Marden: professor, enganador e agressor sexual

Uma garota linda, no auge de sua beleza esculpida em apenas 17 anos de vida. Um corpo escultural, olhos verdes, longos cabelos negros… Esse certamente é o perfil de...
Marden - Professor, enganador e estuprador - Foto

Marden - Professor, enganador e agressor sexual

Uma garota linda, no auge de sua beleza esculpida em apenas 17 anos de vida. Um corpo escultural, olhos verdes, longos cabelos negros… Esse certamente é o perfil de centenas de milhares de jovens mulheres mundo afora. É um tipo de perfil que chama a atenção dos homens.

Mas como vocês sabem, não vivemos num conto de fadas; não vivemos num mundo onde a bondade é encontrada facilmente na esquina, portanto, quando essas mulheres andam pelas ruas, elas imediatamente não chamam apenas a atenção de homens de boa índole, mas também de maníacos sexuais, homens cujos olhos enxergam tais mulheres como presas, presas a serem caçadas e abatidas.

Como um exemplo posso citar o caso da adolescente Juliana da Silva Coimbra. Bonita, jovem em seus 16 anos e de corpo exuberante, ela nunca percebeu que, todos os dias, ao sair de madrugada para pegar o ônibus e ir ao trabalho, um homem a espreitava. Ela desapareceu em dezembro de 2012 e seu corpo foi encontrado dias depois em adiantado estado de decomposição. Ela se encontrava seminua em um chiqueiro desativado de uma chácara perto de onde morava. Sua bermuda estava sobre a nuca e ela fora estrangulada com seu próprio cinto.

É bem verdade que a maioria dos maníacos sexuais não mata suas vítimas. Eles fazem o que fazem e deixam a vítima ir embora. Um exemplo é Clemilton Martins de Carvalho, de 39 anos. Clemilton é responsável por um dos mais significativos casos de estupros em série do Brasil nos últimos anos. Ex-policial militar, Clemilton entendia muito bem de técnicas de investigação, daí ele ser tão eficiente em sua carreira de estupros. Expulso da PM de Goiás em 2007 por corrupção, Clemilton tinha outra face além da de corrupto.

Ele gostava de se “aliviar” com mulheres bonitas. O estuprador em série agia em bares e academias de ginástica frequentadas por mulheres de poder aquisitivo alto. Quando estas mulheres saíam sozinhas destes lugares no final da tarde ou noite, ele as atacava. E detalhe: ele só abordava se fossem duas ou três mulheres, normalmente amigas que voltavam para casa após a malhação ou noitada no bar. Levava-as para estradas vicinais onde consumava o estupro e após o ato as devolvia para a o mesmo lugar de onde as havia capturado.

“Ele é tão maldoso e violento que chegava a obrigar as vítimas a beber a urina dele depois de fazer sexo oral. Ele sentia prazer em ver o sofrimento das mulheres, que muitas vezes eram obrigadas a fazer carícias uma nas outras. Ele é um monstro”

[Carla Fernandes, Delegada de Polícia]

Segundo um pioneiro estudo do FBI sobre estupradores em série, existem três tipos de abordagens usadas por estes tipos de criminosos. Abordagem Surpresa, onde o criminoso ataca a vítima no momento em que ela está sozinha – aqui se pressupõe que o estuprador pré-seleciona sua vítima através de observações do seu dia-a-dia. O estuprador e assassino de Juliana da Silva Coimbra encaixa-se aqui. A segunda abordagem é a do tipo Blitz. Em uma abordagem blitz, o estuprador usa diretamente a agressão física, ferindo a vítima. Ele não pré-seleciona a vítima e ela só é atacada por estar no lugar errado na hora errada. Clemilton, apesar de não usar de agressão física (ele usava uma arma para colocar as vítimas dentro do carro – muitos podem sugerir que uma arma apontada para a cabeça de alguém é sim uma agressão física) pode ser encaixado neste tipo de abordagem.

O terceiro tipo de abordagem é a Enganação. E este é o método usado por Marden César Marques Dias de Matos, de 50 anos, preso recentemente pelo estupro de uma adolescente de 17.

Marden - Professor, enganador e estuprador - Patinacao

Marden (até a semana passada) era presidente da Associação Goianiense de Patinação, uma sociedade de caráter civil sem fins lucrativos, fundada em Agosto de 2010. O perfil da Associação no Facebook diz que o objetivo é tirar as crianças da rua proporcionando a elas um mundo melhor. No “Mundo Mágico da Patinação Artística”, elas aprendem técnicas de patinação e disciplina, onde são cobrados horários, vestimentas e comportamento ético.

Mas ética é uma palavra que não existe na mente de um agressor sexual, e Marden usava do método da Enganação para abusar de suas vítimas.

Em um dia de outubro/novembro de 2013. Marden viu na rua uma linda adolescente de 17 anos, a mesma que eu descrevi no início do texto: corpo escultural, olhos verdes, cabelos longos… “Você nunca teve interesse por patinação artística? Você é perfeita para o que eu estou procurando”, disse ele.

A garota pegou o cartão de Marden e tempos depois ligou para ele. Ela queria ser a nova “musa da patinação”. O que ela não sabia era que esse era o método de Marden: enganar adolescentes a partir dos 13 anos dizendo que elas seriam as novas estrelas do mundo da patinação. A jovens bonitas como ela, Marden não cobrava nenhum centavo pelas aulas.

Já na primeira aula a garota percebeu qual era a intenção do predador sexual. “Eu caía no chão e ele me ajudava a me reerguer de uma forma estranha, meio me aproximando ao corpo dele”, disse a menor, que não teve o nome divulgado.

“É normal durante as aulas tanto o professor quanto as alunas ficarem excitados”, diria Marden mais tarde à delegada do caso.

A garota mal sabia se equilibrar sobre os patins, mas Marden disse já ter uma apresentação agendada, e que precisava tirar suas medidas para confeccionar uma fantasia. O professor de patinação forçou-a a tirar as roupas. Tirou sua calcinha e tocou e beijou suas partes íntimas. Segundo ele, a virgindade atrapalharia o processo de formação de uma musa. Não chegou a haver conjunção carnal e a todo momento Marden a advertia dizendo que o fato não poderia ser contado aos pais dela porque tudo fazia parte do “mundo mágico da patinação”; eles não entenderiam.

Os pais da garota entenderam muito bem.

E a grande surpresa desse caso vem agora. Quando a mãe da vítima foi até a delegacia com sua filha para reconhecer Marden, ela levou um susto. A mãe da garota não teve dúvidas: era o mesmo homem que vinte anos antes, exatamente quando ela tinha 17 anos, a mesma idade da filha agora, tentou ludibriá-la para tirar fotos “artísticas”, leia-se “nuas”. Neste caso o raio caiu duas vezes, e no mesmo lugar.

Em sua casa a polícia encontrou dezenas de CD’s e DVD’s contendo fotos de adolescentes nuas. Um HD externo também estava repleto de fotos de mulheres. Marden havia sido processado anteriormente por divulgação de material pornográfico na internet e após a aparição de seu rosto na TV várias outras mulheres apareceram na delegacia para denunciá-lo. Segundo a delegada, a maioria das denúncias vem de mulheres cujos abusos ocorreram há mais de vinte anos.

Olhando para Marden, vemos métodos clássicos de abordagem e aproximação utilizados por centenas de milhares de agressores sexuais mundo afora. É fato comprovado que muitos destes homens costumam se aproximar do tipo de vítimas que os excitam, entrando no mundo delas. Como? É muito comum encontrar necrófilos formados em cursos da área da saúde, como medicina e enfermagem. Por que eles escolhem esses cursos? Porque assim conseguem ficar mais perto de cadáveres. Já criminosos sexuais que tem as crianças no alvo podem escolher fazer carreira na educação, sendo educadores, líderes escoteiros… Os alvos de Marden eram adolescentes e sabemos que meninas na faixa de idade entre os 13 e os 17 anos buscam, acima de tudo, aceitação. Influenciadas pelo estereótipo midiático da mulher “gostosa”, muitas vislumbram serem reconhecidas pela beleza ao invés do intelecto. Marden sabia disso e usava isso ao seu favor. No início ele foi fotógrafo. Chegou até a trabalhar para um grande jornal do estado de Goiás. Armado de sua câmara fotográfica, ele tirava fotos não porque gostava, mas porque isso era um atalho que o permitia ver corpos femininos nus. Ele dizia a adolescentes bonitas que se elas permitissem ser fotografadas em poses sensuais, em trajes mínimos, ou nuas mesmo, ele as transformaria nas novas musas do verão. Playboy, novelas na Globo, uma carreira internacional… O céu era o limite para elas. Andava até com uma revista cuja capa supostamente era de uma moça fotografada por ele. A vaidade é um pecado capital e muitas caíram em sua lorota. Apesar de até o momento apenas sete vítimas antigas terem procurado a delegacia para denunciá-lo, é bem possível que ele tenha tentado algo contra as adolescentes fotografadas. Não há detalhes, mas não é necessário esforço mental para saber o que Marden fazia com tais fotos quando chegava em casa.

Talvez pelo contato íntimo com a vítima ser mais difícil quando se é um fotógrafo, Marden tenha decidido mudar de ramo. Ele escolheu dar aulas de patinação. A nova profissão parece óbvia: na patinação artística o contato corpo a corpo é obrigatório e o casal de patinadores, mesmo não se conhecendo, em pouco tempo pode se tornar íntimo. Que mulher jovem resiste um olho a olho? Uma pegada na cintura? Um homem mais velho e gentil ensinando-a a ser a nova musa da patinação? É a brecha pela qual anseiam muitos agressores sexuais enganadores como Marden. Pelo menos é isso o que eles pensam. Para Marden, talvez a autoridade de professor tornaria mais fácil seu trabalho de seduzir ou subjugar uma adolescente. Sem contar o fato de que tocar e esfregar seu corpo nas suas alunas seria algo, naquele ambiente, não mais do que “natural”.

Marden - professor, enganador, estuprador - Fotos

Fotos de mulheres tiradas por Marden quando ele era fotógrafo. Créditos: Facebook.

Marden - professor, enganador, estuprador - Marden e Aluna

Marden e aluna durante apresentação de patinação artística. Créditos: Facebook.

Marden - professor, enganador, estuprador - Marden e Aluna

Marden e aluna durante apresentação de patinação artística. Créditos: Facebook.

Marden - professor, enganador, estuprador - Marden e Aluna

Marden e aluna durante treinamento. Créditos: Facebook.

Marden - professor, enganador, estuprador - Marden e Aluna

Marden e aluna durante treinamento. Créditos: Facebook.

Marden - Professor, enganador e agressor sexual - Marden patinando

Marden fazendo manobras sob patins. Créditos: Facebook.

Folder retirado de um dos perfis do Facebook de Marden César convida interessados em participar de tarde de patinação. Créditos: Facebook.

Folder retirado de um dos perfis do Facebook de Marden César convida interessados em participar de tarde de patinação. Créditos: Facebook.

Voltando ao estudo do FBI, a maioria dos agressores sexuais utilizam de sua ameaçadora presença física (82-92% dos casos) e ameaças verbais (65-80% dos casos) para controlarem suas vítimas. É o caso de Marden, cuja estatura alta, idade e ameaças verbais certamente subjugavam psicologicamente jovens adolescentes ingênuas.

A grande maioria dos estupradores/agressores sexuais vivem aparentemente uma vida típica, eles escondem muito bem suas reais intenções, e isso faz com que eles passem anos despercebidos pelos que os conhecem. Eles não podem atingir satisfação sexual através do contato sexual “normal”, a única coisa que os satisfaz é uma relação predatória em que o sexo é forçado. Muitos tiveram uma experiência sexual traumática ainda na infância, sendo molestados por adultos, e quando atingem a idade adulta, vingam sua inocência tirada.

Toda violação ou abuso sexual corresponde a necessidades agressivas e não propriamente sexuais, tendo, portanto, uma motivação complexa e multideterminada, e a sexualidade é um meio utilizado para expor a raiva ou o poder, que são subjacentes às ofensas perpetradas. O estupro é um ato pseudosexual, um padrão comportamental que está relacionado com o controle, domínio e poder muito mais do que com o prazer proveniente do coito.

Marden é apenas mais um. E de homens iguais a ela as ruas estão cheias. O que podemos fazer é apenas esperar… Pelo próximo a ser preso.

Vídeo: Marden e aluna ensaiando



Fontes consultadas: The Criminal Behavior of the Serial Rapist (FBI); G1 Goiás; Jornal Opção.

Saiba mais: Reportagem G1; Reportagem TV Anhanguera.

Esta matéria teve colaboração de:

Psicóloga forense

Revisão por:

ester

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"Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz." (Platão)
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