha está mentindo. ‘Não é esta a razão, é porque você é controlador’, diz Leclair. ‘De jeito nenhum’.”
“‘Você se lembra de dizer que Lin Jun era atraído por estrelas, que ele queria ir para Hollywood?’, pergunta Leclair.”
“‘E que faria sentido que ele se tornasse uma estrela do pornô. Lembra-se de dizer isso?’, pergunta Leclair.”
“‘Não a coisa de ser um ator pornô, mas a coisa de Hollywood sim’, diz Feng Lin.”
“A testemunha foi liberada e ouviu do juiz que tenha uma boa viagem para casa. Isso é tudo do Dia 3. Voltamos amanhã.”
Continuaremos a acompanhar o julgamento de Luka Magnotta. Para não perder nenhum detalhe siga-nos no Facebook e Twitter.
- A história completa de Luka Magnotta pode ser lida no post 1 Lunático 1 Picador de Gelo.
- Tudo sobre Luka Magnotta e seu julgamento: Clique aqui.
Com informações: [1] Photos, exhibits paint grisly picture in Magnotta murder trial: DiManno – The Star; [2] Christie Blatchford: Packages of reeking body parts Luka Magnotta mailed across the country not the worst of it – National Post.
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